Theodore Dalrymple examina em seu livro Em Defesa do Preconceito a necessidades de se ter idéias preconcebidas.

Dalrymple supõe que qualquer sociedade é preconceituosa por causa da sua cultura e que por isso o preconceito sob o ponto de vista social não é um mal em si. Como a sociedade é composta por indivíduos, logo presume-se que todas as pessoas que vivem em grupos culturais são preconceituosas.

“Realmente duvido que hoje em dia alguém, ao menos socialmente admitiria ter algum tipo de preconceito. Admiti-lo significaria proclamar-se um sectário, o tipo de pessoa que não pode e não quer examinar suas opiniões e concepções prévias e que, consequentemente, apresenta-se como alguém restrito em suas afeições, farisaico em seus julgamentos, xenofóbico em suas atitudes, rígido em seus princípios, severo diante de seus inferiores, obsequioso perante os seus superiores e convencido de sua própria retidão.”

As pessoas não nascem preconceituosa, porque este é comportamento aprendido socialmente e transmitido entre famílias. Um pessoa que cresceu isolada do contato com qualquer ser vivo não terá qualquer tipo de preconceito, pois pressupõe-se que as pessoas não fazem julgamentos sobre si, mas sobre o outro. Assim, Darlymple alerta sobre a atitude dos pais perante os seus filho ao lidar com o preconceito:

“Ao abdicar de suas responsabilidade [os pais] dessa forma, em nome de não passar os seus próprios preconceitos e pressuposições às crianças, e para não impor a sua própria visão sobre o que é certo, esses pais encarceram os seus filhos dentro do círculo das preferências infantis”.

O autor chama à atenção para um fato preocupante. Os pais preconceituosos que são, esconde dos filhos, que vivemos numa sociedade preconceituosa e com isso permitem que as crianças cheguem às suas próprias conclusões sobre o que é preconceito. Fatalmente a criança terá uma visão distorcida da convivência pautada na tolerância, dado que em algum momento os pais se mostrarão preconceituosos e os filhos perceberão, cenário que criará a maior confusão em suas cabeças. Por isso o autor adverte:

“A precocidade encorajada por uma prematura suposição de responsabilidade para se fazer escolhas, como se as crianças fossem clientes dos seus pais em vez de serem os seus filhos, terá como consequência um desenvolvimento obstruído.”

Talvez a melhor forma de entendermos o preconceito é através da compreensão de que um preconceito sempre dará origem a outro preconceito, ou seja, uma atitude preconceituosa, será sempre julgada por outra de igual peso preconceituoso. Nisto o autor observa que:

“Derrubar determinado preconceito não significa destruir o preconceito enquanto tal. Na verdade, implica inculcar outro preconceito. O preconceito que afirma ser errado criar um filho fora do casamento foi substituído por outro que diz que não há nada absolutamente de errado com isso.”

Desta forma Dalrymple demonstra que os pais não sabem lidar com esta situação. Além da questão familiar ele ver na filosofia de alguns pensadores a origem das pessoas não saberem lidar com os preconceitos. O autor critica a idéias do mentor do utilitarismo de Jonh Stuart Mill e suas consequências sobre a dupla natureza do preconceito.

“Uma das fonte do preconceito sobre o preconceito é o grande tratado de John Stuart Mill, Sobre a Liberdade, publicado em 1851.”

O autor assevera que “Ele [Mill] nos diz que a verdade […] emerge do confronto de opiniões, no qual a falsidade e a verdade se interpenetram. Isso lhe dá um argumento utilitarista para a não supressão de uma opinião: se você suprimir a falsa nunca alcançará a verdadeira, e caso não se alcance a verdadeira, o progresso será inevitável.”

Sendo assim, se o verdadeiro e o falso se cruzam diante das percepções que temos das coisas, estaremos sempre diante de fatos preconceituosos. Tudo depende de que lado se esteja, sem querer apelar para o relativismo.

Neste livro não se encontrará defesas contra ou favor do preconceito, mas uma alerta de que não podemos esconder o fato de que seremos preconceituosos em algum momento das nossas vidas. Tolerar não é demonstrar fraqueza de caráter, mas respeitar o direito do outro desde que os nossos direitos não sejam infligidos. Neste sentido o preconceito serve como critério para escolha e defesa da individualidade.

“Mesmo na ausência de princípios metafísicos inatacáveis, o exercício do julgamento é inevitável. Portanto os preconceitos são necessários e salutares.”

Thedore Dalrymple (Anthony Daniels) é médico psiquiatra britânico autor de outras obras famosas como “A Nossa Cultura ou o que Restou Dela”, escreveu Em Defesa do Preconceito em 2007 e foi lançado no Brasil em 2015 pela editora É Realizações com tradução feita por Maurício G. Righi