ILUMINISMO RADICAL

     Na extensa investigação compilada em seu livro Iluminismo Radical do eminente acadêmico Jonathan Israel, professor de destaque na Universidade de Princeton, o nascimento da modernidade é meticulosamente delineado com base nas concepções radicais e revolucionárias de dois notáveis pensadores, René Descartes e Baruch Spinoza. Através de suas influentes e perigosas contribuições, inúmeros outros intelectuais, sejam eles proeminentes ou menos conhecidos, deixaram sua marca na evolução do pensamento filosófico durante a era moderna, culminando na concepção e consolidação do secularismo. Israel caracteriza essa fase do Iluminismo como “radical” devido à sua notável adesão a uma ortodoxia de pensamento que promovia o deísmo e até mesmo o ateísmo como princípios fundamentais, opondo-se aos pensamentos preponderantes da época.

     No contexto do Iluminismo, um movimento intelectual reformista de pensamento filosófico, político e social que floresceu no século XVIII, é recorrente observar que a maioria dos acadêmicos que aborda o assunto faz menção aos nomes de Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, D’Alambert e Diderot como os proeminentes e destacados pensadores dessa influente corrente de pensamento, notadamente durante sua fase tardia, também denominada de Alto Iluminismo. De fato, esses filósofos desempenharam um papel fundamental nessa época. Entretanto, é relevante assinalar que as raízes do Iluminismo remontam ao período de aproximadamente 1630, e dois pensadores em particular são considerados precursores essenciais de todos os outros filósofos iluministas que posteriormente se destacaram no século XVIII: René Descartes e Baruch Spinoza. Eles constituíram as figuras proeminentes do que é convencionalmente chamado de “Iluminismo Primitivo”.

     O referido evento histórico, por vezes, apresenta semelhanças incontestáveis com outro notório acontecimento de caráter histórico, a saber, a Revolução Francesa. Esta analogia torna-se patente no contexto da obra “Iluminismo Radical”, uma vez que o autor omite deliberadamente qualquer referência ao crítico período da modernidade. Tal decisão do autor é plenamente justificável, pois é comum que muitos eruditos incorram no equívoco de vincular a Revolução Francesa ao movimento do Iluminismo, embora seja inegável a influência substancial da primeira sobre o último. A questão em destaque reside na percepção de que esses acadêmicos, em sua maioria, tendem a obscurecer as facetas mais sombrias da Revolução, camuflando-as sob o brilho das ideias iluministas que permearam intensamente o século XVIII. No entanto, é salutar ressaltar que a intenção deste texto não consiste em abordar essa temática complexa, mas sim em contribuir para a divulgação pública desta monumental obra.

     Em nossa análise, o livro intitulado Iluminismo Radical representa uma pesquisa abrangente acerca de um período frequentemente negligenciado na história da Era das Luzes. Com mais de 780 páginas dedicadas à investigação da evolução do Iluminismo primordial, abrangendo o período de 1650 a 1750, esta obra notável se destaca por sua profunda análise dos acontecimentos de suma importância para a compreensão mais ampla deste relevante movimento intelectual. Para além disso, oferece um estudo minucioso sobre o papel desempenhado por Descartes e Spinoza na gestação das ideias iluministas, ao mesmo tempo que lança luz sobre muitos outros pensadores, ainda pouco conhecidos, que desempenharam papéis igualmente cruciais. Este livro evidencia claramente que há vastos horizontes de investigação a serem explorados no que concerne à evolução histórica do Iluminismo. É inegável que a obra sublinha a importância fundamental do spinozismo na fundamentação das correntes de pensamento europeu posteriores.

     Nomes de filósofos notáveis, tais como Rousseau, Locke, Montesquieu, Voltaire, Diderot e D’Alambert, evocam imediatamente o contexto do Iluminismo, juntamente com figuras como Descartes e Spinoza. Esses pensadores são exaustivamente examinados na obra de Jonathan Israel. No entanto, é pertinente questionar quantos estão familiarizados com a contribuição intelectual de nomes menos proeminentes, como Bossuet, Huet, Steno, Mansvelt, Maresius, Wittichius, Le Clerc, Limborch, Jaquelot, Malebranche, Lamy, Régis e Houtteville, além de Bayle, Boyle, Leenhof e Bekker. Estes eruditos, muitas vezes negligenciados, desempenharam papéis igualmente significativos na moldagem do Iluminismo radical, como destacado pelo autor. É evidente que o movimento das Luzes transcendeu amplamente o conhecimento convencional, abrangendo uma diversidade notável de correntes de pensamento, incluindo o espinozismo, cartesianismo e coccianismo.

     Antes do advento do Iluminismo, é imperativo conduzir uma análise detalhada dos períodos precedentes a 1650, a fim de contextualizar as origens e as bases históricas dos primeiros movimentos iluministas, bem como compreender as influências sobre as ideias de pensadores como Spinoza. Dois períodos cruciais que antecedem o Iluminismo são o mercantilismo, que emerge no final do século XV com as Grandes Navegações, e o Renascimento, marcando a entrada da Europa em uma era de renovação cultural e intelectual. Estes períodos servem como alicerce para a compreensão das circunstâncias históricas que moldaram o pensamento iluminista inicial. A interseção entre o mercantilismo e o Renascimento desempenha um papel fundamental na contextualização das influências sobre Spinoza. Portanto, examinar as raízes dessas duas ideias e as fontes de inspiração por trás delas é essencial para a compreensão mais profunda das origens do Iluminismo.

     “O Iluminismo, um movimento intelectual que se originou durante o período da Renascença, se destacou por sua oposição ao poder absoluto dos monarcas, à influência da religião e à persistência da superstição. Este movimento foi marcado por uma busca fervorosa pelo conhecimento, promovendo a centralidade do ser humano como medida de todas as coisas e, consequentemente, questionando a concepção de um Deus pessoal. Uma obra em particular desempenhou um papel fundamental na consolidação dessas ideias, frequentemente levando a discussões que resultavam em posições que variavam do ateísmo ao deísmo. Os trabalhos notáveis do filósofo Baruch Spinoza, nomeadamente o ‘Tratado Teológico-Político’ e ‘Ética’, destacaram-se como produções intelectuais de maior impacto no século XVII. De acordo com o autor do livro ‘Iluminismo Radical’, Spinoza foi uma figura central neste movimento intelectual.”

     As concepções filosóficas de Baruch Spinoza relacionadas a Deus, religião e Estado suscitaram considerável controvérsia no seio da comunidade intelectual, gerando facções de apoio e oposição, além de provocar uma profunda instabilidade nos alicerces dos dogmas da religião revelada. À época, a obra de Spinoza era percebida como altamente subversiva. Sem dúvida, sua obra “Ética” também exercia uma influência potencialmente disruptiva na perspectiva da classe dominante, no entanto, seu “Tratado Teológico-Político” foi particularmente impactante, atraindo tanto acadêmicos quanto jovens estudantes e até mesmo indivíduos de destaque na sociedade. É inegável que essas ideias tornaram Spinoza uma figura indesejada em grande parte dos círculos intelectuais europeus. No entanto, é igualmente verdadeiro que o pensamento destemido desse filósofo pioneiro antecipou décadas de desenvolvimento no pensamento moderno.

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O CHAMADO DA TRIBO

     O Chamado da Tribo representa uma notável contribuição literária concebida por um proeminente intelectual do século atual, cujo objeto de estudo gira em torno das fontes inspiracionais que influenciaram significativamente sua trajetória como escritor. O autor em questão é Mario Vargas Llosa, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, que oferece uma admirável homenagem aos pensadores que, de acordo com sua perspectiva, desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento do pensamento liberal contemporâneo. Com vasta erudição e uma visão otimista da realidade, Mario Vargas Llosa, um dos mais destacados representantes literários da corrente liberal em nosso tempo, presta, nesta obra, um tributo aos homens de notável virtuosismo que incansavelmente almejaram a liberdade e cuja influência modelou profundamente sua própria jornada intelectual. Vale ressaltar que o legado literário do autor abarca uma ampla gama de gêneros, englobando romances e ensaios de teor político sob o prisma liberal.

     Após o flerte com o marxismo na juventude, Mário Vargas Llosa percebeu que aquela árvore não lhe renderia bons frutos. Desencantado,  direcionou os seus interesses intelectuais para o liberalismo e com isso se tornou um dos importantes mais liberais do seu tempo, expressando em seus ensaios e livros as suas ideias sobre o liberalismo político. Para Llosa “optar pelo liberalismo foi um processo acima de tudo intelectual, de vários anos, muito ajudado pelo fato de eu ter residido na Inglaterra do final dos anos 1960, lecionando na Universidade de Londres, e vivido muito de perto os onze anos do governo de Margaret Thatcher”. Antes, porém, viveu a sua “gonorreia juvenil”, tomando emprestada a expressão de um grande liberal brasileiro, Roberto Campos, que como ele se deixou infectar pelo vírus do comunismo. 

     Naqueles tempos, Llosa, como todos os jovens idealistas da sua época, tinha um ódio visceral pelas injustiças dos poderosos contra as massas, motivo que adquirira simpatia pelos ideais da esquerda, confessa: Por isso eu tinha sido esquerdista e comunista na mocidade; mas, atualmente, nada representava tanto o retorno à “tribo” como o comunismo, com a negação do indivíduo como ser soberano e responsável, voltando à condição de parte de uma massa submetida aos ditames do líder, espécie de beato religioso cuja palavra é sagrada, irrefutável como um axioma, que ressuscitava as piores formas da demagogia e do chauvinismo”.

     Mas essa fase logo passou quando se decepcionou com o socialismo soviético vigente. Ao perceber as contradições daquela ideologia, as portas da liberdade, estava claro para Llosa, não eram a do socialismo. De maneira que o insigne autor rompe com os devaneios juvenis e reconhece cedo que o comunismo era uma brincadeira de criança de muito mal gosto. Ele conta que: “o liberalismo é uma doutrina que não tem respostas para tudo, como pretende o marxismo, e admite em seu seio a divergência e a crítica, a partir de um corpo pequeno, mas inequívoco, de convicções. Por exemplo, de que a liberdade é o valor supremo e de que ela não é divisível e fragmentária; é uma só, e numa sociedade genuinamente democrática deve se manifestar em todos os domínios — o econômico, o político, o social, o cultural”, e esclarece ainda que “o espírito tribal, fonte do nacionalismo, foi o causador, junto com o fanatismo religioso, das maiores matanças na história da humanidade. […]Um governo liberal deve enfrentar a realidade social e histórica de maneira flexível, sem pensar que é possível enquadrar todas as sociedades num único esquema teórico, atitude contraproducente que provoca fracassos e frustrações”. Para Llosa o liberalismo em todas as suas vertentes é o único sistema de ideias compatíveis com os anseios dos indivíduos e que de fato pode prover uma ética social democrática e justa de onde ele extrai a seguinte asserção:  “Nós, liberais, não somos anarquistas e não queremos suprimir o Estado. Pelo contrário, queremos um Estado forte e eficaz, o que não significa um Estado grande, empenhado em fazer coisas que a sociedade civil pode fazer melhor que ele num regime de livre concorrência. O Estado deve garantir a liberdade, a ordem pública, o respeito à lei e a igualdade de oportunidades”.

     O curioso título do livro O Chamado da Tribo tem uma razão tão curiosa quanto. O próprio autor explica que é uma metáfora sobre as comunidades que se dobram aos caprichos do totalitarismo, compartilhando da “consciência de manada” nos regimes totalitários e suas ideias de libertação do homem, bem como a promessa de prover um novo paraíso. Os heróis de Llosa certamente não fazem parte dessa manada. Pelo contrário, suas ideias, suas histórias em prol da liberdade, os seus maiores objetivos, refletem exatamente a luta contra a corrente dos iluminados. Enfim, nesta bela homenagem, Llosa conta-nos um pouco da luta, angústia, predestinação daqueles que prestaram um enorme serviço à humanidade. Seus pensamentos estão imortalizados em suas obras, atemporais, profundas, resplandecentes como uma luz que leva clareza à escuridão. Escuridão que a humanidade insiste em trilhar, jornada perigosa que nos nossos dias, estão tão presentes. 

     Extraímos da referida obra algumas partes que refletem o legado deixado por essa legião de guerreiros das letras. Llosa os analisam em todas as suas fases, tanto como pessoas comuns como intelectuais e suas produções. O que eles têm em comum é a transformação que as suas ideias provocaram em suas respectivas épocas que refletem até o nosso tempo como um legado indispensável para a evolução da humanidade.

 

Adam Smith 

     O criador da expressão “mão invisível” é o primeiro homenageado. Llosa começa contando um pouco da vida daquele que plantou as primeiras sementes do liberalismo econômico, autor da fundamental obra A Riqueza das Nações. Na descrição de Llosa, Adam Smith viveu de acordo com as suas ideias cuja ética fora descrita em sua não tão famosa obra: Teoria dos Sentimentos Morais. Assim, Llosa delineia um retrato da vida cotidiana e acadêmica de um dos mais importantes pensadores na fundação da economia moderna, bem como a grande contribuição de Adam Smith como um dos fundadores do pensamento liberal. Nas palavras de Llosa sobre Adam Smith, “não são muitos os depoimentos sobre a sua pessoa, mas os que existem coincidem em afirmar que era, além de um intelectual de altíssimo valor, um homem bom, de hábitos sadios, modesto, simples, austero, corretíssimo, com explosões excepcionais de mau humor, cuja vida era dedicada ao estudo.

     Adam Smith, como um dos precursores do Liberalismo econômico, forneceu os fundamentos que influenciaram o pensamento dos seus predecessores. Llosa explica que o sistema que Adam Smith descreve não é criado, e sim espontâneo: resultou de necessidades práticas que começaram com a troca dos povos primitivos e prosseguiram com formas mais elaboradas de comércio, o surgimento da propriedade privada, das leis e tribunais, ou seja, do Estado, e, sobretudo, da divisão do trabalho que multiplicou a produtividade. A base para a concepção de Adam Smith sobre a liberdade econômica funda-se sobre a propriedade privada, sob as quais nos dizeres de Llosa “o livre mercado pressupõe a existência de propriedade privada, igualdade dos cidadãos perante a lei, rejeição dos privilégios e divisão do trabalho”.

