Aprendemos que o pessimismo é um mal, coisa de pessoas sem esperança, negativas. Algumas pessoas são pessimistas devido à algumas circunstâncias da vida, outras sofrem de pessimismo patológico. Existe até lei que alerta os desavisados que esperem sempre o pior: A lei de Murphy. Mas há um lado bom do pessimismo? Provavelmente sim. É o que a leitura do livro As Vantagens do Pessimismo do escritor e filósofo Roger Scruton nos levar a concluir, ou pelo menos faz-no olhar o pessimismo com “mais otimismo” e compreender que ele é uma forma disfarçada de prudência. Ao refletir sobre o pessimismo, Roger nos leva a pensar qual a linha que separa este do otimismo, pois ambos quando exagerados provocam cegueiras que levam sempre a estupidez. Roger adverte que:

“Há uma espécie de vício na irrealidade que revela as formas mais destrutivas de otimismo: um desejo de anular a realidade, como a premissa a partir da qual a razão prática começa, e substitui-la por um sistema de ilusões complacente.”

“Essa atitude do eu está implantada profundamente na psique. O eu alcança o futuro e assevera a sua prerrogativa. Ele é infinito em termo de ambição e não reconhece nenhum limite, somente os obstáculos. Nas emergências o eu assume o controle e agarra qualquer coisa que possa aumentar o seu poder ou aumentar o seu alcance.”

“A atitude do nós reconhece os limites e as restrições, fronteiras que não podemos transgredir e que criam a estrutura que concede significado às nossas esperanças. “

Roger defende que ser pessimista quando desnudado da sua face negativista, transforma o homem naquilo que ele chama de otimista escrupuloso – que se traduz numa crença que leva o homem pelos caminhos da prudência . A vida não é uma paraíso no futuro, mas um ciclo de aprendizagem constante em que o pessimismo tem o papel de preparar o indivíduo para os infortúnios e não somente de  transformá-lo em uma criatura que põe defeito em tudo, que para tal nada está bom e que o próximo passo será sempre suicida. Roger acredita que:

“Uma das características mais marcantes da mentalidade dos otimistas é que eles nunca aceitarão a responsabilidade pelos efeitos de suas próprias crenças, ou admitirão os perigos das falácias que os nortearam.”

“As pessoas escrupulosa que temperam a esperança com uma dose de pessimismo, são aquelas que reconhecem limitações, e não obstáculos.”

Se para a maioria o pessimismo é algo nocivo às pessoas, o otimismo é a assinatura das pessoas felizes.  O problema no otimista demais é que tudo é uma questão de que “vai da certo” e que esta crença, na maioria das vezes, é suficiente para resolvermos as questões da vida. A isto Roger chama de “otimismo inescrupuloso” e adverte:

“O otimismo escrupuloso  também conhece as vantagens do pessimismo e sabe quando moderar nossos planos com uma dose deles. ele nos encoraja a levar em conta o preço da falha, a conceber o pior das hipóteses e a assumir riscos com plena consciência do que acontecerá se os riscos não compensarem. O otimismo inescrupuloso não é assim. Ele executa saltos de pensamento que não são saltos de fé, mas uma recusa a reconhecer que a razão deixou de apoiá-lo. Ele não leva em conta o custo do fracasso ou não imagina a pior das hipóteses.”

Desta forma, o otimista incorrigível, pelo fato de acreditar que a vida é sempre bela, expõe-se aos riscos e não se prepara para o fracasso. Isto se pensado e agido fora das medidas da prudência. Contudo, isto não  significa que não devemos ser otimistas, talvez um pouco menos  da medida que nos ensina Roberto Carlos na música “Emoções”. Claro que apesar de vivermos em um mundo tão complexo e cruel, o que queremos e ser felizes. Mas há um preço a pagar pelo otimismo irresponsável. É preciso medir as consequências a cada passo que damos na vida e não só entregar tudo nos braços da fé. Por isso Roger esclarece:

” Há uma espécie de vício na irrealidade que revela as formas destrutivas de otimismo: um desejo de anular a realidade, como a premissa a partir da qual a razão prática começa, substituí-la por um sistema de ilusões complacentes.”

Devemos lutar por um mundo mas justo e com menos sofrimento, mas não podemos viver acreditando piamente que o amanhã será sempre um dia melhor e bom para todos. No dia seguinte uns vão sorrir, mas a maioria vai chorar.

Roger Scruton é autor de várias obras sobre filosofia e estética. O livro As Vantagens do Pessimismo e o Perigo da Falsa Esperança foi lançado no Brasil em 2015 pela editora É Realizações e traduzido por Fábio Faria.

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