O TRABALHO INTELECTUAL

No livro O Trabalho Intelectual de Jean Guitton, vamos encontrar uma elegante didática e ampla reflexão sobre o labor intelectual de quem se arroga a sublime arte de pensar e escrever. Não se trata de um método ou uma enumeração lógica de técnicas de como melhor produzir um conteúdo literário. Trata-se tão somente, apresentar ao caro leitor a nobreza e a labuta do pensamento superior quando transposto para a escrita. Apesar das considerações de Jean Guitton estarem voltadas para literatura, aplicam-se bem à toda uma gama de conhecimento humano. Isto faz deste estupendo livro uma significante homenagem ao saber.

Nesta obra, Jean Guitton faz da sua própria história o meio sobre o qual traçou as idas e vindas entre a caneta, o papel e o pensador. Assim, conduz o leitor pelas trilhas de suor, lágrimas, inspiração e prazer, nesta tão incompreendida labuta.

Portanto, o leitor sentirá todo o esforço laboral, físico e mental, com que o intelectual vigorosamente compartilha os seus pensamentos com quem dedica o seu precioso tempo para caminhar pelos labirintos do pensamento ao abrir um livro. Ato de pensar, que é a mais sublime das atividades humanas, que transpõe às barreiras do imaginário e desbrava, por profundas introspecções, o abstrato infinito que entrepõe-se à condição humana e aqueles que se põem a pensar a sua essência.

O exercício da nobre arte

O Trabalho Intelectual, que nas palavras do autor traduz-se em conselhos para os que estudam e para os que escrevem, nos ensinam sobre a nobre arte de aprender sem as enfadonhas pedagogias do aprendizado, repletas de regras, ordens e técnicas. A humildade do autor torna-se evidente nas linhas que compõem a sua obra; modéstia de uma alma nobre, pois é muito mais que um “conselho”.

Aqui, encontra-se o esforço num sentido poético, em que cada palavra formadora da história do autor representa toda a magnitude e esplendor do labor intelectual. A cada capítulo deste livro, mergulham-se na labuta do ser intelectual e vivenciam-se com o autor, todas as nuances do saber que denotam a nobre arte.

Esta obra, todavia, não se aplica apenas para os eruditos da literatura, mas também a todos aqueles que veem no exercício da leitura e na arte de escrever, o seu caminho, o seu trabalho. É também um convite à história do autor, que igualmente representa a história de todos nós, no mesmo esforço e dor.

Para quem já pegou um lápis e uma folha de papel em branco com uma semente na cabeça, encontrará nesta obra uma joia de alto valor. Cada capítulo se identificará com as dificuldades do autor que acima de tudo reconforta-nos nesta difícil arte das letras, e nos ensina a caminhar com a segurança e uma alegria juvenil revigorada a cada página virada, todos os desafios para preencher o papel em branco.

“O mestre instrui-nos por aquilo que nos dá. Estimula-nos por aquilo que lhe falta, e que nos induz a sermos o nosso próprio mestre interior – Jean Guitton.”

O lirismo no lugar da técnica

A técnica não perde o seu valor em Jean Guitton, pelo contrário, ela é engrandecida para o estado da arte.  Na linguagem de Jean Guitton, o trabalho intelectual é acima de tudo inspiração e transpiração que para o autor “exige duas qualidades contrárias: a luta contra a dispersão” que segundo próprio só é possível com muita concentração e “um certo desprendimento em relação a esse trabalho, pois o espírito deve alcançar a sua altura, deve ser mantido acima da sua obra”. Talvez, para Jean Guitton, a técnica esteja inserida neste contexto e nele encontre o seu significado.

Inspiração e transpiração

Os desafios para quem escreve são imensos. Muitas horas dedicadas ao labor das letras para escrever aquela linha de pensamento que muito nos exaure e muitas vezes se perde no meio das nossas dúvidas. Quantas consequências para os que nos amam, e no final, o desanimo, a vontade de parar?

Mas vem aquele lampejo revigorante, aquela fagulha que incendeia o pensamento e expandi a imaginação. Elas nos ajudam a suportar o fardo até aquele momento em que respiramos felizes porque alcançamos o inalcançável.  Procrastinou-se tantas vezes, mas, resilientes, triunfamos satisfeitos com a arte final.

(título original: Le travail intellectuel)