     Destacamos abaixo algumas das reflexões feitas sobre a personalidade e as ideias de Adam Smith:

“Se a conduta moral depende em boa parte dessa personalidade própria de cada indivíduo, este constitui a célula básica da sociedade, o ponto de partida das diferentes coletividades a que pertence ao mesmo tempo, mas nenhuma das quais pode subsumi-lo ou aboli-lo: a família, o trabalho, a religião, a classe social, o partido político“.

“Essa “mão invisível” que empurra e guia os trabalhadores e os criadores de riqueza para cooperarem com a sociedade foi um achado revolucionário e, também, a melhor defesa da liberdade no âmbito econômico”.

“Para muitos leitores de A riqueza das nações foi desconcertante descobrir que o motor do progresso não é o altruísmo nem a caridade, mas antes o egoísmo”.

“Os grandes inimigos do livre mercado são os privilégios, o monopólio, os subsídios, os controles, as proibições.

A riqueza das nações explica a origem e a função do dinheiro nessas sociedades primitivas que pouco a pouco se tornaram mercantis”.

“Sublinha que o intervencionismo estatal, ao frustrar a livre concorrência, é uma receita infalível para o fracasso econômico”.

“Sentir-se seguro em relação aos seus direitos é fundamental para a existência de uma sociedade livre”.

 

José Ortega y Gasset

     O último aristocrata liberal, vão dizer alguns. José Ortega y Gasset, autor da famosa obra A Rebelião das Massas, um clássico do pensamento liberal do Ocidente, foi sem dúvidas um homem único no seu tempo. Dono de uma profunda visão da vida europeia e dos seus problemas sociais,  políticos e econômicos,  através da sua filosofia analisou a decadência da Europa. Sua erudição e profundo gosto pelas artes os levaram a realizar grandes reflexões estéticas sobre o homem contemporâneo. Ortega foi um aristocrata, um homem das elites, não no sentido vulgar,  mas naquilo que engrandece os espíritos de grandes homens de saberes. Ortega foi jornalista, ensaísta, crítico de arte e filósofo.  Há quem diga que ele nunca foi filósofo. À tal injustiça, Llosa insurge-se na seguinte expressão: Por esta última característica de sua prosa, alguns lhe negam a condição de filósofo e dizem que era só literato ou jornalista. Eu adoraria que tivessem razão, porque, sendo verdadeira a premissa na qual se inspira esse juízo excludente, a filosofia não faria falta, a literatura e o jornalismo substituiriam com vantagem a sua função. Em que sentido Ortega era um liberal? No prático, nos costumes e no pensamento político.  Porém não era um bom pensador na economia, observa Llosa, “mas um liberal limitado pelo seu desconhecimento da economia, um vazio que às vezes o levou, ao propor soluções para problemas como o centralismo, o caciquismo ou a pobreza, a defender o intervencionismo estatal e um dirigismo voluntarista totalmente alheios àquela liberdade individual e cidadã que defendia com tanta convicção e boas razões”. Abaixo algumas reflexões de Llosa sobre as obras e a vida de Ortega y Gasset:

“A rebelião das massas se estrutura em torno de uma intuição genial: a primazia das elites terminou; as massas, libertas da sujeição àquelas, irromperam de maneira determinante na vida, provocando um transtorno profundo dos valores cívicos e culturais e das formas de comportamento social”.

“A rebelião das massas se estrutura em torno de uma intuição genial: a primazia das elites terminou; as massas, libertas da sujeição àquelas, irromperam de maneira determinante na vida, provocando um transtorno profundo dos valores cívicos e culturais e das formas de comportamento social”.

“Em A rebelião das massas advertiu, com visão certeira, que no século XX, ao contrário do que vinha ocorrendo antes, o fator decisivo da evolução social e política não seriam mais as elites, mas os setores populares anônimos, trabalhadores, camponeses, desempregados, soldados, estudantes, coletivos de toda índole, cuja irrupção — pacífica ou violenta — na história iria revolucionar a sociedade futura e desenharia uma nítida fronteira com a de antes“.

“Simplesmente, Ortega entendia que os padrões estéticos e intelectuais da vida cultural deviam ser fixados pelos grandes artistas e os melhores pensadores, aqueles que tinham renovado a tradição e estabelecido os novos modelos e formas, introduzindo uma maneira diferente de entender a vida e sua representação artística“. O chamado da tribo

Friedrich August von Hayek

     Hayek foi um dos luminares da Escola Austríaca de Economia. Suas teorias sobre utilidade marginal e ações espontâneas, bem como a sua forte rejeição ao sistema estatal de economia, a planificação, foram junto com Ludwig von Mises e outro grande expoente da Escola Austríaca de Economia e os demais fundadores como Karl Menger e Eugen von Böhm-Bawerk, a força motriz do livre mercado. Hayek era respeitado por todos os economistas europeus, e principalmente,  era admirado pelo o seu maior opositor intelectual: o economista americano John Maynard Keynes, também conhecido como lorde Keynes, devidos ao seus estilo aristocrático-extravagante. Os dois travaram uma grande batalha intelectual que culminara na era Keynes e na era Hayek. Na opinião de Llosa, ambos “tinham chegado à economia através da filosofia e os dois acreditavam na importância do elemento subjetivo no trabalho intelectual, o qual se negavam a subordinar ao puramente científico. Nenhum dos dois foi um democrata ardoroso e ambos se declaravam admiradores de Hume, Burke e Mandeville”.

     O reconhecimento mundial de Hayek veio com o lançamento da sua estupenda obra O Caminho da Servidão, em 1944, que atacava frontalmente o socialismo e refutava a economia planificada. Llosa explica que “das suas teses, a mais conhecida, e hoje tão comprovada que virou quase um lugar-comum, é aquela que expôs no seu pequeno panfleto (depois transformado em livro) de 1944, O caminho da servidão: a de que o planejamento centralizado da economia mina inevitavelmente os alicerces da democracia e faz do fascismo e do comunismo duas expressões do mesmo fenômeno, o totalitarismo, cujos vírus contaminam qualquer regime, até o aparentemente mais livre, que pretenda “controlar” o funcionamento do mercado”. Para Hayek, só o individualismo, a propriedade privada e o capitalismo de mercado garantem a liberdade política. Como sustenta Llosa: “Distribuir a pobreza não traz riqueza a ninguém, só contribui para universalizar a pobreza“.

     Hayek foi o que se costuma chamar de polímata, um homem de muitos saberes e de vasta cultura, dada a sua abrangência de estudo em diversas áreas. Certamente isso lhe deu uma visão mais completa do comportamento humano, noção fundamental para as suas teorias econômicas.  Llosa concorda com essa reflexão ao observar: Como Von Mises, como Popper, como Berlin, Hayek não pode ser enquadrado dentro de uma especialidade, a economia, porque suas ideias são tão renovadoras no campo econômico como na filosofia, no direito, na sociologia, na política, na psicologia, na ciência, na história e na ética”. Conforme observações de Llosa a respeito das ideias de Hayek, é fácil entender porque ele foi um dos mais importantes economistas do século XX.

“Ninguém, nem sequer Von Mises, resenhou melhor que Hayek os benefícios de toda ordem para o ser humano proporcionados por esse sistema de intercâmbios que ninguém inventou, que foi nascendo e se aperfeiçoando em decorrência do acaso e, sobretudo, da irrupção desse acidente na história humana que se chama liberdade”.

“A obra inteira de Hayek é um prodigioso esforço científico e intelectual para demonstrar que a liberdade de produzir e comercializar não serve para nada — como comprovaram a ex-União Soviética, as repúblicas ex-socialistas da Europa Central e as democracias mercantilistas da América Latina — sem uma ordem legal estrita e eficiente que garanta a propriedade privada, o respeito aos contratos e um poder judicial honesto, capaz e independente do poder político“. 

“Porque ninguém insistiu tanto como ele em afirmar que o liberalismo não consiste em liberar os preços e abrir as fronteiras à concorrência internacional, mas na reforma integral de um país, na sua privatização e descentralização em todos os níveis, e em transferir para a sociedade civil — para a iniciativa dos indivíduos soberanos — as decisões econômicas essenciais”.

“O individualismo é um fator central da filosofia liberal e, naturalmente, do pensamento de Hayek. Individualismo não significa, certamente, aquela visão romântica segundo a qual todos os grandes fatos históricos, assim como os progressos definitivos nos âmbitos científicos, culturais e sociais, são produto de façanhas de indivíduos excepcionais — os heróis —, e sim, mais simplesmente, que as pessoas individuais não são meros epifenômenos das coletividades a que pertencem, que as modelariam tal como fazem as máquinas com os produtos industriais”.

“O grande adversário da civilização é, segundo Hayek, o construtivismo ou a engenharia social, a pretensão de elaborar intelectualmente um modelo econômico e político e depois querer implantá-lo na realidade, o que só é possível mediante a força — uma violência que degenera em ditadura —, e que fracassou em todos os casos em que foi tentado. Os intelectuais têm sido, para Hayek, construtivistas natos e, por isso, grandes inimigos da civilização”. O chamado da tribo

 

Karl Popper

     Sir Karl Popper foi um filósofo cuja ideias sobre a ciência do ponto de vista da filosofia contribuíram muito para o pensamento científico. Nesta breve homenagem, Llosa sintetiza as principais ideias de Popper não só sobre as suas contribuições para a ciência, mas sobretudo acerca das suas teorias da verdade objetiva e liberdade. Uma liberdade que Llosa segundo Popper se caracteriza por aquilo que se costuma chamar de liberal progressista. Llosa revela o pensador por trás do homem com uma visão muito ampla da sociedade. Eis algumas observações interessantes que Llosa faz acerca faz desse brilhante importante:

O liberalismo de Popper é profundamente progressista porque é impregnado de uma vontade de justiça que às vezes está ausente naqueles que reduzem o destino da liberdade apenas à existência de livres mercados,

Para Karl Popper, a verdade não se descobre: vai sendo descoberta, e esse processo não tem fim. Ela é sempre, portanto, uma verdade provisória, que dura enquanto não é refutada.

Entretanto, o pensamento de Popper não é relativista nem propõe o subjetivismo generalizado dos céticos. A verdade tem um pé assentado na realidade objetiva, à qual Popper reconhece uma existência independente da mente humana, e esse pé é, segundo uma definição do físico polonês Alfred Tarski, que ele adota, a coincidência da teoria com os fatos.

Que a verdade tenha, ou possa ter, uma existência relativa não significa que a verdade seja relativa.

Hipótese e teorias, ainda que falsas, podem conter doses de informação que nos aproximem do conhecimento da verdade.

Dentro da quase infinita série de nomenclaturas e classificações que os loucos e os sábios propuseram para descrever a realidade, a de Sir Karl Popper é a mais transparente: o mundo primeiro é o das coisas ou objetos materiais; o mundo segundo, o subjetivo e particular das mentes; e o mundo terceiro, o dos produtos do espírito.

O Estado, diz Popper, é “um mal necessário”. Necessário, porque sem ele não haveria coexistência nem uma redistribuição da riqueza que garante a justiça— já que a mera liberdade é em si mesma fonte de enormes desequilíbrios e desigualdades— e a correção dos abusos. O chamado da tribo

 

Raymond Aron

     Poucos foram os filósofos, professores, artistas entre outros que não se encantaram com o comunismo. Muitos, diante da fatídica revelação do que acontecia por trás da Cortina de Ferro da antiga URSS, se desiludiram e se dobraram aos fatos, outros nem tanto. Mas alguns jamais se deixaram iludir pela promessa do paraíso na terra prometida pela utopia comunista. Entre eles, destaque para Raymond Aron, filósofo francês, autor da famosa obra O Ópio dos Intelectuais, que é uma crítica impiedosa aos intelectuais da sua época ao defenderem os ditames do comunismo e do marxismo. As palavras de Aron, mitologia da esquerda é a compensação imaginária dos repetidos fracassos de 1789 e 1848″, revelam o fascínio que a esquerda intelectual tem pelos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade a ponto de fingirem que não via a realidade da sua época ao fazerem apologia a Stalin como o novo Prometeu e a URSS como modelo para o comunismo sob os quais a Europa e os Estados Unidos deveriam se espelhar. Os anos se passaram e em entre 1989 e 1991 Aron, de onde ele estivesse, deve ter acompanhado, em parte com profunda tristeza, o desdobramento desse momento tão crítico para o pensamento da esquerda. Isso porque ele deve ter ficado muito decepcionado ao perceber que mesmo com tudo que foi revelado o comunismo ainda fascina, sob outro verniz, o imaginário dos intelectuais. Seus ensaios de filosofia da história, de sociologia, e sua defesa tenaz da doutrina liberal, da cultura ocidental, da democracia e do mercado nos anos em que o grosso da intelectualidade europeia havia sucumbido ao canto de sereia do marxismo, foram plenamente confirmados pelo que ocorreu no mundo com a queda do muro de Berlim, símbolo do desaparecimento da URSS e da transformação da China em sociedade capitalista autoritária.

