Em seu magnum opus, intitulado “O Ócio Criativo“, De Masi delineia uma visão que preconiza a busca por formas de ocupação laboral que se revelem inspiradoras e que viabilizem a conquista de tempo livre, transformando, assim, o próprio trabalho em uma experiência que assemelha-se a um jogo prazeroso. Este conceito alinha-se com a construção de um sistema onde a fronteira entre trabalho, estudo e lazer se esbate, amalgamando-se em uma coexistência harmônica que o autor denominou de “ócio criativo”.

Na perspectiva do eminente intelectual francês Domenico De Masi, renomado professor de Sociologia do Trabalho, cujo falecimento ocorreu no presente ano (2023), emerge a proposição de que a humanidade deve emancipar-se da esfera laboral convencional, notadamente aquela associada ao paradigma industrial, cujas metodologias frequentemente subjugam o indivíduo. 

Segundo De Masi, o prospecto do trabalho futuro é intrinsecamente ligado à emancipação do sistema laboral que subjuga, rumo a um paradigma laboral no qual o indivíduo alcança realização pessoal, adquire conhecimento e desfruta de um ambiente onde se aprende e se diverte. De Masi diz que “quando trabalho, estudo e jogo coincidem, estamos diante daquela síntese exaltante que eu chamo de “ócio criativo“. Para De Masi, somos mais felizes quando trabalhamos, atendendo e nos divertimos.

Apesar da contemporaneidade não mais evidenciar as perniciosas experiências associadas ao ambiente fabril de décadas anteriores, Domenico De Masi adverte que, mesmo em face da significativa melhoria nas condições laborais que outrora motivou as críticas de Marx e Engels ao capitalismo, deparamo-nos com um fenômeno de natureza distinta: a era pós-industrial. 

Nesse cenário, a figura do operário na fábrica cede lugar à automação promovida pelas tecnologias, enquanto o executivo emerge como figura central na orientação de seus subordinados, todos eles engajados em atividades laborais de caráter intelectual. Nesse contexto, De Masi enfatiza que as transformações ocorridas podem não ter representado uma mudança substancial, tendo em vista que, em essência, um sistema foi substituído por outro.

De Masi adverte que, não obstante a ampliação do tempo de lazer experimentada pelo trabalhador em virtude da redução do tempo despendido em suas tarefas laborais, os padrões arcaicos de comportamento ainda exercem uma influência significativa, perpetuando, assim, as práticas laborais abusivas do passado. Este fenômeno resulta na persistência dos desafios associados ao excesso de jornada de trabalho e à execução de atividades monótonas. Di Masi argumenta que, de certa forma, ainda carregamos os resquícios da Revolução Industrial em nosso presente