DIÁLOGO NO INFERNO ENTRE MAQUIAVEL E MONTESQUIEU

Na segunda metade do século XIX a França era governada pelo rei Napoleão III. Apesar de muitos pontos positivos do seu governo pois ao final foi visto como um governo “liberal” , conforme historiadores, havia muito autoritarismo e grandes pensadores da época como Victor Hugo e Maurice Joly não estava nada contente com isto, pois achavam que o governo continuava após a Revolução Francesa, com os mesmos princípios absolutistas e totalitarista e que caminhava na contramão das correntes libertárias em curso. Neste período viveu Maurice Joly (1829-1878), um francês humorista e advogado conhecido por seu trabalho intitulado “O Diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu“. No livro, publicado em 1864, Maurice revela a ditadura de Napoleão III, ao mesmo tempo expressa e seu desejo por um nação democrática e baseada em princípios da liberdade. O livro é um ataque direto a Napoleão III.

Para representar as suas idéias sobre despotismo e liberdade Maurice Joly, usou dois personagens politicamente antagônicos em suas idéias: Representando a democracia e os ideais liberais estava Montesquieu, autor do livro “Dos Espírito das Leis” e “Cartas Persas” entre outras obras. Do outro lado, estava a figura mais controversa entre os pensadores renascentistas: Maquiavel, o autor de “O Tratado do Príncipe”, também conhecido como “O Príncipe” que descreve um conjunto de orientações destinado a Lourenço de Medici que versa sobre como manter seu reinado eternamente de acordo coma sua absoluta vontade, em outra palavras, governar despoticamente.

Ambos personagens se encontram no inferno e travam uma batalha de princípios éticos e morais.

Maquiavel expõe para um Montesquieu estupefato pelas perfídias do seu opositor aos princípios humanistas, todas as artimanhas para se manter no poder absoluto, onde se aplica a sua máxima: os fins justificam os meios. Entrementes, Montesquieu tenta mostrar para o Maquiavel que sua escola faliu e não há mais razão para defender o totalitarismo absolutista. Uma visão otimista de Montesquieu que em parte não se realizou a não ser no mundo das teorias e das utopias.

Infelizmente esta bela obra de Maurice Joly só teve o reconhecimento do seu real valor ao final do século XX, pois 20 anos após o seu lançamento, o livro caiu nas mão de Mathieu Golovinski, russo, exilado na França a serviço da policia secreta do czar Nicolau II. Conforme nota explicativa no livro, “o objetivo dessa polícia era tentar convencer o czar que havia uma conspiração judaica por trás das revoltas que começavam assolar a Rússia. Percebendo o potencial do livro de Joly, Golovinski produziu um plágio grosseiro – Os Protocolos dos Sábios de Sião – em que um suposto grupo de judeus e maçons influentes descrevia seu plano de dominação mundial, traçado durante um encontro secreto.”

Devido a semelhança do estilo, o protocolo foi atribuído a Joly e este passou a ser acusado, pós-morte, de antissemitas o que ganhou força após a segunda guerra mundial na tentativa europeia e estadunidense de reparar o terrível erro que o mundo cometeu ao fechar os olhos para o “holocausto“.

Mesmo depois da farsa revelada, ainda assim, os acusadores e adeptos do Protocolo continuaram propagando mais mentiras sobre a vida do Joly dizendo que ele tinha origens semíticas e traços maçônicos.
Conta-se que Golovinski substitui no plágio: Maquiavel pelos judeus e no lugar do Montesquieu, colocou o povo.

O tradutor do livro faz a seguinte nota sobre a fatalidade dos acontecimentos sobre o plágio da obra :

“O engraçado sobre Joly foi a triste ironia de sua obra: admirável em todos os pontos, incisiva, implacavelmente logica e construída de uma maneira soberba. Montesquieu e Maquiavel discutem os méritos do liberalismo e do despotismo no mundo moderno. Porem, sua maior fama se deu a uma farsa montada de seu livro; ele ficou mais conhecido pela farsa do que pelo livro original.”

Abaixo alguns textos do livro:

A doutrina Maquiavel fica explicita neste explicação que Maquiavel dá a Montesquieu sobre a natureza do homem:
“O instinto mau do homem é mais poderoso que do que o bom. O homem é mais inclinado para o mal que para o bem; o temor e a força tem sobre ele mais poder que a razão.”

“O que controla esses animais que se devoram, que se chamam homens? A origem das sociedades e a força bruta e sem freios[…] Vós haveis consultar todas as fontes da história; em tudo a força aparece antes do direito. A liberdade política não é senão uma ideia relativa a necessidade de ser e o que domina os Estados como os indivíduos. Sobre certas latitudes da Europa, existem povos incapazes de exercício da liberdade. Se a liberdade se prolonga, ela se transforma em licenciosidade; a guerra civil ou social chega, e o Estado perdido, seja que ele se divida e se desmembre pelo efeito de suas próprias convulsões. Nas condições semelhantes os povos preferem o despotismo a anarquia; estarão errados?

Ao que o Montesquieu responde:

“Oh! Maquiavel, que Sócrates não esteja aqui para emolir o sofisma que se esconde nas suas palavras! Tão pouco apto que natureza me fez para a discussão não me é muito difícil de vos responder: Vós comparais ao veneno e a doença os males engendrados pelo espírito de dominação, de astúcia e de violência; essas são as doenças que os vossos escritos ensinam como meio de se comunicar com os Estados, esses são os venenos que vos aprendestes a destilar.”

Maquiavel discorda de Montesquieu sobre os adjetivos que este lhes atribui:

“E isto que atrapalha, Montesquieu, a exemplo daqueles que tem me julgado como vós. Meu único crime foi dizer as verdades aos povos como aos reis; não só a verdade moral, mas a verdade política; não só a verdade como ela deveria ser; mas tal qual é e tal qual será sempre. Não sou eu que sou fundador da doutrina cuja a paternidade me é atribuída; é o coração humano. O maquiavelismo é anterior a Maquiavel.”

Sobre a servidão ao qual está condenado o povo, Maquiavel diz:

“[…] o seu gosto inerte pela servidão, a sua incapacidade de conceber e de respeitar as condições da vida livre, é uma força cega que se dissolverá cedo ou tarde, se ela não estiver nas mãos de um só homem eu respondo que o povo livre de si mesmo não saberá senão destruir; que ele não saberá jamais administrar, nem julgar e nem fazer a guerra.”

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1 Comentário

  1. Se os protocolos dos sábios de Sião são uma falsificação segundob os conquistadores do mundo que classificam’nos como bestas e inferiores, e que os judeus têm o direito soberbo e divino de governar-nos segundo BEGIN, o que faz esta ” falsificada” obra no livro “O pensamento vivo de Lenin”? Exaltando o comunismo. Quem foram os artífices da “Revolução Bolchevique? Quem executou a família Romanov? Não poupando sequer seu cão de estimação? Quem financiou a guerra civil americana? Quem manipula as bolsas, e desestabiliza governos? Quem são os donos da BLACK ROCK e VANGUARD? Porque assassinaram Kennedy? Já ouviu falar na Ordem Executiva 11110?

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