Nas últimas duas décadas, a sociologia sofreu uma vertiginosa queda no conceito das pessoas esclarecidas. Elas, em sua maioria, não veem mais a sociologia como uma ciência que explica os vários fenômenos que nascem da relação entre a sociedade em constante transformação e os indivíduos quanto agentes desta transformação. Isto ocorre porque, segundo os críticos, a sociologia deixou de ser um instrumento científico, para se tornar um instrumento a serviço das ideologias. Com efeito, mais que explicar a relação entre indivíduos e sociedade, a sociologia é a ciência que compreende bem a natureza humana e todos os fenômenos que transformam a perspectiva de vida destes indivíduos. Este conceito é muito útil para governos que querem maior controle da nação no seu aspecto mais significativo, ou seja, o povo. Até aí não há nada errado. O problema é que as mesmas teorias que explicam os fenômenos sociais são utilizadas por governo bem ou mal-intencionado para alcançarem os seus propósitos. Geralmente estas teorias são recobertas por uma ou mais camadas ideológicas cujo resultado, derivado da sua aplicação na prática, vitimou o século XX.

No Brasil, a coisa ficou tão séria, que o atual governo, chegou a propor a não obrigatoriedade das ciências sociológicas nas grades curriculares dos cursos de humanidades. Parece que a ideia não saiu do papel e o governo desistiu da absurda ideia, pois é óbvio que o problema da doutrinação ideológica nas instituições públicas de ensino não será resolvido com a supressão desta importante área do conhecimento.

As ciências sociais, assim eram denominados os estudos da sociologia, é de grande importância para compreender a formação de uma nação em todo o aspecto religioso, cultural e econômico. Quem melhor compreendeu a complexa relação entre indivíduo e sociedade foi o jurista e economista alemão Max Weber (1864-1920), o criador da Sociologia.

Max Weber defendia que não era possível através de experimentos científicos inferir sobre o comportamento do indivíduo em relação ao outro, pois havia outras complexas premissas como os valores e visões nas perspectivas das pessoas, não analisados pelo método científico, que tornavam impossível concluir com precisão qualquer comportamento deste indivíduo. O livro ”Max Weber, entre paixão e a razão”, de autoria do australiano Héctor Luís Saint-Pierre, faz uma análise do esforço intelectual do Max Weber para construção de uma “metodologia” para explicar a sociologia como uma doutrina empiristas, mas longe da rigidez da metodologia científica. Por certo, o autor constrói uma série de argumentos que conduz o leitor aos complexos conceitos weberianos que mostram que o comportamento do indivíduo não pode ser explicado exclusivamente pela razão e, que há outros componentes como a fé que se opõem a qualquer tentativa de previsão científica.

Entretanto, ressalta o autor, é a relação entre a razão e a paixão que tornará a missão de Max Weber complicada, pois a ciência, ou seja, a razão, não encontra meios de explicar fenômenos comportamentais baseados na fé, dado que a natureza humana tende a mudar qualquer perspectiva científica de explicá-lo (isto fica muito claro numa das mais importantes obras de Max Weber – “A Ética do Protestante e o Espírito do Capitalismo”). Saint-Pierre avalia este problema e explica que “tanto nos trabalhos metodológicos de Max Weber como nos seus escritos políticos, pode-se notar a tensão permanente entre a razão e a paixão ou fé, o que dificulta ainda mais a análise da já intricada relação entre ciência e ação no pensamento weberiano”.

Max Weber dispendeu grande quantidade de energia para explicar que não é possível medir as ações humanas e muito menos formular, cientificamente, ideias sobre o comportamento esperados. Mas isso não significa que a sociologia não deve ser reconhecida como uma ciência.  O autor explica que Max Weber criticou a tentativa de muitos dos seus antagonistas, entre eles os filósofos Wilhelm Dilthey (1883-1911), Wilhelm Windelbland (1848-1915) e Heinrich Rickert (1863-1936), de encontrar uma justificativa para as escolhas aleatórias que as pessoas fazem em suas vidas que vão de uma forma ou outra modificar a sociedade em que elas vivem. Para Saint-Pierre “é precisamente contra esta base, porém, que Max Weber descarrega sua crítica: os valores não são nem universais e nem necessários; muito pelo contrário, são resultado e uma escolha que por sua vez, não tem, nem pode ter, justificativa cientifica possível. […]Assim, o pressuposto de validade e objetividade das ciências histórico-sociais deixa de ser considerado um a priori do conhecimento científico”.

Exposto aqui de forma breve e longe de esgotar o tema, é recomendável a leitura deste livro, pois o autor compartilha os pensamentos de Max Weber na tentativa de mostrar os aspectos da sociologia além da ciência stricto sensu. É sobre esta vertente que governos desenvolvem toda a sua estratégia para o controle das massas. Embora não seja este o objetivo de Saint-Pierre ao escrever este livro, há uma forte correlação com os fatos que conduzem governos às atitudes totalitárias fazendo uso das ideologias para alcançar seus fins. Assim, a leitura de ”Max Weber, entre paixão e a razão” mostra-se primordial para a compreensão dos fenômenos sociais de ontem e de hoje.

 

A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO

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