REIVINDICAÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES

 

Discordo do subtítulo do livro Reivindicação dos Direitos das Mulheres  da filósofa Mary Wollstonecraft que chama-se “O Primeiro Grito Feminista”, pois acho-o incorreto, considerando que na época não existia a palavra “feminista” como reivindicação dos direitos das mulheres.

Acredito que, muito diferente da ideologia feminista de hoje, Wollstonecraft deixou um legado que foi o germe que levou às mulheres a muitas conquistas como, o direito de votar, trabalhar, estudar, em suma: escolher os seus próprios caminhos e ter os mesmos direitos que os homens.

Wollstonecraft não frequentou as renomadas universidades da época. Nascida numa época de renovação dos ideais humanos, no meio da efervescência Iluminista e da onda revolucionária francesa (Revolução Francesa), Wollstonecraft foi filha da classe média, participava de encontros alternativos aos meios acadêmicos onde podia explorar o universo literário da sua época. Era leitora voraz e dona de um intelecto afiado, características que a colocaram a frente dos problemas das sociedades da sua época. Graças ao seu espírito indomável e uma poderosa convicção de que algo estava muito errado em relação aos direitos das mulheres, travou debates com homens calibrosos no tocante a intelectualidade e a importância dos seus pensamentos em relação aos direitos humanos como Edmund Burker (cuja obra, Reflexões sobre a Revolução na França foi alvo de duras críticas de Wollstonecraft), Thomas Paine, Charles Taileyrand, J. J. Rousseau e nunca ficando aquém destes nas reflexões sobre os problemas sociais e culturais da sua época.

Em suas reflexões, analisou com minuciosidade os aspectos que davam às mulheres um papel secundário na sociedade, sobretudo, no tocante às áreas compreendidas como terrenos apenas para os homens, como política, filosofia, economia etc. Ela foi certamente uma mulher a frente do seu tempo. Isto está claro em seu livro Reivindicação dos Direitos das Mulheres. Ela enfrentou com a vastidão do seu intelecto, sociedades, sobretudo a inglesa, que tratavam a mulher como um ser inferior. Manteve intensos debates intelectuais em favor das mulheres. Entretanto, reconhecia que parte da servidão em que viviam as mulheres do seu tempo, tinha origem nas próprias mulheres.

Reivindicação dos Direitos das Mulheres é uma resposta ao documento mais representativo da Revolução Francesa, A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que trata dos direitos individuais e coletivos dos homens. Wollstonecraft argumentava que o documento não observava os direitos das mulheres. Assim ela escreve sobre suas reflexões sobre estado servil em que vivia as mulheres da sua época.

Para Wollstonecraft, a superioridade do homem residia na potência dos seus músculos. Fora isso, a mulher era igual em intelecto e virtude. Ela afirmava que basta que estes aspectos, explorados no homem em tenra idade, fosse também exercitado nas mulheres.

“Admito que a força parece oferecer ao homem uma superioridade natural sobre as mulheres; mas essa é a única base sólida para essa ascendência sexual.”

Wollstonecraft vai mais além e assevera:

“Eu amos os homens como os meus companheiros; mas o seu cetro, real ou usurpado, não se estende a mim, exceto se a razão de um individuo demanda a minha homenagem; e ainda assim, a submissão será à razão, e não ao homem.”

Mas como pode haver um dialogo intelectual entre homens e mulheres se esta última foi preparada desde   criança para ser uma criatura submissa ao homem e às futilidades femininas? Estes problemas foram intensamente refletidos por Wollstonecraft à luz de uma sociedade que estava satisfeita com o papel das mulheres.

No capítulo V, “Críticas a alguns escritores que tornaram as mulheres objetos de piedade, beirando o desprezo”, Wollstonecraft critica a supremacia falaciosa do homem sobre a mulher, fruto das ideias daqueles que se propunham a renovar o homem e a sociedade. Entre eles, destaca-se J. J. Rousseau, em que ela faz duras críticas a obra Emílio e sobre as reflexões adequadas à educação feminina, ambos de autoria de Rousseau, por considerá-lo ofensivo a dignidade da mulher. Assim, ela segue em direção a outros autores, John Milton, James Fordyce e analisa os espinhos sobre os quais estes homens de respeitados intelectos, construíram em seus discursos e literaturas a alegórica figura feminina: fraca, incapaz, fútil, burra, cuja objetivo maior é ser objeto do homem a servir os seus vícios.

Eis ai a verdadeira luta pela emancipação da mulher. Não fomentada por pessoas histéricas, que nada entendem de fato do direito da mulher (na realidade, direitos de todos), e que na maioria das vezes, influenciadas por quem na verdade quer manter a caricatura imortalizada em seus erros passados para justificar os seus sonhos delirantes de liberdade. Na realidades elas estão presa no calabouço por elas próprias criados.

Mary Wollstonecraft nunca defendeu a ideologia de gênero. Como cristã, valorizou o casamento como uma instituição importante para o amadurecimento da sociedade. Ela apenas almejava igualdade entre homens e mulheres, pois compreendia que ambos os sexos a partir do exercício das faculdades intelectuais, da manutenção da razão e das virtudes em busca do conhecimento, fariam a união perfeita entre o homem e a mulher. Wollstonecraft, como mãe, como esposa, como cristã,  jamais confundiu o papel de ambos. Ela sabia que o casamento com base no respeito mútuo, embalado pelos revigorantes diálogo pautados na busca do conhecimento e aprimoramento do intelecto, eram fatores para o fortalecimento da posição da mulher na sociedade como participantes ativas das mais importantes decisões.

O que foi iniciado por Wollstonecraft e Olympe de Gourges, outra expoente da luta em favor dos direitos da mulher, não deve morrer, outrossim, ser sempre revestido dos argumentos pautados no bom senso que fez de Wollstonecraft uma das grandes mulheres do seu tempo.

 

 

 

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1 Comentário

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