Bebo, Logo Existo. Guia de um filósofo para o vinho.

Antes ler Bebo, Logo Existo, tive poucas experiências com degustação de vinho, este néctar dos deuses, a mais nobres das bebidas. Paladar acostumado a vodka e a cerveja, bebidas que claro tem seu lugar entre os apreciadores, não me permiti o prazer de sentir o aroma inebriante, o sabor divino e a textura gloriosa dos vinhos brancos, tintos e rosés.

Hoje dou os primeiros passos em direção a nobre arte de beber vinhos. Leio sobre as delicadas técnicas aplicadas no cuidado das videiras e suas sutilezas. Estou aprendendo do armazenamento às complexas forma de servir, além da história de cada videira e os seus locais de cultivo. A tudo me arrisco penetrar.

Leitura inicialmente despretensiosa, logo despertou em mim muito mais que o interesse pelos temas filosóficos que acompanham cada expressão explicativa sobre os vinhos. A curiosidade inicial, transformou-se em uma vontade de redescobrir não só a filosofia, mas toda a essência do homem sob a luz translúcida que chega aos meus olhos através da taça do vinho. O primeiro e verdadeiro contato com esta bebida, fez-me reverenciar Baco. Dou graças ao livro de Roger Scruton: Bebo, Logo Existo. Sem ele, para mim, o vinho seria apenas uma bebida que eu considerava exótica. O autor consegue de forma sublime fundir de tal forma a filosofia ao vinho que a cada página virada eu sentia que ali estava o relato poético de um homem realmente apaixonado pelo vinho cuja boa parte da vida dedicou a estuda-lo.

O livro é maravilhoso e de leitura muito gostosa. Ao final de tanto lirismo, Scruton nos brinda com um fenomenal apêndice intitulado: O que beber com quê. Neste, Scruton descreve como seria filosofar com Platão, Aristóteles, Cícero, Santo Agostinho, Avicena, Boécio e tantos outros filósofos, acompanhados de um bom vinho em que para cada uma filosofia degusta-se o vinho apropriado.

“Pode-se dizer que o vinho é provavelmente tão antigo Quanto a civilização; eu prefiro dizer que ele é a civilização e que a distinção entre países civilizados e incivilizados é a distinção entre os lugares onde o bebem e os lugares onde não o bebem.”

“Por mais que os sabores de um ótimo vinho sejam resultado de uma intenção de produzi-los, não experimentamos a intenção ao experimentarmos o vinho do mesmo modo como ouvimos a intenção na música. O vinho resulta da mente, mas nunca a expressa.”

Não basta apenas beber vinhos por beber. É  necessário seguir seus rituais, preceitos e regras para que se alcance a plenitude da alma que está bebida oferece. Tempo é  a essência do vinho, e como tal, paciência é  o que ele espera de quem dedica-se a estudá-lo. O prêmio para tanto esforço vem no consumo.

Espero um dia poder prestar uma homenagem ao vinho como o fez Scruton mesmo não me achando à altura.