Problemas de Gênero

Em 1791 na França Olympe de Gouge em sua “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã” iniciava o processo da lutar secular da mulher pelo direito de ser reconhecida como mulher e cidadã com direitos iguais aos dos homens.

Em 1792 na Inglaterra Mary Wallstonecraft publicava ” Reivindicação dos direitos da mulher” com igual objetivo.

No Brasil, graças ao trabalho de mulheres como Nísia Floresta que em 1832 publicou “Direitos das mulheres e injustiças dos homens” a mulher adquiriu o direito ao sufrágio em solo brasileiro.

Essas senhoras e muitas outras, com a participação de homens que a acreditavam na igualdade de direito para ambos os sexos, foram responsáveis pelas conquistas alcançadas pelas mulheres. Se eram feministas, estavam longe de serem vistas como as feministas atuais. Família,  casamento, religião eram valores defendidos por essas pioneiras na luta pela igualdade de direito. Elas apenas queriam que seus valores como cidadãs fossem reconhecidos no mundo de supremacia do homem.

Porém, na década de 70 sob a influência de intelectuais como Sartre e de livros como “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir, embalados pelas drogas e muito sexo surgem os movimentos com força na militância política de esquerda e atinge o seu ápice em 1968. Daí em diante o movimento ganha duas vertentes: uma que é fiel aos princípios das sufragistas dos séculos passados mantendo-se vigilantes e atuantes na busca desses direitos. Outra que busca a desmoralização do macho como uma espécie que deve ser extinta, e que pretende subverter a sociedade sob o intuito de criar um novo mundo em que valores seculares sejam esmagados.

É  nesta segunda linha que surgem intelectuais feministas como Judith Butler que sob a influência de Beauvoir,  Derrida e Foucault iniciava cedo a sua militância como ativista feminista. Filósofa e nascida nos Estados Unidos, Butler é  autora de muitos livros sobre a liberdade feminina pela segunda vertente. Um destes livros fez muito sucesso entre as feministas brasileiras na década de 1980.

O polêmico livro, Problemas de Gênero – Feminismo e subversão da identidade, discute, analisa e cria proposta para a legitimação da identidade de gênero.

Nesta obra, Butler analisa a questão da heterossexualidade num mundo que cada vez mais perde-se a referência do gênero masculino e feminino, sendo ela mesma uma das ferrenha defensora desta ideia.

“Contudo, o próprio conceito do sexo-como-matéria, do sexo-como-instrumento-de-significação-cultural, é uma formação discursiva que atua como fundação naturalizada da distinção natureza/cultura e das estratégias de dominação por ela sustentadas. A relação binária entre cultura e natureza promove uma relação de hierarquia em que a cultura “impõe“ significado livremente à natureza. transformando-a, consequentemente, num Outro a ser apropriado para seu uso ilimitado, salvaguardando a idealidade do significante e a estrutura de significação conforme o modelo de dominação.”

O livro contém mensagens claras que clamam por mudança que implicam na morte do homem quanto o ser macho do sexo dominante. Nesta obra não se vê  preocupação da autora com as questões da igualdade de direitos entre os sexos. Fica evidente que do ponto de vista da intelectual, a dicotomia binária macho – fêmea, homem – mulher devem desaparecer para dar lugar à espécie unificada de um novo ser.

“Se o gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não se pode dizer que ele decorra de um sexo desta ou daquela maneira. Levada a seu limite lógico, a distinção sexo/gênero sugere uma descontinuidade radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos. Supondo por um momento a estabilidade do sexo binário, não decorre daí que a construção de “homens” se aplique exclusivamente a corpos masculinos, ou que o termo “mulheres” interprete somente corpos femininos. Além disso, mesmo que os sexos pareçam não problematicamente binários em sua morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão para supor que os gêneros também devam permanecer em número de dois.”

No texto abaixo a autora não deixa dúvidas quanto a suas crenças. Ela desconstrói a diferença até mesmo biológica, dado que é impossível descartá-las em qualquer pensamento com tal intuito desestruturante.

“Quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino, tanto um corpo masculino como um feminino.”

No mais, o livro é um mergulho na cabeça da autora e leva o leitor ao abismo abstrato das ideias esquisitas defendidas pela própria. Não parece representar o verdadeiro ideal de valorização da mulher quanto ser humano inteligente, mãe dedicada,  esposa amorosa, profissional altamente competente, defensora da ordem e da moral e mulher liberal. A luta da mulher deve ser pela sua liberdade, respeito em todos os aspectos, e igualdade de direito sempre.

 

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