     Como pessoa, Aron era tímido e desajeitado, mas um gigante da sua época como pensador, observa Llosa na introdução do seu artigo. Como pensador Aron foi um imenso destaque e quase uma unanimidade até mesmo entre os detratores. Sempre foi fiel aos seus princípios e nunca teve dúvidas sobre as suas teorias acerca dos caminhos da esquerda ocidental. Para Llosa Raymond Aron se contrapôs sobretudo aos pensadores radicais de esquerda da sua geração. Foi um impugnador tenaz e, durante muitos anos, quase solitário, das teorias marxistas e existencialistas de Sartre, Merleau-Ponty e Louis Althusser 

     Raymund Aron, mostra-nos Llosa, não ficou isento dos ataques da esquerda. De fato, na França da sua época, infeliz era o pensador que nadasse contra a maré. Aron nadava contra e com grandes braçadas. Isso incomodava muito ao establishment intelectual que do alto da sua prepotência colocava Sartre num pedestal enquanto Aron era vilipendiado. Ao refletir sobre essa questão na atualidade concluímos que não é diferente hoje para os intelectuais de direita. Eles são severamente criticados. Na verdade o marxismo ainda é o ópio dos intelectuais. Llosa revela isso em sua obra ao escrever: Numa época fascinada pelo excesso, a iconoclastia e a insolência, a sensatez e a urbanidade de Raymond Aron eram tão pouco vistosas, tão contraditórias com o torvelinho das modas frenéticas que mesmo alguns dos seus admiradores pareciam concordar secretamente com a fórmula malévola cunhada por alguém nos anos 1960 que dizia ser “preferível errar com Sartre a ter razão com Aron”.

     Consequentemente intelectual de direita que  não se dobra ao establishment intelectual da esquerda é relegado ao ostracismo, na linguagem da atualidade, cancelado. Veja o caso de Peterson Jordan, Ben Shapiro e Olavo de Carvalho. Esses pensadores são tratados como da extrema direita e é imperativo que sejam desacreditados, suas ideias desconstruídas e que não encontrem espaços para expô-las e ecos nos jovens. É o que aconteceu com Raymond Aron quando comparado com Sartre conforme mostra Llosa ao escrever: “Por que, então, se não as ideias, o glamour midiático do ilegível Sartre continua vivo enquanto a figura do sensato e convincente Raymond Aron não parece seduzir quase ninguém?

Com a palavra, Mario Vargas Llosa:

Vivemos na civilização do espetáculo, e os intelectuais e escritores que costumam figurar entre os mais populares quase nunca o são pela originalidade de suas ideias nem pela beleza de suas criações, ou, em todo caso, não apenas por razões intelectuais, artísticas ou literárias. São populares principalmente por sua capacidade histriônica, pela forma como projetam a sua imagem pública, por suas exibições, seus desplantes, suas insolências, toda aquela dimensão bufa e ruidosa da vida pública que hoje em dia faz as vezes de rebeldia (na verdade, atrás dela se esconde o conformismo mais absoluto) e da qual a mídia tira proveito, transformando seus autores, tal como os artistas e os cantores, em espetáculo para a massa.

Nas últimas eleições francesas, um jovem que fazia suas primeiras intervenções no campo político, Emmanuel Macron, despertou um entusiasmo extraordinário, sobretudo nas novas gerações, com ideias de centro-direita que, à primeira vista, parecem bastante próximas daquelas que Raymond Aron defendeu por toda a sua vida“.

A China deixou de ser comunista para se tornar um modelo de capitalismo autoritário. Entretanto, seria precipitado dizer que a história deu a razão a Raymond Aron. Porque, embora a ameaça do comunismo, contra o qual ele se bateu sem trégua, deixou de sê-lo para a democracia no mundo — só um demente adotaria como modelos para seu país os regimes da Coreia do Norte, de Cuba ou da Venezuela —, esta não ganhou o jogo e é provável que jamais ganhe por completo.” O chamado da tribo

 

Isaiah Berlin

     Conheci dois livros de Isaiah Berlin quase por acaso. Foi grata a surpresa que tive com a homenagem que Llosa fez a este brilhante homem de letra. Llosa em tão pouco texto me lançou nas profundezas da obra e da personalidade Isaiah Berlin, complementando o pouco conhecimento que tinha das ideias desse estupendo pensador. Aqui as suas duas importantes ideias entre tantas outras são delineadas de maneira que prende o leitor e faz nascer neste uma grande admiração por uma figura tão ímpar. Eis alguns reconhecimento de Llosa pelo grande pensador:

A técnica que o professor Berlin empregava para nos fazer sentir que ele não está por trás dos seus textos é o fair play

“Fiel ao método indireto, Isaiah Berlin expõe sua teoria das verdades contraditórias ou dos fins irreconciliáveis através de outros pensadores, nos quais encontra indícios, adivinhações, dessa tese”

Que a injustiça social seja o preço da liberdade e a ditadura, da igualdade — e que a fraternidade só possa se concretizar de forma relativa e transitiva, por causas mais negativas que positivas, como no caso de uma guerra ou cataclismo que aglutine a população num movimento solidário — é algo lamentável e difícil de aceitar”

Que existam verdades contraditórias, que os ideais humanos possam entrar em conflito não significa para Isaiah Berlin que devamos ficar desesperados e nos declarar impotentes”

Se há verdades que se rejeitam e fins que se negam, devemos aceitar a possibilidade do erro nas nossas vidas e ser tolerantes com o erro dos outros”

A palavra “liberdade” foi usada, aparentemente, de duzentas formas diferentes. Isaiah Berlin contribuiu com dois conceitos próprios para esclarecer essa noção que, com toda justiça, chama de proteica: liberdade “negativa” e “positiva””

“Enquanto a liberdade “negativa” quer acima de tudo limitar a autoridade, a “positiva” quer se apropriar dela, exercê-la”

Enquanto a liberdade “negativa” leva em conta principalmente o fato de que os indivíduos são diferentes, a “positiva” considera antes de mais nada o que eles têm de semelhante

Todas as utopias sociais de direita ou de esquerda, religiosas ou laicas, se fundam na noção “positiva” da liberdade”

A metáfora do ouriço e da raposa aparece no começo do seu magistral ensaio sobre a teoria da história de Tolstói”

“Disfarçado ou explícito, em todo ouriço há um fanático; numa raposa, um cético e um agnóstico” O chamado da tribo

Jean François-Revel

     “Uma valiosa contribuição da França contemporânea no campo das ideias não foram os estruturalistas, os desconstrucionistas nem os “novos filósofos”, mais vistosos que consistentes, e sim um jornalista e ensaísta político: Jean-François Revel”. Assim começa a exposição de Mario Vargas Llosa sobre o perfil do insigne filósofo Francês Jean François-Revel. Confesso que nas minhas muitas leituras acerca da literatura filosófica-política não tive contato com o pensamento filosófico de Revel, razão pela qual nada me resta a fazer a não ser transliterar a percepção de Llosa sobre o respeitado filósofo. Entretanto, não resta dúvidas que a partir das reflexões de Llosa sobre as ideias e a pessoa de Revel nasce um forte desejo de conhecer as suas ideias em face a grandeza da exposição feita por Llosa. Isso é o que aconteceu comigo, razão pela qual limito-me a compartilhar com o leitor desta resenha os textos destacados na percepção de Llosa sobre o autor. O chamado da tribo

Seus livros e artigos, sensatos e iconoclastas, originais e incisivos, eram sempre refrescantes em meio aos estereótipos, preconceitos e condicionamentos que asfixiaram o debate político do nosso tempo. Por sua independência, sua habilidade para perceber quando a teoria deixa de expressar a vida e começa a traí-la, sua coragem para enfrentar as modas intelectuais e sua defesa sistemática da liberdade em todos os terrenos em que ela é ameaçada ou desnaturalizada, Revel faz pensar num Albert Camus ou num George Orwell dos nossos dias. Seu combate, tal como o deles, foi também bastante incompreendido e solitário.

Como no caso do autor de 1984, as críticas mais duras de Revel foram disparadas contra a esquerda, apesar de ter sido, boa parte de sua vida, um socialista, e desse mesmo lado recebeu os piores ataques. Sabe-se que na vida política o ódio mais forte é despertado pelo parente mais próximo.

Porque se alguém conquistou com justiça o título, hoje tão prostituído, de “progressista” no campo intelectual foi ele, cujo esforço se dirigia a remover os clichês e as rotinas mentais que impediam as vanguardas políticas contemporâneas de entender os problemas sociais e propor soluções para eles que fossem ao mesmo tempo radicais e possíveis. Para realizar essa tarefa de demolição, Revel, como Orwell nos anos 1930, optou por uma atitude relativamente simples, mas que poucos pensadores dos nossos dias praticaram: a volta aos fatos, a subordinação do pensado ao vivido.

Decidir a validade das teorias políticas em função da experiência concreta é revolucionário hoje, pois o costume que se impôs e que foi, sem dúvida, o maior empecilho da esquerda em nossos dias é a oposta: determinar a partir da teoria a natureza dos fatos, o que geralmente leva a deformar estes últimos para que coincidam com ela.

Nada mais absurdo do que acreditar que a verdade desce das ideias para as ações humanas, e não que são estas que nutrem aquelas com a verdade, pois o resultado dessa crença é o divórcio entre ambas, e isso foi o mais característico na época de Revel (sobretudo nos países do chamado terceiro mundo) nas ideologias de esquerda, que costumavam impressionar sobretudo por sua furiosa irrealidade.

Para Revel, os fatos interessavam mais que as teorias, e ele nunca teve o menor problema em refutá-las se considerasse que não eram confirmadas por eles. A alienação política em que vivemos deve ser muito profunda para que alguém que se limitava a introduzir o senso comum na reflexão sobre a vida social — pois não é nada mais que isso insistir em submeter as ideias à prova de fogo da experiência concreta — parecesse um dinamitador intelectual.

Conclusão

     Assim, Mario Vargas Llosa compartilha conosco do alto da sua sabedoria, erudição e conhecimento de ideias e pessoas que, assim como ele descreve no início do livro, foram importantes na sua formação intelectual mas que acima de tudo, no seu ponto de vista, foram construtores de ideias  cada um ao seu modo que ajudaram a moldar o pensamento liberal ocidental moderno.

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O MARXISMO DESMASCARADO

     Ludwig von Mises, na década de 1950, proferiu uma série de palestras nos Estados Unidos cujo objetivo era mostrar que havia muita incoerência na dialética histórica de Karl Marx. Segundo Mises nenhum crítico do marxismo até então foi capaz de apresentar as contradições da filosofia marxista. Visando preencher essa lacuna, Mises vai criticar o marxismo e as falácias de Marx. O conteúdo dessas nove palestras foi compilado no livro O Marxismo Desmascarado, da desilusão à destruição.

     Ao prefaciar a edição brasileira da obra aqui comentada, o eminente professor Antônio Paim escreve que nos EUA o papel das ideias na era da Guerra Fria era subestimado e por conseguinte, Mises fez as suas exposições em duas frentes para expor toda incongruência continua na filosofia de Karl Marx. Paim observa que Mises percebeu a ausência de uma crítica que apontasse as falhas e incoerência na doutrina filosófica de Karl Marx. Naquela época, ainda hipnotizado pelas ideias “revolucionárias” de Karl Marx, encontravam-se presos à promessa de que o socialismo era a único caminho para a felicidade da humanidade. 

O autor entendia que, no país que a liderava do lado ocidental, os Estados Unidos, havia uma certa subestimação do papel das ideias. Assim, desenvolveu a sua exposição em duas frentes. De um lado, reuniu elementos comprobatórios da larga influência do marxismo alcançada no Ocidente e da virtual inexistência de uma crítica sistemática a esta doutrina. Do outro, analisou e refutou suas teses centrais“.

     Com efeito, acerta Antonio Paim ao apontar que “praticamente não havia nenhuma crítica sensata às doutrinas filosóficas de Karl Marx“. De maneira que Mises viria preencher essa lacuna em suas palestras alertando para os falsos postulados marxistas. Por sua vez, Richard M. Ebeling ao escrever a introdução da referida obra, demonstra quanto o Ocidente estava com a visão equivocada dos pressupostos marxistas ao sustentar que, “tanto na Europa como nos Estados Unidos, o pressuposto era de que o capitalismo, quando desregulamentado, somente levaria à exploração, à miséria e à injustiça social“. Essa era uma clara falácia do marxismo ao desenvolver ideias críticas contra o capitalismo a partir de visões equivocadas da economia.

     Mises inicia a sua série de palestras falando da filosofia e não sobre economia, avisa. A filosofia a que se refere Mises é a do marxismo. Nenhuma ideia teve maior impacto nas civilizações ocidentais e orientais que as de Karl Marx após a Revolução Industrial (1948). O comunismo, como se vê no posfácio escrito por Murray Rothbard nesta obra, não teria o alcance que teve nos últimos dois séculos se não estivesse montado sobre os ombros do marxismo. Nao obstante, Mises esclarece que, “Marx e suas ideias – ideias que não inventou, desenvolveu ou aperfeiçoou, mas que unicamente combinou para formar um sistema – são bastante aceitas hoje, até mesmo por muitos dos que enfaticamente declaram-se anticomunistas e antimarxistas”. Como se vê, o marxismo é o ópio dos intelectuais, como afirmara Raymund Aron. O seu domínio domínio expansão no século XX é notável. Há então um claro predominância do marxismo sobre a mente de uma boa parcela dos bem pensantes. 

A Mente, o Materialismo e o Destino do Homem

     A dialética marxista e o seu materialismo histórico se tornou a filosofia que levaria o homem a realizar o papel de deus na reconstrução do próprio homem e da humanidade como se Deus fosse. No capítulo A Mente, o Materialismo e o Destino do Homem, Mises busca explicar como Marx construiu o arcabouço da sua filosofia a partir do materialismo. Marx via tudo da perspectiva do fluxo da história e do materialismo dos quais ressaltava a relação entre os meios de produção capitalista e o interesses de classes.

     Para entender Marx, Mises explica que há dois tipos de materialismo, um ético e um filosófico e que é necessário compreender a distinção que se apresenta. O ético refere-se ao apego exagerado do homem às  coisas do mundo físico. O segundo, o filosófico, propõe solucionar a relação entre a mente ou alma humana, por um lado, e o corpo humano e suas funções fisiológicas, por outro.

