Sempre me preocupou o fato da intelectualidade da esquerda estar à frente dos intelectuais conservadores nos quesitos discursos e retóricas na defesas de suas idéias políticas.  Supondo que a minha preocupação tenha fundamento, então o que falta aos intelectuais conservadores para defender suas idéias como o fazem tão bem os intelectuais de esquerda? Ao ler o livro de um dos maiores expoente do conservadorismo da atualidade, O que é  Conservadorismo, do filósofo britânico Roger Scruton, ficou claro para mim que esta é  uma preocupação também do autor.

“Como sugeri, o conservadorismo enquanto força motivadora na vida política do cidadão é distintivamente inarticulado, relutante em (e, em verdade, comumente incapaz de) traduzir-se em fórmulas ou máximas, contrário a estabelecer seu propósito ou declarar seu ponto de vista. já houve conservadores articulados -Aristóteles, Hume e T. 5. Eliot, por exemplo. Embora eles tenham influenciado o curso da política, isso tem-se dado sempre indiretamente e não por causa de algum ideal político específico ao qual seus nomes tenham sido associados. De fato, se é verdade que o conservadorismo se torna consciente apenas quando é forçado a sê-lo, então é inevitável que a passagem da prática à teoria não será recompensada por nenhuma influência imediata da teoria sobre o que é feito. Não obstante, os intelectuais desejam manter suas crenças suspendidas conscientemente sobre suas mentes e não ficarão satisfeitos num mundo perturbado pelo partidarismo em se ver sem argumentos no meio da briga.”

“A tarefa deste livro é encontrar os conceitos com os quais os conservadores possam munir-se de um credo e, talvez, definir a própria posição, quer como políticos quer simplesmente como animais políticos. Isso, repitamos, não é um exercício de filosofia…”

As consequências para os conservadores: suas idéias e filosofia são graves, pois conforme alerta Scruton carece de um estatuto que transforme e fortaleça as bases filosóficas do conservadorismo, encontre a doutrina e sob as quais prepare seus adeptos à ação.

“Como não há uma política conservadora universal, surgiu a ilusão de que não há nenhum pensamento conservador, nenhum conjunto de crenças ou princípios, nenhuma visão geral da sociedade que motive os conservadores a agir. Sua ação é mera reação; sua política, a procrastinação; sua crença, a nostalgia. “

Scruton assevera que provavelmente a maior dificuldade de construir a doutrina resida justamente naquilo que os conservadores mais valorizam: autoridade, obediência e tradição.

“Uma doutrina política, porém, deve conter um motivo para a ação e uma fonte de magnetismo. Os conservadores incapazes que são de recorrer ao futuro utópico ou a qualquer futuro que, de certo modo, já não esteja contido no presente e no passado devem valer-se de concepções que são diretamente aplicáveis às coisas como são e, ao mesmo tempo, indicadoras de uma força motivadora no povo. E essa força deve ser tão grande quanto o desejo por “liberdade” e por “justiça social” apresentado por seus rivais. Há três conceitos que se apresentam imediatamente e cuja aplicação contemporânea devemos analisar: autoridade, obediência e tradição.”

Sendo assim, como estabelecer uma doutrina que sem cair em utopias precisa alçar vôos mais aberto e ao mesmo tempo manter os princípios que a identifica como tal? A resposta a isso encontra – se em compreender os princípios do conservadorismo, sua  filosofia e crenças.  Esta me parece ser a proposta do autor do livro.