Russell Kirk é considerado o maior defensor do conservadorismo, atualmente. Suas ideias acerca do conservadorismo tem trazido nova luz ao pensamento do conservador moderno tornando-o o maior representante desta corrente de pensamento. Americano de nascimento, Kirk dedicou toda a sua vida à defesa dos valores cristãos, dos valores da família, da proteção propriedade da privada e, sobretudo, a busca pela garantia das liberdades individuais contra o despotismo e, fez desta última a sua maior bandeira a qual dedicou toda a sua vida. Ao longo desta fértil vida Kirk produziu muitas obras sobre o conservadorismo. Todas mantendo o seu estilo enxuto e sem afetações, deixando os seus textos acessíveis a todas as camadas da sociedade. Entre as suas obras encontram-se A Mente Conservadora e A Política da Prudência, que lhe deram destaque e notoriedade. Como as ideias e defesas de Russell Kirk sugerem, nasce-se conservador, mas sê-lo a vida toda exige uma certa busca. Neste sentido muitos são conservadores mas poucos o adotam de fato. Há uma obra de Russell Kirk, uma pequena obra de grande conteúdo, que transmite, para o leitor interessado, o que é o conservadorismo, trazendo a realidade americana as suas bases teóricas e filosóficas, mas que não se restringe a apenas ao povo americano. Trata-se do livro Breve Manual do Conservadorismo. Um opúsculo que busca antes de tudo introduzir os conceitos básicos do conservadorismo na mente daqueles que são diamantes brutos como conservadores, mas que pretendem se esclarecer nas ideias Conservadoras. 

   No livro Breve Manual do Conservadorismo, aprendemos o que é o conservadorismo e como sê-lo sem as costumeiras dificuldades encontradas em textos escritos sobre questões de ideias políticas de compreensão difícil. Como estamos vivendo uma febre sobre o conservadorismo, com muita gente se identificando como conservador, principalmente aqui no Brasil, é realmente importante que se conheça a fundo a sua doutrina a fim de evitar equívoco e estar preparado para responder às refutações dos opositores. 

   Kirk observa que todos de uma forma ou de outra tende a conservar algo. Este é uma condição inata ao indivíduo. Nascemos com essa tendência. Depois, as influências externas tendem a manter o indivíduo na direção conservadora ou seguir outro caminho. Mas de uma maneira ou de outra, mesmo as pessoas de inclinações mas a esquerda tendem a defender e tentam perpetuar certos valores. De maneira que todos somos conservadores. Afinal quem quer ser um dia uma coisa é no outro outra coisa? Quem defende uma ideia hoje é amanhã se opõe a si próprio? Salvo as exceções extremistas, não é normal. Esta é a essência do conservadorismo segundo Kirk. Para Kirk, nossa geração ameaça tudo o que vale a pena conservar. Fazer mera oposição impensada aos eventos atuais, agarrando-nos em desespero ao que ainda temos, não será suficiente nesta era. O conservadorismo instintivo deve ser reforçado pelo conservadorismo pensado e imaginativo“. Kirk exorta-nos a buscar o conservadorismo que há naturalmente em cada um de nós, aquele que ele chama de instintivo, e fortalecê-lo com pensamento e ideias políticas, o que ele chama de conservadorismo pensado e imaginativo. Sem dúvidas, este é o problema da nossa geração. Vivemos sob constante ameaças das ideologias de esquerda que buscam o novo sem nenhuma preocupação com as consequências das suas ideias, enquanto os que se opõem a isso, têm em sua raiz o conservadorismo pessoal, aquele que visa defender o interesse próprio, mas que perde completamente a oportunidade de ganhar musculatura e nos tornar defensores dos valores que são a base do pensamento conservador que, como disse Edmund Burke em outras palavras, devemos conservar as coisas que estão corretas e venceram o tempo e aperfeiçoar o que precisa ser melhorado. 

   Como um bom americano Kirk não poderia pensar em termos de conservação sem estar apoiado sobre a história do povo americano. Neste sentido, ele estabelece alguns princípios segundo os quais o conservadorismo americano se fundamenta, tais como: os homens e nações são governados por leis morais; variedade e diversidade são características de uma civilização avançada; justiça significa que todo o homem e toda mulher tem direito ao que lhe pertence; propriedade e liberdade estão inesperadamente entrelaçadas; o poder é  repleto de perigo; o passado é o grande armazém da sabedoria; a verdadeira comunidade está a um mundo de distância do coletivismo; os conservadores sabem que os homens é as mulheres não são perfeitos e, tão pouco, as instituições políticas. Kirk diz que “quando não é necessário mudar, é necessário não mudar. Eles entendem que homens e mulheres se contentam mais quando podem sentir que vivem em um mundo estável e de valores permanentes“. Correto, quem consegue viver bem em meio a constantes mudanças? Precisamos de seguranças e garantias para dormir e acordar no dia seguinte sabendo que o que nos faz bem é que nos trouxe até aqui continuará. A continuidade de coisas boas é fundamental para o conservador. Não se trata de aversão ao novo, mas preservar instituições e valores que fizeram com que chegássemos até aqui com segurança e conforto. O novo é bem vindo depois que provar que é absolutamente necessário. Provar, principalmente, que não é uma utopia.