     Para Marx as forças produtivas da história eram a base de tudo e estas determinam as relações de produção e daí a exploração dos proletariados pelos donos do capital. Para Mises “Marx desenvolveu o que considerava ser um sistema novo. Segundo sua interpretação materialista da história, as “forças produtivas materiais” (esta é a tradução literal do alemão) constituíam as bases de tudo. Cada estágio das forças produtivas materiais corresponde a um estágio definido das relações de produção. As forças produtivas materiais determinam as relações de produção, ou seja, o tipo de propriedade que existe no mundo. E as relações de produção, por sua vez, determinam a superestrutura. Na terminologia de Marx, o capitalismo ou o feudalismo constituem relações de produção. Cada um deles necessariamente causado por um estágio específico das forças produtivas materiais”.

     Como Marx via tudo da perspectiva de relação de produção e interesse de classe, Mises assevera que o conceito de interesse era fundamental para as teorias de classes de Marx. Segundo essa visão, devido às forças de produção, todos nós pensamos em termos de interesses de classes, visão que não se confunde com o das ideias. Mises escreve, “segundo Marx, todos somos forçados – pelas forças produtivas materiais – a pensar de tal maneira que o resultado revele nossos interesses de classes. Pensamos como nossos “interesses” nos forçam a pensar, segundo os nossos “interesses de classe”. Os “interesses” independem de nossa mente e de nossos ideais – existem em um mundo separado das nossas ideias. Por conseguinte, a produção de nossas ideias não é verdadeira. Antes de Karl Marx, a noção de “verdade” não tinha qualquer significado para todo o período histórico. O que era produzido pelo pensamento humano no passado, era sempre “ideologia”, não verdade“.

     Para Mises a influência desse conceito de interesse é enorme. Sendo os interesses de classes independentes das ideias dos homens, que os força a pensar e agir de forma definida. Desta maneira o indivíduo não tem representatividade na filosofia de Marx, dado que há apenas interesses que satisfaçam o coletivo. Para Marx o indivíduo não tem valor se ele não pertencer a classe. Entretanto, embora sejam duas as classes abordadas por Marx em sua filosofia, a burguesa e a proletária, estas tem papéis e objetivos bem diferentes. Apenas para a classe dos proletários é prometido o paraíso aqui na terra.

Luta de Classe e o Socialismo Revolucionário

     O instrumento de luta preconizado pela filosofia de Marx é a luta de classe pela violência. Através dela e por ela o proletariado se vingará dos seus empregadores. Derrotará o capitalista tomando de volta o que este usurpou do proletariado. A luta de classe é a espada do socialismo revolucionário. Para Marx, ao final dessa batalha só haveria um vencedor e seria os proletários, ou seja, aqueles  que destruirão a classe dominadora para se tornar a classe dominante. Para Mises o conceito de classe que Marx desenvolveu diverge da realidade e foi adequado à sua filosofia. No capítulo Luta de Classe e o Socialismo Revolucionário Mises escreve:

A questão não é se as classes sociais existem no sentido dos conceitos de Karl Marx, mas sim se podemos usar o conceito de “classes sociais” no sentido que Marx lhes atribui. Não, não podemos”.

     Mises acredita que Marx “não compreendeu que o problema dos interesses de um indivíduo ou de uma classe não pode ser resolvido simplesmente por referirmos ao fato de existir tal interesse e de os homens deverem agir segundo os próprios interesses“. Para Mises, a ideia de interesses de classes, de acordo a ótica de Marx, não diz a que fins tais “interesses” levam as pessoas, assim como não mostra quais métodos as pessoas pretendem usar para atingir tais fins. Na verdade, há um conflito entre o que Marx pensa em sua dialética de classe e os verdadeiros interesses dos proletários quando isso é levado para o interior dos sindicatos. Segundo Mises há conflitos de opiniões entre os proletários sobre o método adequado para ação, pois para Marx, os sindicatos deveriam abandonar a política conservadora e adotar uma posição mais revolucionária, mais de luta e nao de reivindicação para a imediata satisfação das suas necessidades. A isso Mises escreve:

“Vemos aqui um óbvio conflito de opiniões entre os proletários sobre os métodos de ação adequados. Os sindicatos proletários e Karl Marx discordavam sobre o que era ou não “interesse” dos proletários. Marx declarou que os “interesses” de uma classe eram óbvios – não poderia haver qualquer dúvida sobre eles – todos deveriam conhecê-los. Então, aparece alguém que não pertence ao proletariado, um escritor e advogado que diz que os sindicatos estão errados. “Essa política é inadequada”, disse. “Vocês devem mudar radicalmente tal política””. 

     Logo Mises observa que o conceito que Marx postula da infalibilidade da classe contra a insignificância do indivíduo desaba. Coisas desse tipo levam a Mises a afirmar, “as críticas às doutrinas marxistas sempre foram superficiais, pois jamais salientaram como Karl Marx se contradisse e como não conseguiu explicar suas ideias. Eugen Böhm-Bawerk ofereceu uma boa crítica, mas não cobriu todo o sistema. Críticos de Marx nem mesmo chegaram a descobrir as contradições mais evidentes de Marx“.

São muitas as contradições do marxismo apontadas por Mises. Uma notória contradição diz respeito à Lei de Ferro dos Salários, aquela que afirma que quando o valor do salário é superior ao valor da necessidade do trabalhador haverá uma redução do salário e o seu inverso provocará a escassez de mão de obra. Mises refuta o marxismo ao declarar que Marx não entendia absolutamente nada sobre as reais necessidades das massas. Suas conjecturas eram fantasiosas, utópicas e incapazes de ter algum nexo com a realidade do proletariado, cego pelo seu ódio ao capitalismo. 

Há uma contradição insolúvel entre o conceito marxista da lei de ferro dos salários, segundo a qual os salários permanecerão em um patamar tal que seja suficiente para sustentar a progênie de trabalhadores, até que eles mesmos possam se tornar trabalhadores, e sua filosofia da história, que afirma que os trabalhadores empobrecerão cada vez mais até se rebelarem e assim, causarem o advento do socialismo“.

     Em O Marxismo Desmascarado Mises apontou algumas das contradições sobre a luta de classes. Enfatizou que o objetivo de Marx não poderia ser alcançado como oposição aos interesses dos sindicalistas, bem como demonstrou que as políticas de salário da época, como a Lei de Ferro dos Salários é uma falácia e que não encontra eco no capitalismo devido às suas incongruências em termos de  cálculo econômico. Mas ainda, Mises crítica Epistemologicamente as teses de Marx ao depreender, “Karl Marx raciocinou a partir da tese em direção à negação da tese e a seguir, à negação da negação. A propriedade privada dos meios de produção nas mãos de cada trabalhador individual era o ponto de início do raciocínio, a tese. Esse era o estado de coisas em uma sociedade em que cada trabalhador era agricultor ou artesão independente e possuía as ferramentas com as quais trabalhava. A negação da tese – propriedade no sistema capitalista – seria quando as ferramentas não eram propriedade dos trabalhadores, mas sim dos capitalistas. A negação da negação seria a propriedade dos meios de produção nas mãos de toda a sociedade. Seguindo esta linha de raciocínio, Marx declarou ter descoberto a lei da evolução histórica. Por isso denominou essa teoria de socialismo científico“.

O Individualismo e a Revolução Industrial

     No sistema marxista o indivíduo, enquanto revolucionário, não tem valor algum. Ele é apenas um tijolo da grande edificação revolucionária e como indivíduo não representa os interesses revolucionários, portanto nada significa em termos valorativos para a classe. Neste contexto, o indivíduo é apenas uma peça para dar corpo ao coletivismo. Somente a classe do proletariado tem importância e por ela toda a energia do marxismo perpassa. Para Marx o indivíduo não opina, só a classe pensa e decide porque ela é a vontade de todos, o povo. Aquele que pensa diferente é inimigo do povo segundo a filosofia marxista-leninista. Mises analisa dois aspectos basilares do sistema marxista: O Individualismo e a Revolução Industrial. Mises observa que essa ideia foi bastante difundida entre Marx e os marxistas:

Não é o indivíduo que pensa – é a nação ou uma entidade social que usa o indivíduo somente para a expressão de seus próprios pensamentos”.

     Para Marx a evolução histórica ocorre apenas em função das forças produtivas. Os indivíduos têm a missão de ser as correntes pelas quais a ideologia marxista e a vontade da classe dos proletariados fluem. Para Marx o processo histórico tem vontade própria e segue o seu caminho inexoravelmente. Vale lembrar que para Marx o processo histórico é formado pela própria luta de classe contra o capitalista. Neste sentido, Mises afirma, “Marx e Engels negavam que o indivíduo tivesse qualquer papel na evolução histórica, pois a história segue seus próprios passos. As forças produtivas materiais seguem o próprio caminho e se desenvolvem independentemente da vontade dos indivíduos”.

     Considerando que o liberalismo, sistema de pensamento que preconiza a liberdade do indivíduo, é diametralmente oposto ao coletivismo marxista é de se esperar que haja um antagonismo entre essas duas correntes de pensamento. E de fato há. Para Marx qualquer ideia de movimento liberal é contra os objetivos da classe, principalmente pelo risco do indivíduo sair por aí espalhando-se ideias próprias. Apregoa Mises assim a essa linha de pensamento:

“Marx interpretava as mudanças liberais como tentativas de redimir o explorador da responsabilidade sobre as vidas dos trabalhadores. Marx não compreendia que o movimento liberal visava à abolição das desigualdades sob a lei, como a desigualdade entre o servo e o senhor“.

     Deveras, entre empregadores e empregados existe uma relação de interesses, não necessariamente conflitantes como assegura Marx. A relação entre o empregado e o patrão é uma relação de trocas baseada na livre escolha. O empregado terá sempre a sua disposição fazer ou não o negócio, de maneira que se não lhe é interessante, o negócio não se concretiza. O fato é que a relação não é de exploração e sim contrato de negócios e ambos tem interesse em comum, por isso a relação de ganha-ganha é notória nas atuais relações trabalhistas entre patrão e empregado. Na época de Marx as relações de trabalho e, sobretudo, as condições eram bem diferentes das de hoje. Porém, a ideia que nasceu na primeira metade do século XIX se perpetua sem querer se dar conta que mesmo na época de Marx já havia mudanças que levaram a melhor relação entre patrão e empregado. Havia os sindicatos, uma força a favor do empregado. Ao contrário do que pensava Marx, a Revolução Industrial não é um instrumento de exploração, mas a causa da melhoria das condições globais da população dos países industrializados, e por conseguinte uma melhora global em todas as nações. A prova disso é que Lenin e Stalin acreditavam que a tecnologia era libertadora. Mises observa que “para Marx, toda a Revolução Industrial simplesmente consistiu da exploração dos trabalhadores pelos capitalistas. Segundo ele, a situação dos trabalhadores só piorou com a chegada do capitalismo“.

Donde Mises infere que,

“Segundo Marx, o capitalismo é um estágio necessário e inevitável na história da humanidade que transporta os homens de suas condições primitivas ao milênio do socialismo. Entretanto, se o capitalismo é um passo necessário e inevitável na estrada para o socialismo, não se poderia argumentar de modo consistente, sob a perspectiva de Marx, que aquilo que o capitalista faz seja ética ou moralmente ruim. Sendo assim, por que Marx atacava os capitalistas?”

Para Mises,

O que Karl Marx denominou “a grande catástrofe da Revolução Industrial” não foi de modo algum uma catástrofe, pois trouxe grandes melhorias nas condições de vida das pessoas[…] Marx acreditava que medidas intervencionistas não eram adequadas, pois atrasariam a vinda do socialismo. Os sindicatos trabalhistas recomendavam intervenções, Marx se opunha a eles“.

       Na verdade, como Mises demonstrou que o sistema marxista é utópico e contraditório. O próprio Marx em diversas etapas dos seus estudos teve que rever suas ideias. Mises sinaliza que, “Karl Marx, na segunda parte de sua carreira, não era um intervencionista, pois partilhava da filosofia do laissez-faire”.

e aponta que na verdade o marxismo é um sistema confuso e que suas teorias não se sustentam. O sucesso da estratégia marxista é impossível sem o controle estatal e somente ao Estado traz algum benefício, motivo do seu sucesso entre os burocratas estatais. Porém, o que se vê na prática, é que na verdade não funciona nem mesmo com a intervenção do Estado. Vimos isso na URSS, na China e em outros países em que o comunismo fracassou fragorosamente.

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UMA DEMÃO DE VERDE

     Sobre a questão ambiental, uma interessante revelação é feita pela repórter canadense Elaine Dewar, em seu livro Uma Demão de Verde, publicado em 1995. Este livro é uma denúncia detalhada de como estas organizações internacionais se movimentaram, com apoio de alguns grupos indígenas, investimentos de governos e empresas (brasileiras e estrangeiras) atuam em comum interesse para explorarem as riquezas das florestas Amazônica, uma das maiores reservas de recursos naturais e biodiversidade do mundo.

     Durante muito tempo a única forma de as nações enriquecerem eram através das guerras. Quando os governantes queriam aumentar suas riquezas ele precisava de duas coisas: um bom exército, uma justificativa fornecida por uma nação inimiga, de preferência que tivesse muito ouro e territórios para conquistar. Foram através destas conquistas que as nações enriqueceram e adquiriram poder e prestígio. Assim eram construídas as riquezas das nações da antiguidade até o início do século XX. 

     O tempo passou e as nações progrediram e enriqueceram embaladas pelas grandes descobertas e criações da ciência que proporcionaram o maior avanço tecnológico que se tem notícia desde os primórdios da humanidade. Ao mesmo tempo, poderosas relações comerciais começaram a transferir imensas riquezas de uma nação a outra, culminando no maior fenômeno que teve início com a Revolução Industrial (1760-1840), chegando ao ápice com o fenômeno da globalização e total abertura dos mercados.  Consequentemente nunca se produziu tanta riqueza sem que houvesse um banho de sangue entre as Nações. Desta forma produzir riqueza adquiriu nova face. 

