O opúsculo intitulado “Fascismo e Democracia,” composto por uma série de palestras e publicações do renomado escritor George Orwell e publicado em 1941, oferece uma visão do autor acerca do fascismo e da democracia em um período em que esses conceitos já haviam adquirido conotações que permanecem relevantes até os dias atuais. Nesse contexto histórico, em que o mundo clamava pela democracia, mas era assolado pelo domínio do totalitarismo, as fronteiras entre fascismo e democracia tornavam-se indistintas, uma realidade que ecoa em nossa época contemporânea.

George Orwell, que testemunhou em primeira mão os horrores do totalitarismo, baseou sua perspectiva sombria sobre os governos fascistas em suas obras emblemáticas, como “1984” e “A Revolução dos Bichos,” textos que permanecem intrinsecamente ligados à política devido à exploração da natureza humana.

Os ensaios apresentados na obra em questão possuem o mesmo caráter profético que suas duas obras mais notáveis anteriormente mencionadas. As reflexões de Orwell, como é característico em todos os seus empreendimentos intelectuais, possuem a capacidade singular de apontar os eventos que tendem a se repetir, moldando o cenário das sociedades contemporâneas.

Este pequeno livro não se apresenta como uma crítica contundente ao fascismo e à democracia, mas como uma observação aguda de que governos tendem a submeter o povo a políticas que, sutilmente, os tornam voluntariamente subservientes, ecoando o que Étienne de La Boétie já havia delineado em sua notável obra “Discurso da Servidão Voluntária.”

Tanto naquela época quanto nos dias atuais, testemunhamos o uso de palavras em uma linguagem orwelliana, muitas vezes com o intuito de obscurecer seu verdadeiro significado, enquanto, de outra forma, continuamos a adotar práticas que correspondem à sua essência genuína. Nessa perspectiva, as reflexões de George Orwell permanecem atemporais em relação ao fascismo e à democracia. Enquanto cada indivíduo mantiver uma definição ideológica desses dois termos políticos, permanecerá o risco de governos despóticos operando sob a égide do totalitarismo.