Na extensa investigação compilada em seu livro Iluminismo Radical do eminente acadêmico Jonathan Israel, professor de destaque na Universidade de Princeton, o nascimento da modernidade é meticulosamente delineado com base nas concepções radicais e revolucionárias de dois notáveis pensadores, René Descartes e Baruch Spinoza. Através de suas influentes e perigosas contribuições, inúmeros outros intelectuais, sejam eles proeminentes ou menos conhecidos, deixaram sua marca na evolução do pensamento filosófico durante a era moderna, culminando na concepção e consolidação do secularismo. Israel caracteriza essa fase do Iluminismo como “radical” devido à sua notável adesão a uma ortodoxia de pensamento que promovia o deísmo e até mesmo o ateísmo como princípios fundamentais, opondo-se aos pensamentos preponderantes da época.

     No contexto do Iluminismo, um movimento intelectual reformista de pensamento filosófico, político e social que floresceu no século XVIII, é recorrente observar que a maioria dos acadêmicos que aborda o assunto faz menção aos nomes de Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, D’Alambert e Diderot como os proeminentes e destacados pensadores dessa influente corrente de pensamento, notadamente durante sua fase tardia, também denominada de Alto Iluminismo. De fato, esses filósofos desempenharam um papel fundamental nessa época. Entretanto, é relevante assinalar que as raízes do Iluminismo remontam ao período de aproximadamente 1630, e dois pensadores em particular são considerados precursores essenciais de todos os outros filósofos iluministas que posteriormente se destacaram no século XVIII: René Descartes e Baruch Spinoza. Eles constituíram as figuras proeminentes do que é convencionalmente chamado de “Iluminismo Primitivo”.

     O referido evento histórico, por vezes, apresenta semelhanças incontestáveis com outro notório acontecimento de caráter histórico, a saber, a Revolução Francesa. Esta analogia torna-se patente no contexto da obra “Iluminismo Radical”, uma vez que o autor omite deliberadamente qualquer referência ao crítico período da modernidade. Tal decisão do autor é plenamente justificável, pois é comum que muitos eruditos incorram no equívoco de vincular a Revolução Francesa ao movimento do Iluminismo, embora seja inegável a influência substancial da primeira sobre o último. A questão em destaque reside na percepção de que esses acadêmicos, em sua maioria, tendem a obscurecer as facetas mais sombrias da Revolução, camuflando-as sob o brilho das ideias iluministas que permearam intensamente o século XVIII. No entanto, é salutar ressaltar que a intenção deste texto não consiste em abordar essa temática complexa, mas sim em contribuir para a divulgação pública desta monumental obra.

     Em nossa análise, o livro intitulado Iluminismo Radical representa uma pesquisa abrangente acerca de um período frequentemente negligenciado na história da Era das Luzes. Com mais de 780 páginas dedicadas à investigação da evolução do Iluminismo primordial, abrangendo o período de 1650 a 1750, esta obra notável se destaca por sua profunda análise dos acontecimentos de suma importância para a compreensão mais ampla deste relevante movimento intelectual. Para além disso, oferece um estudo minucioso sobre o papel desempenhado por Descartes e Spinoza na gestação das ideias iluministas, ao mesmo tempo que lança luz sobre muitos outros pensadores, ainda pouco conhecidos, que desempenharam papéis igualmente cruciais. Este livro evidencia claramente que há vastos horizontes de investigação a serem explorados no que concerne à evolução histórica do Iluminismo. É inegável que a obra sublinha a importância fundamental do spinozismo na fundamentação das correntes de pensamento europeu posteriores.

     Nomes de filósofos notáveis, tais como Rousseau, Locke, Montesquieu, Voltaire, Diderot e D’Alambert, evocam imediatamente o contexto do Iluminismo, juntamente com figuras como Descartes e Spinoza. Esses pensadores são exaustivamente examinados na obra de Jonathan Israel. No entanto, é pertinente questionar quantos estão familiarizados com a contribuição intelectual de nomes menos proeminentes, como Bossuet, Huet, Steno, Mansvelt, Maresius, Wittichius, Le Clerc, Limborch, Jaquelot, Malebranche, Lamy, Régis e Houtteville, além de Bayle, Boyle, Leenhof e Bekker. Estes eruditos, muitas vezes negligenciados, desempenharam papéis igualmente significativos na moldagem do Iluminismo radical, como destacado pelo autor. É evidente que o movimento das Luzes transcendeu amplamente o conhecimento convencional, abrangendo uma diversidade notável de correntes de pensamento, incluindo o espinozismo, cartesianismo e coccianismo.

     Antes do advento do Iluminismo, é imperativo conduzir uma análise detalhada dos períodos precedentes a 1650, a fim de contextualizar as origens e as bases históricas dos primeiros movimentos iluministas, bem como compreender as influências sobre as ideias de pensadores como Spinoza. Dois períodos cruciais que antecedem o Iluminismo são o mercantilismo, que emerge no final do século XV com as Grandes Navegações, e o Renascimento, marcando a entrada da Europa em uma era de renovação cultural e intelectual. Estes períodos servem como alicerce para a compreensão das circunstâncias históricas que moldaram o pensamento iluminista inicial. A interseção entre o mercantilismo e o Renascimento desempenha um papel fundamental na contextualização das influências sobre Spinoza. Portanto, examinar as raízes dessas duas ideias e as fontes de inspiração por trás delas é essencial para a compreensão mais profunda das origens do Iluminismo.

     “O Iluminismo, um movimento intelectual que se originou durante o período da Renascença, se destacou por sua oposição ao poder absoluto dos monarcas, à influência da religião e à persistência da superstição. Este movimento foi marcado por uma busca fervorosa pelo conhecimento, promovendo a centralidade do ser humano como medida de todas as coisas e, consequentemente, questionando a concepção de um Deus pessoal. Uma obra em particular desempenhou um papel fundamental na consolidação dessas ideias, frequentemente levando a discussões que resultavam em posições que variavam do ateísmo ao deísmo. Os trabalhos notáveis do filósofo Baruch Spinoza, nomeadamente o ‘Tratado Teológico-Político’ e ‘Ética’, destacaram-se como produções intelectuais de maior impacto no século XVII. De acordo com o autor do livro ‘Iluminismo Radical’, Spinoza foi uma figura central neste movimento intelectual.”

     As concepções filosóficas de Baruch Spinoza relacionadas a Deus, religião e Estado suscitaram considerável controvérsia no seio da comunidade intelectual, gerando facções de apoio e oposição, além de provocar uma profunda instabilidade nos alicerces dos dogmas da religião revelada. À época, a obra de Spinoza era percebida como altamente subversiva. Sem dúvida, sua obra “Ética” também exercia uma influência potencialmente disruptiva na perspectiva da classe dominante, no entanto, seu “Tratado Teológico-Político” foi particularmente impactante, atraindo tanto acadêmicos quanto jovens estudantes e até mesmo indivíduos de destaque na sociedade. É inegável que essas ideias tornaram Spinoza uma figura indesejada em grande parte dos círculos intelectuais europeus. No entanto, é igualmente verdadeiro que o pensamento destemido desse filósofo pioneiro antecipou décadas de desenvolvimento no pensamento moderno.