     Se por um lado as riquezas no mundo cresceram substancialmente, as necessidades humanas que demandam o crescimento de mais riqueza só aumentaram com o tempo. Impulsionadas por um desejo de se manterem na hegemonia do poder em escala  mundial, ter riqueza não era suficiente, era necessário unir força para garantir o status quo e prestígios políticos. Não sendo mais necessário dominar territórios alheios para se obter riqueza, encontraram outra forma de possuí-la: a usurpação das riquezas naturais de países subdesenvolvidos usando como pretexto a preocupação com as questões ecológicas.  

     Por outro lado, a ferocidade com que o homem buscou manter suas riquezas, não só exauriram os seus próprios recursos como foram responsáveis por uma tremenda agressão à natureza. Destarte, a fauna e a flora sucumbiram à ambição humana. Estas ações tiveram reflexos em vários aspectos da economia e nas estruturas da sociedade humana. Entretanto, embora a ameaça das ações humana contra o próprio planeta que o alimenta, seja um fato – e por isso, motivo de muita preocupação tal que exige medidas urgentes e emergenciais – há uma outra face que mostra um esquema mundial para a manutenção do poder e riqueza muito mais perverso que toda a ação predatória feita ao meio ambiente até então.

     Consequentemente, a fonte de riqueza tomou uma outra feição. Adquiriu regras que se transformaram em lei, arregimentou exércitos de pessoas em prol da causa com disposição para brigar pela bandeira ecológica, criou-se ideologias baseadas no politicamente correto como fonte legitimadora, ergueu-se instituições poderosas (ONGs) numa rede muito bem estruturada. O objetivo aparente sempre foi salvar o planeta, mas por trás disso oculta-se a verdadeira intenção: fazer muitos bilhões de dólares enriquecendo e tornando as elites mundiais mais poderosas. 

      Com efeito, sob o pretexto de salvar os ursos polares, preserva a fauna e a flora (geralmente as que estão localizadas em países pobres), evitar o aquecimento global e coisas do gênero, poderosas indústrias globais com braços em todas as esferas do poder econômico e político, mais um exército de gente disposta a defender uma bandeira da qual só conhece a ponta do iceberg, fazem imensas fortunas cujos propósitos passam longe de um movimento altruísta para salvar o planeta terra. 

     Esta história não é nova, os motivos são os mesmos de sempre: imperialismo, só que sob nova ordem. Não precisa fazer guerra se a ação é justa e a causa é nobre, basta encontrar os meios certos para que tudo saia limpo, honesto. Todavia, há vozes que estão dispostas a bradar alto contra a falsa preocupação com o planeta terra e revelar que tudo não passa de interesses econômicos de uma minoria que se perpetua no poder e controle mundial. Vozes que estão dispostas a expor a farsa que há por trás dessa orquestração.  De fato, existem livros reveladores desta trama diabólica que sensibiliza os desinformados e bem-intencionados, o Império Ecológico de Pascal Bernardin é um dos mais notáveis. 

      O interessante em Uma Demão de Verde é que a autoridade com que ela faz a denúncia advém do fato da autora ter sido testemunha ocular de vários episódios em que eram planejados o esquema pelo qual as estratégias de “preservação das florestas” seriam implementadas e tornadas públicas. Presente em todas as reuniões como repórter do grupo formado para tal propósito, Elaine Dewar passa, então, a investigar e mergulha fundo na sujeira por trás do aparente interesse em salvar o planeta. O que ela encontrou a estremeceu e registrou em seu livro Uma Demão de Verde que revela um engenhoso esquema para explorar com ares de legalidade as nossas riquezas na Amazônia.

     Segundo consta no livro, em 1989, foi realizado um evento no Canadá em que o índio brasileiro Paulinho Paiakan, descrevia para a ávida imprensa com ar teatral o sofrimento dos povos indígenas no Brasil. Ali nascia uma poderosa aliança que além de envolver a estrutura já mencionada aqui, teve ao longo da sua história apoiadores como o cantor Sting. Para o público ali presente (exceto pela própria cúpula) foi penoso ver o apelo daquela figura falando da maldade do homem contra a sua raça. Para a cúpula ali presente era uma grande oportunidade para atender os interesses de poderosas organizações internacionais. Mas o verdadeiro objetivo foi criar as condições necessárias para a livre exploração das riquezas da floresta amazônica que possuem o maior bioma do mundo e reservas minerais inexploradas. 

     De fato, diante da imensa riqueza do nosso solo pátrio (estima-se que exista na Floresta Amazônica uma enorme quantidade ouro, diamantes, um imensa variedades de plantas para fármaco e cosmética, além de uma fauna desconhecida. Está explicado o interesse internacional em nossas florestas e porque eles investem milhões de dólares em campanhas para “preservação” das nossas florestas. São ONGs, grandes empresas globais e muita gente influente, todos dispostos a utilizar a imagem dos índios para arrecadação de fundos milionários para a preservação de reservas indígenas e proteção da floresta amazônica. Isso é o que eles apresentam como objetivo, quando na verdade o que eles querem é explorar as nossas riquezas naturais.

     O interesse dessa gente na riqueza Brasil pode ser utilizado como exemplo de como estas organizações mundiais de defesa do planeta sustentadas por milhões de dólares de nações e grupos poderosos com suporte de artistas, políticos e intelectuais montam esquemas que sob a desculpa de proteger o planeta contra as ações do homem, criam oportunidades para explorar as riquezas de países subdesenvolvidos e assim ganhar bilhões com a indústria da saúde, da beleza entre outras. Assim torna-se mais fácil entender o que há por trás do alarde mundial, protagonizado pelo presidente francês Emmanuel Macron em 2021, sobre as recentes queimadas em nossas florestas diante da postura do então presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro.

     Com efeito, o objetivo deste teatro não foi a preocupação com as queimadas e a destruição da fauna e flora da Amazônia, embora o que ocorreu seja de fato preocupante. O verdadeiro motivo para tal preocupação é que o governo do presidente Bolsonaro adotou medidas nas relações internacionais que vão de encontro aos interesses comerciais e políticos da União Europeia, agora enfraquecida pela saída do Reino Unidos. Economicamente não é bom para a França que tenta se recuperar de uma crise econômica e social. Está aí a verdadeira preocupação da França e da Alemanha. No fim tudo se resume a interesses puramente econômicos. Estão de olho em nossas riquezas naturais. Depende de nós não perder aquilo que é nosso pelo menos há 500 anos.

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A VIRTUDE DO EGOÍSMO

     O livro A Virtude do Egoísmo é uma coleção de ensaios escritos pela filósofa e escritora Ayn Rand, publicada originalmente em 1964. A obra contém reflexões da filosofia objetivista de Rand, que defende a razão, o individualismo e a liberdade como valores fundamentais para a plena realização do indivíduo. Nestes ensaios Rand argumenta que o egoísmo racional é a base moral para uma sociedade livre e próspera e que o coletivismo e o altruísmo são a sua antítese moral. Para Rand o coletivismo não é superior ao indivíduo, pelo contrário a insigne autora afirma que o trabalho produtivo vem da mente racional e, portanto, não é produto do coletivo, mas do indivíduo. 

     De acordo com a sua filosofia, o egoísmo não deve ser confundido com o altruísmo, que ela considera um conceito moralmente falho. Em vez disso, Rand defende que o indivíduo deve buscar a sua própria felicidade e realização pessoal, desde que não viole os direitos dos outros. Ela argumenta que a busca pela felicidade individual é a base do progresso humano. Isto porque ao pautar por uma vida voltada para seu eu, o indivíduo moralmente racional e produtivo é obrigado a conviver com os outros. Neste sentido, Rand postula que a atitude de cooperação voluntária com os outros indivíduos é a forma mais eficiente de alcançar objetivos em comum, pois é na realização de objetivos individuais que nascem as condições para que todos sejam felizes.

     Para entender a filosofia de Ayn Rand é preciso conhecer alguns conceitos fundamentais da estruturação do pensamento randiano. Noções como valor, indivíduo, metafísica, egoísmo, moralidade e ética adquirem significados e sentidos diretos e objetivos. Rand define assim a moralidade e a ética,

a moralidade é um código de valores que guia as escolhas e as ações do homem, escolhas e ações que determinam o propósito e o rumo de sua vida. A ética, como ciência, busca descobrir e definir esse código”.

    Rand acredita que valor tem que ter um propósito objetivo e um aplicação bem direcionada, pois para ela,

valor é aquilo pelo que alguém age para obter e/ou manter. Valor não é um conceito primário, pois pressupõe uma resposta à pergunta: de valor para quem e para quê? Pressupõe uma entidade capaz de agir para alcançar um objetivo frente a uma alternativa. Onde não há alternativas, não pode haver objetivos nem valores“. 

     Eis aqui o exato significado axiomático do objetivismo como algo que se volta para o indivíduo. Se o valor não tem um propósito a que servir, estamos falando da ausência de propósito em uma sociedade sem escolhas. Para Rand o conceito de valor no âmbito moral e ético se aplica unicamente à vida, ou seja, ao indivíduo, razão pela qual ela postula, 

“é apenas o conceito de ‘vida’ que torna possível o conceito de ‘valor’. Só para um ser vivo as coisas podem ser boas ou más”. 

     Para Ayn Rand o conceito de valor está atrelado a vida. Para ela só existe valor porque existe vida (vale uma ressalva nesta asserção: a vida a que Ayn Rand se refere é a vida ativa produtiva). Ayn Rand não vê sentido em falar de valores éticos de uma pedra, mas faz todo o sentido pensar em termos humanos. Rand sustenta que é o conceito de vida que torna o valor possível.

     É desse pensamento que Ayn Rand extrai a sua noção de bem e mal e consequentemente o que é a ética da perspectiva do objetivismo. Por essa razão Ayn Rand atrela valor a um objetivo. Seus personagens são guiados por objetivos e dos quais extraem a sua ética. Em seus romances os personagens são alimentados pela dor de um mundo que não os compreende mas que eles ignoram.

Agora, de que maneira um ser humano descobre o conceito de “valor”? Por quais meios ele toma consciência da questão do “bem e do mal” em sua forma mais simples? Mediante as sensações físicas de prazer ou dor.

     Para Rand, nossas ações nascem das escolhas que fazemos para interagir com a realidade unicamente pelos nossos interesses e necessidades objetivas. O rumo e o propósito das nossas vidas são determinados justamente por essas escolhas. Esse código de valores é a moralidade da filosofia de Ayn Rand, é a ética objetivista. Porém, Ayn Rand acredita que como fins últimos para que se alcance uma civilização verdadeiramente sadia, é preciso desafiar a ética moderna que se opõe radicalmente a mente, a razão e a realidade, exatamente os elementos fundacionais da filosofia objetivista.

     À primeira vista, as ideias objetivistas de Ayn Rand causam uma certa indignação, sobretudo, nos espíritos mais progressistas, ideias e valores que lhe são absolutamente estranhos. Entretanto, segundo Ayn Rand, o objetivismo não é uma coleção isolada de ideias egoístas que em detrimento ao indivíduo se ignora o sofrimento alheio. Aqui também se faz necessário entender o que significa sofrimento no objetivismo.

     Toda a filosofia de Ayn Rand está inscrita nos seus romances. Ali os princípios da filosofia de Ayn Rand são a base moral para a construção dos seus personagens. A primeira vista, Hank Rearden, um dos principais protagonistas do romance A Revolta de Atlas, da própria autora, leva a crer que o objetivismo é uma doutrina moral baseada na total insensibilidade aos problemas alheios. O mesmo ocorre com Dagny Taggart, outra personagem aparentemente desprovida de qualquer sentimento altruísta, razão pela qual é perigoso fazer algum julgamento moral da obra sem o entendimento correto da filosofia do objetivismo. Após a compreensão dos seus personagens o leitor percebe que aquilo que o objetivismo ensina tem um significado importante para a construção de uma sociedade realmente livre. Boa leitura!

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UM TETO TODO SEU

     O feminismo clássico de Virginia Woolf representado em sua obra Um Teto Todo Seu poderia ser confrontado com as teorias de gênero em voga? À primeira vista, considerando que Woolf acreditava e postulava a igualdade de gênero, poder-se-ia pensar que sim, Woolf defenderia todas as teorias de gêneros vigentes. Do mesmo modo poderia se perguntar: há algum grau de equivalência entre as duas formas de pensar sobre questões de gêneros? Se Virginia Woolf se transportasse para o século XXI, em que medida ela concordaria com a ideologia de gênero? Para Woolf o homem não é superior à mulher mas sobe nas costas dela para se sentir superior. Ela apontava que, 

“durante os últimos séculos, as mulheres serviram como espelhos dotados do poder mágico e delicioso de refletirem a silhueta dos homens com o dobro do tamanho real”. 

     Com efeito, embora o pensamento woolfiano possa induzir que há uma não concordância ao que as feministas radicais chamam de supremacia do patriarcado, convenhamos, independente da época que Woolf nasceu, as evidências contidas em suas ideias sobre igualdades de gênero nos levam a acreditar que ela ficaria impressionada com as conquistas que sexo feminino alcançaram em nosso tempo. No entanto, ela se assustaria com o que foi feito dessa conquista. 

     O manifesto que Woolf faz em “Um Teto Todo Seu” sugere que ela ficaria decepcionada com as reivindicações contidas na ideologia do feminismo em nosso tempo. Por conseguinte várias questões sobre o feminismo atual são levantadas quando se reflete sobre o pensamento de Woolf sobre a ideologia de gênero. Neste contexto, inquietantes questões surgem ao pensar na ideologia de gênero na concepção de Judith Butler sobre o universo feminino de Woolf. Em que medida Woolf concordaria com Judith Butler? Comparando a visão de ambas sobre o tema Woolf assim pensa sobre a igualdade de gênero: 

Por que os homens bebiam vinho e as mulheres, água? Por que um sexo era tão próspero e o outro, tão pobre? Qual o efeito da pobreza sobre a ficção? Que condições são necessárias para a criação de obras de arte?” 

