Ortodoxia é um livro fantástico não somente pelas defesas do cristianismo, mas principalmente por ser este um retrato da vida do autor. G. K. Chesterton foi um dos maiores pensadores que ajudaram a cultivar a fé cristã. Chesterton impressiona não só pela sua refinada inteligência, como pela suas convicções  inabaláveis em Deus e no homem.

Esta resenha poderia mostrar que Ortodoxia é tão somente uma defesa aos princípios cristãos.  Mas isto seria insuficiente diante da profundidade abissal desta obra. Em Ortodoxia, Chesterton vai muito além das questões da fé, da filosofia, do cristianismo ou de uma autobiografia. Este livro é o próprio Chesterton em páginas.

Em Ortodoxia, Chesterton resgata as idéias de ilustres homens da sua época e lança luz a escuridão para os que caminham longe da fé. Com a sua forma de argumentar permeada de analogias, aprofunda nos problemas humanos tantos quanto busca nos estudos deste a compreensão da sua própria vida.

Ao fazer a sua auto análise publicando-a em páginas,  coloca no divã todos os seus leitores que como ele buscam a verdade. Não é  possível ler Ortodoxia sem sair deste com grandes tremores nos alicerces das nossas convicções, estejam elas ou não de acordo com a filosofia cristã.

Portanto, para os que buscam a solidificação da sua fé,  sobretudo a fé  cristã; para aqueles céticos e pragmáticos que vêem o cosmo e nega o cósmico; para quem ainda acha que o mundo mudou tanto que não há mais crenças inabaláveis, ler Ortodoxia levará o leitor a novos pontos de reflexão sobre o homem e sobre a vida.

Ortodoxia reabre o debate sobre  a loucura dos gênios com suas excessivas confianças em oposição ao místico, o determinismo em oposição ao livre arbítrio. Em outras palavras a humildade diante dos mistérios em oposição ao racionalismo.

Este dualismo depara-se com as contradições existentes no cristianismo. Contudo estas contradições  foram necessária como as águas do rio que contorna as pedras, que com o tempo manterá sempre o seu fluxo e criará novas passagens por entre as pedras. A milenar história do cristianismo mostra o quanto estes paradoxos foram importantes para a sua existência. Sendo o homem paradoxal a sua religião também o é  para então compreende-lo.

A arrogância intelectual é o suicídio do pensamento, segundo Chesterton, do ponto de vista racional em oposição ao místico e as fadas. O reino dos elfos é mais, filosoficamente pensando, humano que o reino da razão e o seu determinismo imaginado pelos senhores letrados. Simplicidade é  o caminho. Neste sentido, Chesterton coloca a força e a fé de Joana DArc sobre o niilismo de Nietzsche e a simplicidade aristocrática de Tolstoi.

Ortodoxia é  uma lição de valorização a vida simples, o resgate a filosofia natural da natureza e o reencontro com Deus.

Leitura recomendada

São Francisco de Assis e São Tomás de Aquino