O filósofo Luiz Felipe Pondé em seu livro A Era do Ressentimento alerta que a sociedade ocidental é formada por indivíduos ressentidos. Este sentimento, que segundo o autor é o filho sofisticado da inveja, está presente em todos nós e nunca esteve tão disfarçado em boas intenções como em nossos tempos. Segundo Pondé, seremos lembrados como a sociedade dos ressentidos: “Lembrarão de nós como mimados, ressentidos e covardes. “

Talvez a origem desse animal ressentido, esteja naquilo que Pondé chama de A Tragédia do Secularismo em que ele assevera que: “O mundo contemporâneo é marcado pela opção secular. Esta se caracteriza por uma vida ‘racional’ e programada, distante de doutrinas religiosas, pautada pela democracia liberal de consumo e pelo conhecimento agregado da ciência. “

O ressentimento nos torna pessoas mascaradas numa sociedade perfeitinha e simplista para ficar bem nos selfies. A esta simplicidade de pele de cordeiro, Pondé sustenta:

“O mal-estar romântico se caracteriza pela sensação, muitas vezes vaga e imprecisa, de que se perdeu algo quando se atingiu as certezas cientificas, a vida eficaz, os direitos democráticos, os ‘avanços’ do narcisismo” como forma de personalidade autocentrada. “

O ressentimento está tão presente entre nós que não percebemos. Este pode ter origem no fato de não aceitarmos que a vida ‘não é bela’. Pondé explica:

“Ressentidos são pessoas que passam a vida buscando não sentir o que a vida é: falta de sentido, indiferença, incerteza, sofrimento ou o que os psicanalistas chamam de ‘falta’. “

Negamos nossas fragilidades buscando o belo artificial, amamos mais o espelho que o a nós mesmos, o nosso eu verdadeiro repleto de defeitos e medos. O cantor Caetano Veloso já nos avisava em sua canção que ‘Narciso acha feio o que não é espelho’. Preferimos o eu talhado nas academias e em salões da vaidade a nos enxergarmos como realmente somos. Por isso odiamos tudo que pode nos revelar feios e medrosos, fracos e assustados. Pondé nos alerta que:

“Somos seres assustados. O mundo nunca viu gente tão acuada como nós. Não envelhecemos, apodrecemos. A maturidade está fora de moda. O espelho é nosso algoz. Os mais jovens, em pânico, fingindo que não, sofrem diante de pais e mães ridículos em seus modos e rostos falsamente juvenis. “

Pondé refuta este comportamento com afirmação que nos nossos tempos poderia se tornar um texto de outdoor: “O Narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é um miserável afetivo. “

O livro a Era do Ressentimento nos mostrar quão vazias são as nossas vidas, desprovidas de sentido verdadeiramente nobres, baseada nas coisas que elevam o espírito. José Ingeniero talvez, se hoje vivo não reescreveria a sua obra clássica “O Homem Medíocre”, pois faltar-lhe-ia adjetivos que pudessem qualificar bem o homem ‘humano’ de hoje. É difícil prever o que seremos e como estaremos daqui a 50 anos como pessoas. Provavelmente vamos viver mais, sairemos mais em defesa do planeta, lutaremos com mais ímpeto pelas causas das minorias, seremos pessoas mais ‘realizadas’, ‘engajadas’ e ‘felizes’. Porém prefiro ver o mundo futuro, se nessa estrada continuarmos, com a luneta do Pondé que profetiza:

“O que vai matar o mundo contemporâneo são seus sucessos, e não seus fracassos. ”

Até por quê, são os nossos fracassos que nos tornam melhores, se os encaramos de frente e buscamos sobre cada queda um profundo aprendizado do que somos e para quê estamos aqui.