   Nesta fabulosa obra sobre o conservadorismo, Kirk escreve sobre os valores e instituições tais como religião, família, propriedade, indivíduo, governo, comunidade, permanência e mudança, mas uma nota se ouve o tempo todo: liberdade. Para um conservador, liberdade é condição primeira para a construção de uma sociedade sadia. Sem liberdade não há família, não há propriedade, não há virtudes, só submissão e servidão. O fundamento do conservadorismo nos diz que o indivíduo, e não  o coletivo, é  a base da sociedade. Kirk defende que numa sociedade em que homens e mulheres trabalham para o bem comum centrada no indivíduo, mas não de forma egoísta, estabelece associações voluntárias em que o produto é a propriedade e a felicidade de todos. Ora, Kirk nos mostra que não há propriedade privada sem liberdade. Portanto, os direitos à propriedade privada e a liberdades são inalienáveis para os conservadores. Kirk acredita que “homens e mulheres têm três direitos fundamentais: o direito à vida, o direito à liberdade e o direito à propriedade privada“. Essa é a cosmovisão do conservador. Somados a isso, os valores, alicerçados pela família e a fé  em Deus são a base para a construção do bem comum sob os quais se ergue a sociedade conservadora e sob as quais pairam um ambiente de amor fraterno em que se respeita e aceita o ser humano com as suas imperfeições, pois acredita que nenhum povo está condenado a morrer nos seus erros. Ser Conservador não é ser um imobilista ou um reacionário. Pelo contrário, o homem é falível, portanto, as suas instituições igualmente. Sendo assim, há momentos em que é necessário melhorar o que vinha funcionando, sem que se perca os seus valores, ao contrário, melhorar para fortificá-los. Essa é  a essência do conservadorismo. 

Conservadorismo é a negação da ideologia“, testifica Kirk. Com efeito, o conservador vê o mundo como um prisma da realidade. Ele acredita que as coisas são como elas são e somente o tempo e a experiência determinam a sua progressão ou permanência. Com os pés no chão e a cabeça na realidade que o cerca, o conservador não faz proselitismo, pelo contrário procura entender que o mundo de iguais é impossível e tenta viver em uma comunhão de amor, paz e prosperidade de maneira que todos de acordo as suas condições encontre a felicidade. O conservador não acredita em paraíso na terra. Pelo contrário, ele sabe que a vida é  difícil e que ela é formada por vencedores e perdedores, assim como também acredita que os mais fracos têm direitos e deveres tantos quantos os mais fortes e, cabe a estes últimos auxiliar aqueles nos seus objetivos. O conservador não tem ideologias, ele tem Deus e com Ele se prepara para a vida prática, sem utopias e devaneios. Isto porque para o conservador todos os demais valores antes passam pelo Olhos de Deus pois, segundo Kirk “sabemos e sentimos internamente que a religião é a base da sociedade civilizada, e a fonte de todo bem e todo conforto”. O conservador sabe que Deus é a luz da sabedoria que ilumina os homens de bons corações. Fé  é fundamental para os conservadores. Ela é o instrumento pelo qual os homens defendem a liberdade e a família. Os homens e mulheres, guiados por Deus, devem nutrir o amor pela comunidade onde próspera e é feliz. Eles e elas também sabem que o núcleo da comunidade é a família que reunidas formam as comunidades nacionais. Kirk assevera que “a pessoa aprende a amar com a família, e o amor se esvai quando a vida em família é comprometida“. É  por isso que o conservador tanto valoriza a família. Ele sabe que ela é a base para a formação do indivíduo e o nascimento do sentimento de pertencimento e amor ao próximo, aprendendo a amar e a respeitar o outro, qualquer que seja ele.

