Com o fim da União Soviética e não menos antes dela, muitos agentes secretos desertores que serviram a KGB, polícia secreta da antiga União Soviética stalinista, tornaram públicos a complexa estrutura da KGB e como ela criou a maior rede de espionagem que já existiu. Entre os ex-agentes da KGB, Ladislav Bittman ficou conhecido por suas informações e análises sobre as OAs em seu livro A KGB e a Desinformação Soviética, que revela como ele desertou do serviço de segurança e inteligência tcheco, em 1968, bem como funciona toda a engrenagem da espionagem e desinformação. Com base na sua experiência e compreensão do funcionamento das OAs, Bittman explica como Moscou trabalhou para através da desinformação destruir a reputação dos EUA e de todos os que se colocassem a favor deste e contra o Kremlin. Bittman conta em seu livro que, “passei quatorze anos na inteligência comunista, incluindo dois anos como comandante-adjunto do departamento tchecoslovaco de desinformação”, tempo suficiente para ele conhecer com profundidade todas as estratégias soviéticas de espionagem. Sobre as OAs Bittman esclarece que, “em 1959, a União Soviética estabeleceu, dentro da KGB (o Comitê de Segurança do Estado), uma unidade especial denominada Departamento de OAs, especializado na elaboração de propaganda negra [black propaganda] e desinformação”.

        Embora Hollywood tenha se esforçado para mostrar ao mundo o poder e organização da CIA, uma espécie de polícia secreta norte-americana, o que se depreende das revelações de Bittman é que a KGB sempre foi superior à CIA, logrando êxito mesmo quando a estratégia parecia débil. Os soviéticos mantinham uma rede de espionagem a custos de milhões de dólares por todo o mundo. Seus tentáculos se encontravam em todas as instituições em países europeus e, sobretudo, nos Estados Unidos, onde praticamente não havia repartições públicas que não tivessem um espião russo, seja inserido através de algum programa de colaboração mútua forjado pela URSS fingindo um objetivo nobre, ou através de recrutamento de pessoas, geralmente com cargos públicos, funcionários de empresas privadas insatisfeito, professores e intelectuais ou qualquer pessoa que através dela possa se obter informações sigilosas do governo para após treinamento incutir mentiras e destruir reputações.

     Bittman observa que, “o aparato soviético de propaganda e desinformação é, sem sombra de dúvida, o maior e o mais eficiente em todo o mundo”. De fato, no auge da Guerra Fria a URSS chegou a ter mais de 2 milhões de agentes trabalhando em todo o mundo. A URSS gastava milhões de dólares com as operações e financiamento de guerras e dissidências entre a estrutura organizacional de governos para destruí-los ou para tê-los como bodes expiatórios. Bittman revela  como a KGB recrutava novos membros para as operações, os mais interessantes eram os simpatizantes pelo stalinismo. “Tanto a KGB como os países-satélites soviéticos recrutavam indivíduos de todas as camadas políticas e sociais, incluindo empresários americanos, cientistas, burocratas de Washington e até mesmo agentes da CIA”. Com a criação das OAs as operações podiam facilmente ser descentralizadas sem a perda de controle do Kremlin e assim os soviéticos podiam destruir principalmente os EUA, seu maior inimigo.

      Munido de um eficiente sistema de espionagem e um dos mais complexos e poderosos sistemas de desinformação já até então conhecidos, a URSS foi capaz de acabar com carreiras, destruir presidentes, demolir países e matar muita gente. “Com o auxílio das nações-satélites, a KGB iniciou centenas de operações que visavam criar confusão e roer o prestígio dos Estados Unidos e de outros países da OTAN através de práticas como a forja de documentos, infiltração de agentes de influência e da manipulação das mídias de massa”. Bittman explica que, na verdade, enganar não é difícil quando o oponente cria todas as condições para que seja movido todo o aparato necessário para obter o que se quer. “A enganação é um jogo relativamente fácil, particularmente contra quem quer ser enganado”, adverte.

     O processo é lento mas o resultado é garantido conforme observa Bittman “eles crêem que a produção em massa de desinformação e propaganda, ao longo de muitos decênios, surtirá um efeito significativo. Essa estratégia, ao que tudo indica, funciona”, e investem em intensa preparação dos seus agentes e dos cérebros que a partir do enorme volume de informações sigilosas recebidas de todo o mundo compilam estratégia para espalhar a desinformação. Os soviéticos conduzem dois tipos básicos de atividade de inteligência. O primeiro, classificado como uma função “passiva” ou de compilação de informações, foca-se na reunião duma ampla quantidade de informações secretas sobre as forças e as fraquezas dum determinado adversário, além dos seus planos e intenções. O segundo tipo abrange operações secretas especiais, chamadas no linguajar comunista de OAs. Essas operações são um elemento vital da política externa soviética”, esclarece Bittman. 

        De todas as instituições utilizadas pela KGB para alcançar os seus objetivos, a mais visada é a imprensa.  Inserir um agente, altamente qualificado em jornalismo, nos principais jornais do oponente tem uma força fora do comum, capaz de lançar uma mentira que em poucas horas podem destruir reputações, mudar o destino de uma nação, causar uma guerra, ou obter apoio incondicional e manipular a opinião das massas. Bittman explica que, “no sistema democrático americano, a imprensa desempenha um papel importante, não apenas como um canal de comunicação, mas também como uma força política ativa. Portanto, ela é um alvo frequente de várias campanhas de propaganda internacionais e de ardis desinformativos que visam influenciar e enganar jornalistas profissionais e, em última análise, o público americano”, portanto, a imprensa passa a ser, no jogo político da desinformação, uma peça fundamental e altamente estratégica.

       Erra quem pensa que ler hoje em dia sobre as estratégias das polícias secretas do tipo KGB é perda de tempo, pois já anacrônico.  Ledo engano, pobres incautos. Na verdade a Rússia de hoje continua com o mesmo poderio de espionagem e desinformação que na época de Stalin. Vejamos: quem é  o presidente da Rússia atualmente? Vladimir Putin. Bingo. Quem conhece a história de Putin como ex-membro da KGB, de onde ele alcançou importante posto na linha de comando, pode desconfiar do fim da KGB. Primeiro a KGB não acabou, transmutou-se e agora existe com o indisfarçável nome de FSB (Serviço de Segurança Federal da Federação Russa), muda-se o nome mas não os métodos. A FSB agora está sob o comando absoluto de Putin e ao seu serviço.

       Não dá para acreditar em nada que é noticiado pela imprensa internacional a respeito do governo de Putin. Só torna-se conhecido aquilo que é relevante para Putin que assim o seja. Os incautos, com ares de autoridade, supõem que sabem o que se passa na cabeça de Putin. Assim como Stalin enganou a todos bem embaixo dos seus narizes, Putin o faz também, porém bem mais equipado com a alta tecnologia da informação. Vale ressaltar que Stalin precisava, na época, contrabandear conhecimento tecnológico, a Rússia de Putin produz tecnologia própria e de altíssima qualidade. A cortina de ferro agora é de titânio com a paisagem do paraíso pintada para o lado do inimigo. Quem viver verá!