     As reflexões de Woolf revelam apenas a suas dores e angústias contra uma sociedade machista, mas não significa que coadunam com as ideias de Butler. Há uma distância muito grande entre as teorias acadêmicas de Butler e o pensamento muito particular de Virginia Woolf sobre direitos femininos, até porque Woolf tinha respeito e admiração por muitos homens da sua época. Ela, inclusive, manteve um longevo casamento com Leonard Woolf que a respeitava e a apoiava como mulher e escritora. 

     Woolf compreendia que havia muitas injustiças contra as mulheres mas não parecia querer levar isso à esfera da problematização ideológica. Ela pensava sobre a questão de gênero sempre da perspectiva da vida prática, enquanto Judith Butler, como acadêmica teórica, busca problematizar as questões de gênero. Em sua obra, Woolf se refere a mulher e a ficção, ou seja, mostra o quanto ao longo da história, em questões literária, a mulher é tratada como o sexo ignorante, não se prendendo somente a esse tema, e também à opressão feminina em todos os lugares e épocas. Ela afirma:

“Os homens agora escrevem apenas com o lado masculino do cérebro. É um erro que a mulher os leia, pois irá inevitavelmente procurar algo que não vai encontrar“. 

     A ideia central da obra é que a mulher para ser livre precisa de independência financeira e um lugar seu para que possam fluir suas ideias.

Por isso, quando peço a vocês que ganhem dinheiro e tenham um quarto só seu, estou pedindo que vivam em presença da realidade, uma vida revigorante, ao que parece, quer consigam ou não a transmitir”.

     Vale ressaltar que a obra de Woolf trata de um pedido para uma mulher (ela própria) escrever um livro de ficção. É sobre esse tema que ela desenvolve a sua crítica em favor dos direitos das mulheres. Woolf se insurge contra a supremacia masculina sobre todas as coisas e questiona a sociedade por não reconhecer o papel da mulher como protagonista da história da humanidade. 

Vocês têm ideia de quantos livros são escritos sobre as mulheres no decorrer de um ano? Vocês têm ideia de quantos deles são escritos por homens? Tem consciência de que somos provavelmente o animal mais discutido do universo?”  

     Aqui ela percebe na linha do tempo a partir da ausência de obras escritas por mulheres todo o preconceito que ao longo dos séculos a mulher esteve submetida. Apenas ao final da jornada em sua biblioteca imaginária ela pode observar as mulheres despontando como escritora e sendo levadas a sério. 

     O que aconteceu com as mulheres ao longo da história da humanidade, segundo Woolf, é que embora as mulheres tenham conquistado muito espaço na sociedade ela cometeu um grave erro ao escrever como homem e não como mulheres, de maneira que se via nesses romance a alma masculina quando as autoras deveriam falar sobre mulheres. Há honrosas exceções, a exemplo de Emily Brontë e Jane Austen que se tornaram escritoras reconhecidas a despeito das ácidas observações que uma boa parte dos literários fazia a respeito das suas obras, declara Woolf. Entretanto, Brontë usou pseudônimo masculino para que a sua obra tivesse alguma credibilidade. A essa realidade, escreve Woolf: 

assim, surge um ser composto muito esquisito. Na imaginação, ela é de extrema importância; na vida prática é totalmente insignificante. Ela permeia a poesia de uma ponta a outra, mas está praticamente ausente da história. Na ficção, domina a vida dos reis e conquistadores; na realidade, era escrava de qualquer garoto cujos pais forçaram uma aliança em seu dedo. Algumas das palavras mais inspiradas e dos pensamentos mais profundos da literatura saíram de seus lábios; na vida real ela mal conseguia ser ouvida, não sabia soletrar e era propriedade do marido“. 

     Nesta reflexão Woolf mostra que a mulher se tornou uma figura do próprio homem. Que a mulher oculta a originalidade do seu pensamento e passa a escrever como homem para que o seu trabalho não seja rejeitado. 

     No contexto até aqui apresentado, é provável que Woolf desaprovasse o comportamento das feministas dos dias atuais, uma vez que ela não reconheceria os seus atos e perceberia espantada que as mulheres não lutaram para se tornarem aquilo que elas tanto condenaram nos homens. Essa reflexão conflita com o pensamento que a mulher feminista radicais de hoje, longe de lutar por igualdade de gênero, buscam a total aniquilação do homem e a tudo aquilo que ele representa. Woolf não era uma feminista radical. Ela pregava que era fundamental para a harmonia da vida a existência de dois sexos, desde que o sexo masculino não se achasse superior ao sexo feminino: 

Seria uma enorme pena se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se assemelhassem aos homens, pois, se dois sexos não são exatamente suficientes, considerando a vastidão e a variedade do mundo, como faríamos com apenas um?”

     Aqui vemos que Woolf entendia como  necessário uma convivência pacífica entre homens e mulheres. Os papéis de ambos convergem em alguns momentos e em outros convivem no mesmo espaço sem que o homem tenha que pensar e agir como mulher e a mulher como homem. 

     Por fim, as mulheres conquistaram muito espaço na sociedade que antes era restrita aos homens. O tempo mostrou que não há diferença entre os sexos e que tanto o homem quanto a mulher em nossa sociedade atual podem e devem habitar os mesmo espaços, terem os mesmos direitos e oportunidades. As mulheres avançaram muito em suas conquistas sociais. Isso não significa que não há mais o que reivindicar. Ainda existem preconceitos contra as mulheres  enraizados nos atos mais banais. O que ocorre hoje é que elas dispõem de mais condições para lutar pelos seus direitos. Entretanto, Woolf mostrou que as mulheres não precisam se tornar inimigas do homem e muito menos querer ocupar o seu lugar.

     Cada um no seu papel, ocupando os mesmos espaços na sociedade e tendo as mesmas oportunidades, será capaz de construir uma sociedade justa e humana para ambos os sexos. As mulheres nasceram com um papel fundamental de perpetuar a humanidade. Esta é a única condição que o homem jamais alcançará. Somos quase 8 bilhões de habitantes e cada um de nós estivemos no ventre de uma mulher. Jesus Cristo esteve no ventre da sua mãe Maria. Bilhões de Marias deram origem à humanidade. O que significaria se as nossas mães, ao defender que seu corpo é seu império, decidisse nos abortar? Seria o fim da humanidade. Eis aí um nobre papel das mulheres que o homem jamais ocupará. Por outro lado, as mulheres querem realizar tanto quanto o homem nos mesmos espaços do homem. Elas precisam desse espaço para mostrar a sua capacidade intelectual e emocional para produzir, criar e ensinar. Portanto, não precisamos viver numa sociedade em que o homem vai para um lado e as mulheres para o outro. Woolf escreveu,

Toda essa insistência em colocar um sexo contra o outro e uma qualidade contra a outra, toda essa pretensão de superioridade e imputação de inferioridade pertencem ao estágio escolar da existência humana, no qual há “lados” e é necessário que um deles vença, e no qual é de máxima importância caminhar até um palco e receber das mãos do diretor em pessoa um troféu altamente ornamentado. Conforme as pessoas amadurecem, elas deixam de acreditar em lados, em diretores ou em troféus altamente ornamentados“. 

     Grandes poderes implicam em grandes responsabilidades. Não há como fugirmos disso. Homens mulheres nasceram para se completar e não para a divisão. No entanto não podemos esquecer que independente do sexo somos todos seres sencientes, emotivos. Temos necessidades próprias e sonhos pessoais. Como vivemos no mesmo mundo, homens e mulheres participam do mesmo espaço com os mesmos anseios e perspectivas. Já a guerra de gênero em nada contribuirá para nos conduzir a uma sociedade justa e próspera. Somente o amor a maior obra de Deus, que somos nós, os frutos da Criação, é que nos conduzirá à vida plena de amor e satisfações pessoais. “Amai-vos uns aos outros como vos amei” ensina o Nosso Senhor Jesus Cristo. O feminismo radical só nos leva à destruição ao propagar o ódio aos homens. Mulheres e homens, amai-vos uns aos outros, assim como Deus vos ama. Boa leitura!

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A NOVA ERA E A REVOLUÇÃO CULTURAL

     Olavo de Carvalho é um renomado crítico da política brasileira, cujos artigos abrangem tópicos como a esquerda, PT, educação, economia, filosofia, história, religião e política, com mais de 40 anos de estudos em seu currículo e uma legião de seguidores na Internet. Sua obra A Nova Era e A Revolução Cultural é um exemplo de sua extensa pesquisa sobre a história do socialismo, comunismo, gramscismo e as consequências da aplicação dessas ideologias à cultura e a educação brasileira. Nesta obra, ele examina os frutos desastrosos das ideias de Fritjof Capra e Antônio Gramsci no Brasil.

     Ao analisar a obra de Fritjof Capra, Olavo de Carvalho aponta os absurdos e as consequências das ideias do autor, que acreditava que o mundo estava prestes a passar por uma transformação que elevaria a humanidade a um patamar cósmico diferente de tudo que estamos acostumados, uma sociedade libertadora onde o homem integrado à natureza não conheceria limites para os seus objetivos. Uma luta do “bem”  contra tudo o que o ocidente representa. Segundo Olavo de Carvalho, Capra acreditava que a humanidade dependia do “Ponto de Mutação” para entrar em uma nova era holística. Olavo de Carvalho explica que Capra anunciava a existência de três sinais para essa mudança que já estavam em curso e que marcaram o advento da Nova Era: a humanidade deixará de consumir combustível fóssil, o fim do patriarcado, a substituição dos paradigmas científicos vigentes por outro de base holística. Na década de 70 e 80 era comum o aparecimento de “messias” anunciando um novo mundo. Esse movimento era conhecido como New Age, sendo Fritjof Capra um dos seus principais gurus. 

Há no livro do sr. Capra uma infinidade de erros e contrassensos, além dos mencionados. Apontá-los e corrigi-los todos requereria um volumoso comentário: uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de poder ser mais breve do que a sua retificação.

    Segundo Olavo de Carvalho o livro de Fritjof Capra não passa de ilusões de uma mente distorcida cujas visões da “Nova Era” foram fruto dos delírios embalados pelas drogas psicodélicas. Para Olavo de Carvalho há muitas distorções da realidade na forma que Fritjof Capra as apresenta.

Mas não é só ela que está enganada. O profeta do engano também se engana: ele imagina trazer ao mundo a sabedoria, quando traz o obscurecimento e a confusão. Imagina trazer uma nova profecia, quando traz o cumprimento de uma velha maldição.

     No entanto, Olavo de Carvalho argumenta que as ideias mais perigosas foram as de Antônio Gramsci e sua Revolução Cultural, que deixaram sequelas terríveis em todos os segmentos da sociedade brasileira, espalhando-se como um câncer sobre a cultura e a intelectualidade brasileira. Gramsci acreditava que era necessário uma revolução cultural para se chegar ao socialismo e implantar o comunismo. No Brasil, nas décadas seguintes aos anos 60, a esquerda impregnada pelas doutrinação gramsciana aplicou ipsis litteris às estratégias de Antônio Gramsci.

A mitologia gramsciana, diagnosticando pomposamente a “transição para um novo bloco histórico”, deu uma legitimação verbal a essas pretensões, e eis que o Brasil, mal tendo ingressado no caminho da democracia, já se apressa a abandoná-lo pelo atalho da revolução. Aonde ele leva, é algo que o mundo sabe, mas que importa o conhecimento do mundo às hordas de menores-de-idade que a lisonja esquerdista consagrada em norma constitucional transformou na parcela decisiva do eleitorado, dando-lhes poder antes de lhes dar educação.

Isso porque segundo Olavo de Carvalho…

O que interessa não é tanto a convicção política expressa, mas o fundo inconsciente do “senso comum”, Gramsci está menos interessado em persuasão racional do que em influência psicológica, em agir sobre a imaginação e o sentimento. Daí sua ênfase na educação primária. Seja para formar os futuros ”intelectuais orgânicos”. Seja simplesmente para predispor o povo aos sentimentos desejados, é muito importante que a influência comunista atinja sua clientela quando seus cérebros ainda estão tenros e incapazes de resistência crítica.

     Gramsci não acreditava na luta armada. Para ele, a estratégia de tomada do poder consiste em lentamente se infiltrar nas instituições públicas para enfraquecer os seus valores até a sua total destruição. O alvo mais importante da estratégia gramsciana é a educação e a cultura. Sem o domínio de ambas a revolução cultural é impossível. Basta que as ideias comunistas sejam plantadas por intelectuais orgânicos – militantes que defendem cegamente a ideologia comunista – dentro das instituições culturais e educacionais para que artistas e educadores se encarreguem de implantá-las na cabeça da juventude. Após algumas gerações o comunismo terá um exército de defensores. Olavo de Carvalho mostra que foi exatamente isso que aconteceu no Brasil.

Gramsci concebeu uma dessas ideias engenhosas, que só ocorrem aos homens de ação quando a impossibilidade de agir os compele a meditações profundas: amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto ainda, vivendo num quadro externo capitalista. Assim, quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior naturalidade.

     Com efeito, em sua maioria, os profissionais que trabalham na direção da imprensa estão a serviços da Revolução Cultural porque são filhos dela. O mesmo se confirma em relação à maioria dos intelectuais brasileiros. Infectados pelas ideias socialistas, lutam contra o capitalismo, inimigo comum dos quais obtém os seus sustentos. O que se vê é a predominância do pensamento esquerdista nos órgãos públicos, na educação e na cultura. Olavo de Carvalho sustenta que os intelectuais são a peça chave para a vitória da Revolução Cultural que se implantou no Brasil.

Os intelectuais no sentido elástico são o verdadeiro exército da revolução gramsciana, incumbido de realizar a primeira e mais decisiva etapa da estratégia, que é a conquista da hegemonia, um processo longo. complexo e sutil de mutações psicológicas graduais e crescentes, que a tomada do poder apenas coroa como uma espécie de orgasmo político.

