Bertrand Russel, uma das mentes mais lúcidas do século XX e também uma personalidade polêmica por causa do seu agnosticismo, escreveu no livro “No que Acredito” as suas idéias ousadas e controversas que causaram mal-estar nos religiosos por entendê-las blasfemas.

“No que Acredito”, um conjunto de idéias escritas em 1925, Russell expõe seus pensamentos sobre a religião como um instrumento de supressão dos direitos naturais do indivíduo, vendo na religião elementos da superstição que conduzem o homem a ignorância.

No livro, Russel trata de temas comuns, temas humanos em que ele dá ênfase ao humano, e observa:

“o medo é a base do dogma religioso, assim como de muitas outras coisas na vida. O medo dos seres humanos, individual ou coletivamente, domina muito de nossa vida social, mas é o medo da natureza que dá origem à religião. ”.
Para Russel, o medo da natureza era o medo dos fenômenos naturais não compreendidos pelos homens. Ele acreditava que este medo pela natureza fazia com que o homem buscasse na religião a “força” que ele precisava para suportar os perigos e conviver com os mistérios da vida perante a sua insignificância diante da grandiosidade de tais fenômenos.

Russel descreve que as religiões tem uma influência tão grande sobre homem, que este criou um Deus a sua semelhança para se sentir protegido, conforme o seu texto:

“Se o mundo é controlado por Deus, e Deus pode ser movido pela prece, somos detentores de uma parcela dessa onipotência. ”

Em outras palavras, é muito confortante saber que existe um “Deus” infinitamente superior a nós, capaz de nos entender, nos condenar ou no salvar, mas acima de tudo que tenha as nossas características humanas, ou como diria Nietzsche “humano demasiadamente humano”.

Por outro lado, Russel aposta na natureza boa do homem como forma de viver em um mundo difícil. Ele assim expressa:

“A vida virtuosa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento.”, e ainda,“Nem o amor sem conhecimento, nem o conhecimento sem o amor podem produzir uma vida virtuosa. ”

Eis ai uma questão que daria muitas discussões entre os religiosos e os não religiosos, mas não vejo o que tal discussão traria de bom para ambos os lados, pois ninguém tem as chaves da verdade.

Longe de mim querer ser um crítico de Bertrand Russel, não tenho competência para tal, mas entendo que “No que Acredito” é a exposição interior de um homem que tem a coragem de falar no que acredita e que como ateu ou agnóstico, não importa, compreende a complexidade humana e a sua falibilidade e não se coloca no papel de juiz.