   Há uma ideia errada alimentada pela esquerda radical de que o conservador é egoísta e individualista. Ledo engano. Nada mais longe da verdade. Contra esta ideia errônea Kirk refuta com o seguinte asserção: “O conservador, porém, é um individualista no sentido de acreditar na primazia do indivíduo, no direito que a pessoa humana tem de ser ela mesma” portanto, sustenta Kirk “o conservador é igualmente contra o “individualismo” como ideologia política radical, e contrário aos sistemas políticos que tornam o indivíduo um mero servo do Estado“. O conservador é até certo ponto pragmático e com certeza não utopista. Ele sabe que a vida é  uma constante luta de sobrevivência. Sendo assim não há vida “cor de rosa”. Às vezes o mundo é cruel e de maneira prática há pouco que o indivíduo pode fazer para diminuir o sofrimento alheio numa boa parte dos casos. Melhor seria se nós, seres humanos formados em Deus, pudéssemos acabar com o sofrimento. Mas Deus é soberanamente justo e bom e dá a cada um o cobertor adequado ao frio, cabe a nós fornecer o travesseiro. Não… o conservador não é egoísta. Pelo contrário, ele sabe que para ajudar o próximo é preciso ter condição de ele próprio fazê-lo e não militar para que outro faça todo o esforço e sacrifício. Ser Conservador é proteger a família, saber conviver com as diferenças, fazer as trocas voluntárias apoiadas em direitos e deveres, respeitar a ordem e a disciplina. Ser conservador é gostar de ser pessoa, filhos e filhas de Deus e na medida da lição do seu santo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, amar o próximo como a si mesmo.

Frases de Russell Kirk para reflexão

Consciência 

A consciência é de domínio particular: não existe “consciência pública” ou um “Estado de consciência”.

A sociedade será boa, acredita o conservador, quando tiver homens e mulheres governados pela consciência, por um forte senso moral de certo e errado, pelas convicções inatas de honra e justiça, seja qual for seu maquinário político;

Por “consciência social” o radical deixa implícita a crença de que o indivíduo deve se sentir culpado por ser de alguma forma superior— e mais, que de alguma forma uma justiça abstrata dita à humanidade o direito e o dever de manter todos num só patamar imóvel de igualdade.

A consciência é simplesmente consciência. Ela não é “social” ou “antissocial”. Ela é o senso de certo e de justiça que ensina o ser humano como pessoa moral a conviver com outras pessoas morais.

Não pode haver uma nação em que a moralidade particular seja má e a moralidade pública, boa.

Educação 

A educação formal conserva o melhor do que foi ensinado e escrito e descoberto no passado, e por meio de uma disciplina regular nos ensina a nos guiarmos pela luz da sabedoria de nossos antepassados.

Certa vez, Alfred North Whitehead observou que o antigo filósofo ansiava por ensinar sabedoria, enquanto o professor moderno deseja ensinar unicamente fatos.

Assim, o conservador acredita que precisamos falar menos sobre “dinâmicas de grupo” e “reconstrução social” em nossas escolas, e fazer mais para restaurar as velhas e indispensáveis disciplinas como leitura, escrita, matemática, ciências, literatura imaginativa e história.

A República não sobreviverá com cidadãos incapazes de apreender ideias gerais, ou mesmo indispostos à leitura e à escrita.

Na opinião do radical, a escola existe para trabalhar em prol da “sociedade”, e não primariamente em favor do indivíduo.

Poder

Politicamente falando, o poder é a habilidade de fazer aquilo que deseja, independentemente da vontade das pessoas ao seu redor e do seu próximo.

A sociedade entra em anarquia quando cada indivíduo reivindica ser o poder para si mesmo.

Propriedade e família e liberdade e indivíduos 

homens e mulheres têm três direitos fundamentais: o direito à vida, o direito à liberdade e o direito à propriedade privada.

Mas se não existisse propriedade privada, não seríamos todos ricos: ao invés disso, seríamos todos pobres.

Propriedade privada é, em alguma medida, um fim em si mesma, mas também um meio para a cultura e para a liberdade.

Na visão cristã, a propriedade é outorgada a indivíduos para que possam servir a Deus e o próximo dispondo a propriedade para bom uso.

Há, contudo, supostas “liberdades” que o conservador inteligente já conhece e considera anárquicas e malévolas. Ele não reconhece nenhuma liberdade natural na tomada de bens alheios, ou na subversão da lei e da ordem, ou na destruição dos princípios morais que fundamentam a essência da verdadeira liberdade.

O conservador, porém, é um individualista no sentido de acreditar na primazia do indivíduo, no direito que a pessoa humana tem de ser ela mesma.

O conservador sempre pensa primeiro no ser humano individual. O que é ruim para indivíduos é ruim para a sociedade.

O coletivismo não requer fortes personalidades e um alto nível de cultura particular, mas conformidade inquestionável aos dogmas seculares do coletivismo.

O conservador é igualmente contra o “individualismo” como ideologia política radical, e contrário aos sistemas políticos que tornam o indivíduo um mero servo do Estado.

Então, repito, quando a escolha a ser feita se mostra clara, é sábio preferir a Permanência à Progressão