     As ideias de Capra e Gramsci, movidas pela necessidade de transformar o Brasil em um éden socialista, estão em desacordo com os valores tradicionais e conduziram o país ao afundamento dos mesmos. Infelizmente, no Brasil de hoje, Capra e Gramsci parecem ter vencido, e Olavo de Carvalho estava certo em alertar para os perigos dessas ideologias. No entanto, o problema não está apenas nas ideologias, mas nos brasileiros que se permitem viver em um estado de servidão e ignorância. 

“Nova Era” da qual Fritjof Capra se tornou festejado porta-voz e a “Revolução Cultural” de Antonio Gramsci têm algo em comum: ambas pretendem introduzir no espírito humano modificações vastas, profundas e irreversíveis. Ambas convocam à ruptura com o passado, e propõem à humanidade um novo céu e uma nova terra. […]Nenhuma das duas foi jamais submetida ao mais breve exame crítico. Aceitas por mera simpatia à primeira vista, penetram, propagam-se, ganham poder sobre as consciências, tornam-se forças decisivas na condução da vida de milhões de pessoas que jamais ouviram falar delas, mas que padecem os efeitos do seu impacto cultural.

     Entretanto, Olavo de Carvalho observa que no Brasil, no final das contas, quem venceu a guerra foi a Nova Era de Fritjof Capra, pois esta mesma derrotou o comunismo. Todavia, acreditamos que este seria um ponto de reavaliação da obra de Olavo de Carvalho, uma vez que nos últimos cinco anos vimos no Brasil a ascensão do comunismo e as suas vertentes. No entanto, admitimos que a tal Nova Era transmutou-se em ideologia de vanguarda esquerdista pós-moderna.

No Brasil, [sobre o comunismo] conquistou praticamente a esquerda inteira, e o PT é um partido essencialmente gramsciano, admita-o ou não explicitamente. Mas o intento de renovação foi fraco e tardio: o comunismo acabou sendo derrotado pela ascensão mundial da ideologia da Nova Era. Afinal. a mistura de física quântica e simbolismos orientais, experiências psíquicas e sexo livre, promessas de paz e miragens de autorrealização, que essa ideologia oferece, é infinitamente mais sedutora do que qualquer “historicismo absoluto.

     Em suma, ficamos com o alerta que Olavo de Carvalho faz sobre a estratégica para a hegemonia segundo Gramsci. O perigo com as escolhas que recentemente fizemos impactam diretamente na vida de cada um de nós. Estarmos alerta e combativos é preciso porque os oponentes não descansam. A sombra da Revolução Cultural paira no ar “como nunca antes na história deste país “.

Quando um partido político assume publicamente sua identidade gramsciana, é que a fase do combate informal a decisiva já está para terminar, pois seus resultados foram atingidos. Vai começar a luta pelo poder. O que marca esta nova fase é que todos os adversários ideológicos já foram vencidos ou estão moribundos; nenhum outro discurso ideológico se opõe ao gramscismo, e os adversários políticos que restam lhe dão ainda maior reforço, na medida em que. não possuindo alternativa mental, pensam dentro dos quadros conceituais e valorativos demarcados por ele e só podem combatê-lo em nome dele mesmo. Isto é hegemonia.

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A DESOBEDIÊNCIA CIVIL

     Em que medida a desobediência civil pode ser considerada um instrumento legítimo de reivindicações populares? Quando um indivíduo faz uso dessa manifestação, ele tem mesma responsabilidade civil que quando é praticado por um grupo? O cidadão civil se revolta contra o líder público quando este deixa de cumprir suas obrigações e age em benefício próprio em detrimento da provisão de conforto e segurança para o povo. Os cidadãos e as cidadãs têm o direito e a responsabilidade de se envolverem em um diálogo crítico com o poder político, questionando a legitimidade de suas ações e defendendo seus direitos e interesses. A desobediência civil, nesse sentido, pode ser vista como um ato de resistência e afirmação da liberdade e da justiça, que implica um compromisso ético com a ação política e a transformação social. 

     Por que obedecer às leis que longe dos benefícios que se pretendem nos impõe pesados ônus?  De que maneira que os cidadãos esperam que seus governantes cumpram seu papel de criar um espaço onde as pessoas possam viver felizes, seguras e prósperas – este espaço sendo a nação e o território, nele o indivíduo nutre o sentimento de pertencimento e amor pelo solo pátrio. Neste contexto, as leis são um instrumento pelo qual a ordem é garantida. A lei não pode oprimir o indivíduo. Leis que implicam em prejuízo para quem elas deveriam proteger é um corolário do despotismo. Diante dessa perspectiva, é compreensível que a população se revolte quando confrontada com a opressão dos déspotas. Consequentemente, esses fatores dão legitimidade à desobediência civil.

     Em 1846, Emerson David Thoreau, um inglês insatisfeito com a guerra que seu país empreendia contra o México, revoltado com a escravidão e o tratamento dado aos índios, protestos contra o governo não pagando os impostos e por isso foi preso por um dia. Em seu opúsculo, A Desobediência Civil, Thoreau questiona a legitimidade do poder político e afirma a importância da autonomia individual em relação ao Estado. Para ele, a desobediência civil é uma forma de resistência pacífica que permite ao indivíduo demostrar o seu repúdio e independência moral contra as manobras políticas. Thoreau destaca a importância da consciência individual e do questionamento crítico como elementos fundamentais da ação política e da luta pela justiça social.

O Estado nunca confronta intencionalmente a consciência intelectual ou moral de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos, Ele não está equipado com uma inteligência superior ou honestidade, mas com força física superior. Não nasci para ser forçado. (Thoreau)

     “Para todo o direito há deveres”, essa é uma regra aprendida no início do curso de direito. O indivíduo comum traz essa noção implicitamente em sua vida. Do mesmo modo, “o direito de um, implica o dever do outro”, de maneira que  sem essas distinções simples a vida em sociedade se torna insustentável. Pagar os impostos, não infligir as leis, é fundamental para a vida em sociedade. Sem esses atributos de civilização seria, nas palavras de Thomas Hobbes, “a luta de todos contra todos”, em outras palavras, o caos social. Todavia, as leis não podem tirar a liberdade do cidadão de bem e os impostos não podem ser cobrados de maneira injusta. O objetivo primordial das suas existências e aplicações é proporcionar aos indivíduos em sociedade segurança e bem-estar.

     Os impostos são importantes porque é através deles que o Estado desenvolve um espaço onde possamos desfrutar da nossa liberdade, criar e educar os nossos filhos e proteger as nossas propriedades. As leis são importantes porque é através delas que reivindicamos nossos direitos, geramos a relação de confiança nos acordos e contratos e evitamos a desordem através do estabelecimento e aplicação de regras de convivência. Contudo é contra os excessos dos impostos e o abuso na aplicação das leis que os cidadãos e cidadãs se revoltam, pois cobranças exageradas e desnecessárias de impostos é uma extorsão. Do mesmo modo, leis criadas com o propósito de atender a interesses particulares são injustas e desumanas.

     O povo não pode aceitar que o político abuse dos recursos que nós, quando o escolhemos para governar esperávamos que estes fossem aplicados em nosso proveito. Por isso a desobediência civil é o meio pelo qual o indivíduo ou a comunidade pode,  sem o uso de meios violentos, reivindicar os seus direitos, pois é verdade, o Estado não pode impor os seus imperativos políticos sem que o povo esteja em total consonância com estes.

Se uma planta não pode viver de acordo com sua natureza, ela morre; o mesmo vale para o homem. (Thoreau)

     Um governo justo é aquele que é depositário da fé do seu povo. Agir de maneira diferente aos interesses do povo é traí-lo. O povo não escolhe seus líderes políticos para serem traídos por eles. O povo os escolhe para serem representantes legítimos dos seus interesses. Sendo assim, senhores governantes, conduzam a nação do povo para o povo. Não pense que vocês sabem o que o povo quer porque não sabem. Mas o povo sabe o que quer. Isso fica latente quando a voz do povo é realmente ecoada nos palácios. Quando o povo cede um pouco da sua liberdade  e recursos para viver em ordem e segurança é porque espera que o governante crie um espaço para a sua prosperidade.

     Em resumo, a desobediência civil pode ser vista como uma forma de ação política e ética que reivindica a autonomia individual, a liberdade e a justiça social. Entretanto, numa democracia conduzida por governantes justos, a desobediência civil deve ser o último instrumento que o cidadão deve utilizar como manifestação contra a espoliação dos seus governantes, pois ao agir assim pode criar as condições necessárias  para a desordem civil, sérios riscos de levar a sociedade para a anarquia. 

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FAMÍLIAS EM PERIGO

     A psicóloga brasileira Marisa Lobo, em sua obra Famílias em Perigo, rejeita a ideologia de gênero como uma falácia perigosa que tem por objetivo a subversão dos valores morais, religiosos e familiares. A autora, em particular, discorre sobre os riscos e problemas associados à difusão da ideologia de gênero nas escolas e sua exposição a crianças entre 3 e 10 anos de idade. São 22 capítulos dedicados à refutação da ideologia de gênero.

     A solidariedade em relação à causa LGBT é um fenômeno salutar e incentivável. Como grupo que defende direitos legítimos, o movimento LGBT tende a crescer e a receber cada vez mais apoio da sociedade, visto que a valorização da diversidade é essencial para a nossa civilização. Entretanto, a problematização dos direitos assegurados aos LGBT e a politização de questões de gênero em ideologias que confrontam os direitos dos indivíduos de outras posições é uma questão preocupante. A situação se agrava ainda mais quando a ideologia de gênero é introduzida em instituições de ensino e influencia o pensamento de crianças. 

     Marisa Lobo observa que estamos vivendo a maior ditadura de “gêneros” de todos os tempos, com contornos de subversão e esquizofrenia social“. Marisa Lobo convoca-nos a uma luta árdua contra essa ditadura se quisermos ainda continuar falando em família, tradição e valores cristãos. Tudo isso está com os seus dias contados se nada fizermos para mostrar a sociedade o quão nocivo é a ideologia de gênero. Diante do que aqui foi exposto qual é o objetivo da ideologia de gênero? Segundo Marisa Lobo, a ordem é perverter todo e qualquer sentido natural de toda a história da natureza humana.

     A autora alerta que  os heterossexuais estão ameaçados e podem desaparecer como a união necessária para constituir a família tradicional.  Isso porque a família que a ideologia de gênero professa não é a composta por pai, mãe e filhos,  mas uma junção de pessoas, independente do sexo, para cuidar de crianças ou adolescentes. Pois o conceito de família do pós-modernismo é que pais biológicos são uma invencionice de pessoas retrógradas. Para os ideólogos de gênero, país e mãe pode ser qualquer um que cuide e que o fato biológico seja irrelevante.

Em nome da “emancipação do ser”, ignorando o caráter normal de sanidade mental, os limites sociais e a natureza humana, seguem desconstruindo, difamando, manipulando qualquer base, regras e qualquer sentido da vida humana.

     Um dos temas frequentemente discutidos em relação à controvérsia em torno da ideologia de gênero é a questão da igualdade de direitos. Segundo a psicóloga Marisa Lobo, a noção de igualdade de direitos, quando utilizada em prol da ideologia de gênero, é paradoxal, pois desconsidera completamente as distinções biológicas entre os gêneros. Tal perspectiva propõe que as pessoas nascem sem um sexo definido e que a identidade de gênero é uma construção social.

Essa ideologia de gênero tenta anular todas as diferenças entre os seres humanos, esquecendo que homens e mulheres são biológica, psicológica e culturalmente diferentes e que apenas com a compreensão dessas diferenças é que conseguiremos contemplar a verdadeira igualdade.

     Lamentavelmente, o discurso acerca da necessidade de espaços para debate sobre a ideologia de gênero tem sido unilateral, com seus defensores rejeitando a possibilidade de considerar pontos de vista contrários e impondo apenas uma visão unidimensional da questão. Isso tem levado à recusa em questionar aspectos fundamentais que compõem a ideologia de gênero. Tal postura é desconcertante, uma vez que a discussão aberta e democrática acerca dessa temática é fundamental.

Os que não aceitam essa ideologia, essa desconstrução social, cultural e sexual, são rotulados de obscurantistas, sexistas, preconceituosos, racistas e homofóbicos. São perseguidos profissionalmente e pessoalmente, assassinados em sua moral. Esses movimentos estão promovendo um colapso cultural, destruindo todo e qualquer valor humano que conhecemos como civilização e humanidade. Precisamos reagir, ou seremos engolidos por essa ditadura.

Religião 

     A cristofobia, caracterizada pelo sentimento de ódio e preconceito direcionado aos cristãos, tem sido solidificada por meio das mídias e instituições, com o intuito de erradicar o cristianismo, que é considerado pelos militantes LGBT da ideologia de gênero como uma ameaça aos seus propósitos. A intolerância e a falta de respeito são armas utilizadas contra os cristãos. A intolerância aos cristãos é evidenciada por meio de zombarias em relação à fé, pelo ataque aos seus símbolos, acusando-nos de ultrapassados e supersticiosos. Para o marxismo, além da família, a religião era o ópio do povo e uma forma de opressão de uma classe sobre a outra. Gramsci ao seu turno com a sua guerra de expansão encontrou uma forma eficaz de subverter a igreja: infiltrando nela as suas raízes marxistas que deram origem a vertentes do cristianismo, como a teologia da libertação, de tal maneira que a igreja cristã está diante de uma série crise de identidade.

Família 

     O propósito primordial das ideologias de gênero é a aniquilação da família tradicional. Conforme defendido por seus adeptos, a família representa a antítese de seus valores e princípios, uma vez que a estrutura familiar composta por pai, mãe e filhos é percebida como uma afronta a suas concepções. Entretanto, diante da força da família tradicional, seus princípios se dissolvem e são postos em xeque. A dissolução completa e irreversível da instituição familiar é concebida como um plano marxista, conforme aponta a reflexão da psicóloga Marisa Lobo. A visão de Karl Marx e Engels, por exemplo, pregava o fim da família tradicional.     

