A perda da ligação entre Deus e a humanidade

O mundo cristão se encontra diante de uma crise de identidade sem precedentes na sua história. Tradições, costumes e instituições sob as quais a história do cristianismo foi edificada se encontram seriamente ameaçadas pelo globalismo. Em um mundo com profundas crises de valores ou “valores invertidos” que afetam diretamente a cristandade, o resultado desta perda de identidade nos coloca diante de uma série de questões sobre a relação dos seres humanos com a missão cristã e a verdadeira devoção a Deus.

O acentuado liberalismo que impregna o universo cristão abre espaço para o fortalecimento da religião secular. O progressismo instalado na tradição cristã em que a Bíblia é substituída pela cartilha dos direitos humanos nos leva a indagar qual será o futuro do cristianismo. Por que nos debates atuais sobre o futuro da humanidade Deus perdeu o lugar de fonte para as nossas inspirações? Qual o objetivo das instituições globalistas em fundamentar uma religião sem Deus a ponto de riscar o nome Dele em importantes Declarações Universais?

Homens e mulheres, especializados, auto-suficientes, convencidos do seu poder tecnológico, “novos seres humanos”, que não mais aceitam Deus como o seu criador a sua à imagem e semelhança assumem o lugar de reformuladores do universo e se concedem todo o poder de reescrever a história do homem e do mundo. A esta missão, auto-atribuídas, não aceitam mais a sua condição de criação na história da humanidade. As instituições dos direitos humanos têm a missão de escrever os novos mandamentos que nortearão os caminhos da humanidade. A missão dos cristãos é evitar com vigor que este plano tenha sucesso.

Uma Religião sem Deus

“O que significa fazer dos direitos humanos os substitutos da lei de Deus, como fonte, fundamento, norma e propósito de vida dos homens em sociedade?”

Com esta preocupante questão que assombra a cristandade nos novos tempos descritos na introdução do livro Uma Religião sem Deus o teólogo e escritor sul-africano Jean-Marc Berthoud (1939) investiga como a doutrina dos direitos humanos foi capaz de subverter a Palavra de Deus apagando-a das declarações universais.

Nesta obra, o autor faz primeiro uma crítica à noção de direitos humanos e constrói os seus argumentos a partir das suas interpretações dos princípios da filosofia do direito de Michel Villey (1914–1988), filósofo e historiador francês. 

Em seguida o autor testifica o pensamento da cosmovisão cristã dos escritores católicos Arnaud de Lassus (1921–2017) e Jean Madiran (1920–2013) em cima da visão que ele chama de caráter monista, imanente e totalitário da ideologia dos direitos humanos. Depois disso, Berthoud demonstrará que a concepção do cristianismo histórico, no que concerne à moral e ao direito, mostra-se incompatível com a ideologia dos direitos humanos. Finalmente, o autor provará que mais que uma tentativa de proteger o homem do abuso do poder, os direitos humanos são, na realidade, o motor da ação revolucionária moderna que tem como objetivo instituir uma nova ordem global.

Para Berthoud, os defensores dos direitos humanos cometem um erro crasso quando afirmam que o ato humano contido nos princípios dos direitos humanos têm origem nos textos das Escritura Sagradas. Pelo contrário, esclarece o autor, a ideologia deles não tem origem na Bíblia e que “deve-se procurar a origem da ideologia dos Direitos Humanos entre os pais do racionalismo iluminista, e não nos ensinos do cristianismo histórico fiéis à Bíblia”. Com efeito, a noção de direito e deveres que são afirmativas nos direitos humanos não encontraram nenhuma correlação na Bíblia. A tradição bíblica sustenta que diante de Deus, nós temos deveres para com a divindade, para com o próximo, expressado e revelado na autoridade e sabedoria universal de Deus e que somos pecadores tanto quanto responsáveis pelos nossos atos e, não “bons selvagens” como pressupõe a política dos direitos humanos. Isto difere muito do que prega a ideologia dos direitos humanos. Berthoud reitera que: “afirmação de direitos, característica de toda essa ideologia humanitária, pressupõe a noção do homem como essencialmente bom”.

O globalismo sustentado por declarações de direitos abstratos

As reflexões de Uma Religião sem Deus revelam que a política dos direitos humanos tem como corolário subverter toda ordem estabelecida por Deus na tentativa de criar uma nova ordem longe de quaisquer aspectos de tudo que é transcendental. Ela busca, na verdade, estabelecer uma nova realidade caracterizada por uma reformulada espécie humana cuja fé na perfectibilidade humana que ontologicamente supera anula toda a crença cristã. Entretanto, fora da realidade sensível que é Deus não existe sistema de convivência humano que se estabeleça com uma ética que seja capaz de nos levar encontrar dentro de nós mais que vínculos genéticos. 

A vida sem Deus é uma estrada para o precipício, sem a obediência aos seus mandamentos são uma tragédia. Nada somos sem a sua Graça. Ainda que tenhamos domínios das forças da natureza, adentramos apenas um milímetro no infinito mistério do seu Reino. Ideologias não podem substituir Deus. Somente as Leis Divinas são de fato medidas para as nossas decisões e ações. As leis dos homens não são superiores às Leis de Deus. Os Direitos Humanos, constituído por leis humanas que satisfazem aos projetos de dominação globais disfarçados de bons samaritanos, não condizem com a ética cristã, que orienta e ordena a vida humana sob o Julgamento e Vontade do Deus Supremo.