Um dos pontos fundamentais das ideias de Ivan Illich nesta obra é que a escola tem uma finalidade: construir hoje o consumidor do amanhã, tal é a sua crença de que a escolarização cria as demandas de consumo que vão escravizar os ex-alunos. Educação escolar e economia são dois lados de uma mesma moeda que, na perspectiva do autor, é o tecnicismo trabalhando a favor do capitalismo. A proposta, A Sociedade sem Escola, como bem descreve o título do livro, é a ideia de uma sociedade sem escola em que a educação fosse livre da ordem e da hierarquização do ensino institucional. Na utópica sociedade de Ivan Illich as crianças aprendem por convivência na comunidade e encontram sua profissão naqueles autodidatas que estão à sua disposição. Para que o projeto seja possível, o autor propõe que sejam feitos encontros, longe das paredes dos “presídios das escolas”, onde com liberdade e um toque de anarquia, conhecimentos e descobertas aconteceriam, tudo num ambiente, libertário,  agradável e longe das salas sufocantes.

Entre linhas percebe-se que o autor fala de uma revolução da educação nos moldes da revolução dos proletários, aquela propalada pela turma dos marxistas. Fato, a obra é impregnada de marxismo anárquico e, por isso, apesar de usar muito a expressão liberal fica claro que tirando a ideia de uma educação libertária, e porque não dizer anárquica,  é mais um pano de fundo para os velhos temas e retóricas socialistas de sempre. O autor, no contexto educacional, ao propor a desescolarização, não faz outra coisa senão uma revolução cultural, opondo-se às instituições e seguindo a trilha de John Dewey, Anísio Teixeira, Piaget e nosso “ilustre” Paulo Freire e a sua Pedagogia do Oprimido, que aliás, os dois se tinham em alta contas, sendo o autor admirador freiriano. Fica evidente que o autor faz um manifesto a favor da revolução educacional como um corolário da revolução cultural marxista, talvez numa tentativa de corrigir desvios desta última.

Entretanto, é fácil entender que o fim da escola como instituição não é razoável, não é nem mesmo possível, não nos moldes desenhados pelo autor. A sociedade em que o conhecimento é transmitido através de encontros casuais em todos os níveis, conforme propõe o autor, não tem a menor nexo com o mundo real. Não parece ser possível para aqueles que vivem na faixa pobre da sociedade ou abaixo dela, promover algum tipo de escolarização autossuficiente e autogerenciável. No máximo obtém-se aquilo que o meio pode oferecer, não muito distante da conversa de botequim e que certamente está muito distante da alfabetização. Na verdade, troca-se uma escola institucional por uma anárquica cujo objetivo é o mesmo, ou seja, promover a clonagem das mentes pois ao que parece tornaria todo encontro “educacional” num palco exclusivamente espaço de políticas unilateral. Neste contexto, a proposta aparente de escola livre ou liberal não passa de um engodo.