Valores morais

     A ideologia de gêneros é a desconstrução dos valores judaico-cristã e tudo o que ele representa. Não existe o certo e errado, prega a ideologia. A moralidade é um constructo heteronormativo do patriarcado branco ocidental. Neste sentido a autora mostra que tudo o que pensamos passa pelo filtro do relativismo moral. Uma vez que não existe o certo e o errado os valores morais desaparecem.

     Em toda obra o objetivo da Marisa Lobo é esclarecer para as pessoas sobre o perigo que representa a ideologia de gênero e as suas consequências, sobretudo quando levada às escolas e ministrada no ensino infantil. A obra é uma conscientização à preservação da vida, da família, da religião e dos valores morais. Por outro lado, o livro refuta o relativismo moral e cultural que está destruindo a nossa sociedade. 

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DEMOCRACIA E LIDERANÇA

     Em sua obra Democracia e Liderança Irving Babbitt crítica à visão socialista dominante na sociedade ocidental do século XX que ele considerava amoral, cientificista e utilitarista. Da perspectiva da cosmovisão conservadora, o livro  é uma crítica a democracia moderna e aos os problemas de liderança política na sociedade ocidental. Para Babbitt, a formação de líderes pautados na ética e na moral é fundamental para a democracia. Na concepção de Babbitt o líder deve ser virtuoso e capaz de conduzir a nação com sabedoria e prudência. Para isso, Babbitt enfatiza que o líder deve possuir valores sólidos que o ajudem a tomar decisões racionais e morais. O seu pensamento político é também uma crítica ao individualismo e ao relativismo, tão em voga em sua época. Do mesmo modo, Babbitt refuta a perspectiva utilitarista e alerta para os perigos da educação voltada apenas para formar técnicos.

     Irving Babbitt (1865-1933) foi um crítico literário e professor universitário americano, conhecido por seu trabalho na área de humanidades e educação clássica. Ele foi um dos fundadores do movimento humanista americano no início do século XX. Babbitt defendia uma educação clássica que valorizasse a literatura e a cultura ocidentais e que enfatizasse o ensino de valores tradicionais como a moderação, a prudência e a autodisciplina. Ele foi um crítico implacável do progressivismo na educação, argumentando que as ideias progressistas levavam à decadência moral e cultural. O pensamento político de Babbitt teve um forte impacto em seu tempo e foi comentado por muitos pensadores importantes, incluindo T.S. Eliot e C.S. Lewis. No entanto, suas ideias foram amplamente contestadas pelos críticos literários e educadores mais progressistas, que argumentaram que sua ênfase na tradição e na autoridade limitava a criatividade e a liberdade individual.

     Em “Os Tipos de Pensamento Político”, capítulo em que Babbitt analisa o absolutismo monárquico e o sistema parlamentar de governo e a relação com a vontade popular, ele observa que as regras da moralidade comum podem estar presentes nas relações entre homens, mas desempenham papel apenas secundário nas relações entre Estados; o que prevalece nessas últimas é a lei da esperteza e a lei da força. O homem é um animal moral, mas ao seu turno o Estado não é. Quando o homem ingressa no Estado com este se confunde assumindo deste o caráter amoral. Por outro lado, a democracia exerce uma forte influência sobre os homens de governo, não no sentido literal do significado da democracia, mas como subterfúgios para as suas ações e privilégios. 

     A democracia sem freios pode em certo sentido ser pior que o absolutismo, que na linguagem política atual podemos chamar de totalitarismo. Nascem desse pensamento as inclinações de Babbitt para o argumento do governo aristocrático. Ele assegura que no cômputo final, o único freio contra os males da democracia ilimitada será encontrado no reconhecimento de alguma forma de princípio aristocrático. Platão via na democracia a oportunidade para o despotismo. O homem político deve sempre estar à altura do seu cargo político. Para isso ele precisa ser virtuoso e prudente, pois a ideia de governar para a maioria pode parecer um contrassenso. Como governar para a maioria sem ser injusto com a outra parte é um dos maiores desafios da democracia representativa.

     Um líder que defende a democracia em sua plenitude, entenda-se aqui satisfazer as necessidades de todos indistintamente, deverá ter um espírito de solidariedade universal capaz de enxergar a necessidade de todos do ponto de vista social e moral. Esse líder é um humanista no sentido estrito da palavra. Babbitt acredita que um líder deve chegar nas profundezas daqueles que ele governa e representá-los como o líder moralmente capaz. Para ser genuinamente religioso ou humanista, é necessário que exista, seja na forma de graça divina, seja de livre opção moral, um poder no coração do indivíduo que o eleve acima da natureza física, observa Babbitt. Longe deve estar dos olhos do líder humanista o autoritarismo, o despotismo e toda a sorte de vícios que distorcem e maculam a democracia.

     O problema que permeia a democracia e a liderança infelizmente não arrefeceu com a evolução da sociedade. O problema de identidade da democracia era evidente nos tempos de Platão, foi no tempo de Babbitt e continua sendo nos tempos atuais. A democracia em nossos dias se confunde com o autoritarismo. Basta observar governos na América Latina, no continente africano e em alguns países asiáticos para se constatar o farto uso da palavra democracia que longe está do seu significado mais nobre, que é dar ao povo o poder de governar. Para Babbitt, “no longo prazo, a democracia será julgada, tal qual outras formas de governo, pela qualidade de seus líderes, a qual, por sua vez, dependerá da qualidade de suas visões”. Porém, a realidade mostra que cada vez mais a demagogia faz parte da vida desses líderes. Disso decorre que do surgimento de líderes que tenham recuperado de algum modo as verdades da vida interior e repudiado os erros do naturalismo pode depender a própria sobrevivência da civilização ocidental, argumenta Babbit. Há uma crise na democracia. Ela é séria. Todo o sistema aproxima-se do seu declínio.

    Por fim, a reflexão que se pode fazer a partir de Democracia e Liderança é que é necessário buscar o equilíbrio entre o poder e a liberdade na democracia, pois conforme argumenta Babbitt, a democracia moderna tem dado ênfase excessiva à liberdade individual, em detrimento do poder e da autoridade. Por sua vez, a autoridade carece de uma legitimidade moral. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre a liberdade individual e a autoridade moral de maneira garantir a estabilidade e a prosperidade da sociedade.

 

Os líderes podem variar em qualidade, desde o homem que é tão leal aos padrões sólidos que inspira a conduta correta nos outros pela estrita correção de seu exemplo até o homem em nada superior à lei da astúcia e à lei da força, e assim é, no sentido que procurei definir, imperialista. (Babbit)

Deve-se, por tanto, para o bem da própria democracia, procurar substituir a doutrina dos direitos do homem pela do homem direito. (Babbit)

As mudanças significativas, particularmente em nossa própria têmpera nacional, devem-se, afinal, ao fato de o cristianismo protestante, de modo específico ao da forma puritana, vir cedendo espaço para o humanitarismo. (Babbit)

A enorme quantidade de leis que temos aprovado é uma das muitas provas de que caminhamos cada vez mais para a ilegalidade. (Babbit)

Uma democracia, o observador realista é forçado a concluir, é provavelmente idealista nos sentimentos a seu próprio respeito, mas imperialista em sua prática. (Babbit)

A marca registrada do materialismo, que é a de encarar a propriedade não como meio para determinado fim mas como um fim em si mesma, está mais e mais visível. (Babbit)

Pode-se sintetizar aquilo que parece ser nossa inclinação total no presente dizendo que caminhamos através de uma orgia de legalismo humanitarista na direção de um imperialismo decadente. (Babbit)

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RUPTURA

   “Sopram ventos malignos no planeta azul. Nossas vidas titubeiam no turbilhão de múltiplas crises. Uma crise econômica que se prolonga em precariedade de trabalho e em salários de pobreza. Um terrorismo fanático que fratura a convivência humana, aumenta o medo cotidiano e dá amparo à restrição da liberdade em nome da segurança. Uma marcha aparentemente inelutável rumo à inabitabilidade de nosso único lar, a Terra. Assim, o professor e escritor espanhol Manuel Castells, especializado em análise de como a tecnologia interfere nas nossas vidas de uma perspectiva política, inicia esta visão ensaística em seu livro Ruptura – a crise da democracia liberal, sobre a falência da democracia liberal na era da Internet. 

   Esta obra procura demonstrar como em uma democracia rompemos com certos valores em nome da liberalidade e como isso causou uma fissura na relação de confiança entre as pessoas, os políticos e as instituições.  O livro revela que o poder das mídias, explorados pelas elites governantes tecnocratas, grandes responsáveis por formar a opinião comum, encontra na própria liberdade que o indivíduo possui na Internet um forte elemento agregador dessa quebra de legitimidade das instituições políticas. 

   Neste sentido, a obra rompe com várias estruturas sociais conforme esclarece Manuel Castells: “Uma permanente ameaças de guerras atrozes como forma de lidar com os conflitos; um violência crescente contra as mulheres que ousaram ser elas mesmas; um galáxia de comunicação dominada pela mentira, agora chamada pós-verdade; uma sociedade sem privacidade, na qual nos transformamos em dados; e uma cultura denominada entretenimento, construída sobre estímulo de nossos baixos instintos e a comercialização de nossos demônios”Manuel Castells observa aqui que estamos vivendo tempos sombrios. Tudo isso sob a promessa de uma sociedade justa e democrática.

   Democracia, em princípio, supostamente é o que há de melhor como sistema político e de governança para uma sociedade justa, mas que na prática é pervertida num processo de injustiça coletiva. Deveras, onde todos mandam não há quem obedeça e, portanto, não há ordem e sem ordenamento impera o Instituto da anarquia.

   Neste sentido, alerta Manuel Castells, estamos órfão de um abrigo que nos proteja em nome de interesses comuns. A isto, Manuel Castells chama a atenção para a nossa incapacidade de lidar com as múltiplas crises que envenenam as nossas vidas. Daí ele afirma que há uma ruptura da relação entre governantes e governados. Neste sentido fica evidenciado que o autor não tem como alvo crítico os sistemas de governos, mas a pessoa moral e ética que se encontra no controle destes sistemas. Como ele bem argumenta, não se trata de opções políticas de esquerda e direita, mas de um colapso gradual de um modelo político de representação e governança. Com efeito, Manuel Castells assevera que isso assinala o fim da democracia liberal que se havia consolidado nos dois últimos séculos, à custa de lágrimas, suor e sangue, contra os Estados autoritários e o arbítrio institucional

   Para o autor, no momento estamos vivenciando uma profunda crise de legitimidade política e institucional. Não confiamos nos nossos políticos. Eles, na maioria, não nos representam. Para Castells, na atualidade, a internet é a maior  responsável pelo aumento do desconforto que apresentamos pelos nossos políticos, porque, afirma Castells, a luta pelo poder nas sociedades democráticas atuais passa pela política midiática, passa pela política do escândalo. 

   Manuel Castells, lembra que os lemas “Não nos representam” é um esforço em países que ansiavam por uma verdadeira democracia e um grito contra todos os governantes que pretendiam governar para os seus interesses, ignorando a vontade e crenças do povo. Para Manuel Castells, este grito não é uma rejeição à democracia, mas à democracia liberal tal como existe em cada país, em nome da democracia real”. Desta maneira, adverte o autor, Trump, Brexit, Le Pen, Macron e tantos outros líderes políticos são lideranças que na prática, negam as formas partidárias existentes e alteram de forma profunda a ordem política nacional e mundial”. 

   Note-se às análises de Manuel Castells recai não sobre os Estados Unidos, mas também Europa, América Latina e Ásia e desta forma deixa claro que neste momento a problemática discutida não se restringe a territórios locais, mas ao território mundial, ou ainda mais profundo, fere as bases da democracia e o sistema de governos representativos.

   Em suma, Ruptura – a crise da democracia liberal não é mais um livro que se posiciona à esquerda ou à direita, mas que adverte sobre um grave problema a perpassa a democracia representativa. Aos poucos, o conceito de democracia está sendo modificado para um significado que o mantém distante da sua forma original. Nas suas variadas vertentes, reside o perigo da dissolução dos seus princípios norteadores. 

   O Manuel Castells deixa nesta obra uma advertência às instituições que subvertem os valores democráticos sob o comando de governantes corrupto e déspotas, ao mesmo tempo que lança um alerta  cidadãos do mundo para que se mantenham alertas e gritem sempre que os sistemas representativos em voga não os representem.

Porque quanto mais abstrato se torna o sistema de poder articulado nas redes, mais a defesa do direito a ser se refugia em identidades irredutíveis às lógicas dominantes. Ao poder da Rede opõe-se o poder da identidade.

Nessa situação de crise estrutural e bloqueio institucional, são os movimentos sociais autônomos, como tantas vezes na história, que exploram novas formas de ação coletiva enraizadas na vivência daqueles que produzem, vivem, sofrem, amam e projetam na urdidura da experiência humana.

O Brexit não debilitou somente o projeto europeu, como também, de forma inesperada e indireta, o consenso neoliberal da classe política.

O pertencimento racial foi o indicador-chave dessa reação maciça dos brancos. Parece que a eleição de Obama, em vez de ter apaziguado o racismo, aguçou-o, levando para Trump o voto do ressentimento racial dos brancos, particularmente acentuado entre os brancos de menor instrução, mas igualmente majoritário entre os homens da classe média com qualificação profissional.

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O QUE SE VÊ E O QUE NÃO SE VÊ

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   Para o economista francês Frédéric Bastiat (1801-1850) os governos da sua época ocultavam do povo as suas verdadeiras intenções. Aquilo que era feito à vista, na verdade, escondia os verdadeiros objetivos dos governantes. O povo recebia migalhas enquanto era … Continue lendo

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