Todas as estratégias do partido comunista da Tchecoslováquia para arregimentar novos agentes no Brasil, com disposição e dinheiro para corromper várias autoridades, sobretudo, as do alto escalão do Governo, visando consolidar a concepção comunista no Brasil estão detalhadamente descritas no livro 1964 O Elo Perdido, fruto de um intenso trabalho de pesquisas nos arquivos secretos da StB empreendido pelos pesquisadores Mauro Abranches Kraenski e Vladimir Petrilák.

Em 1952 agentes da polícia política da Tchecoslováquia se infiltraram no Brasil com a missão de avaliar as condições para tornar o Brasil a sede do comunismo na América do Sul. Nesse período, Josef Stálin (1878–1953) buscava a hegemonia da URSS através de poderosas campanhas de espionagem com infiltração intensiva de seus agentes em países de viés comunista, assim como mostrava disposição para financiar grupos revolucionários e guerrilhas em prol do Stalinismo. O objetivo do Stálin era levar o comunismo além do Leste Europeu. Os alvos principais eram os países com políticas frágeis e povos que não tivessem o espírito democrático acostumado à liberdade de expressão e à liberdade política. Nesse contexto, o Brasil parecia ser um terreno fértil para a germinação das sementes comunistas e stalinistas.

Por seu turno, o Brasil não demonstrava firmeza nas suas convicções políticas quanto ao comunismo. Para os partidos comunistas de Praga e Moscou, o Brasil tinha um posicionamento ambíguo, além de não haver uma organização política confiável. Com poucas exceções, como alguns incipientes partidos comunistas locais e figuras de destaque como Luís Carlos Prestes, faltava, geralmente, a inteligência política necessária para a luta comunista, assim como a organização e espírito revolucionário. Porém, diante da sua posição como país em desenvolvimento e de possuir uma política fragilizada pela falta de governo forte que possuísse objetivos acima dos interesses pessoais e, mais ainda, por ser o maior país na América do Sul, Moscou acreditava que tornar o Brasil a base comunista na América do Sul significaria a conquista de um continente inteiro. Portanto, cabia à Tchecoslováquia executar os planos de conquista com todo o empenho possível.

O livro 1964 O Elo Perdido revela o quanto de caos político rondava o Brasil, com desorganização administrativa que deixou os agentes da StB impressionados. As raízes comunistas estavam plantadas desde antes da era Vargas, mas não germinava, logo um comando superior era tudo o que o Brasil precisava. Sendo assim, bastava obedecer às ordens do Kremlin. Como escreveu o filósofo Olavo de Carvalho no prefácio da edição brasileira de “1964 O Elo Perdido”, o comunismo tinha infectado todas as cabeças pensantes, todas as instituições muito antes de 1964: “este livro se debruça no contexto da influência da StB no Brasil na segunda metade da década de 1950 e nos anos 60, pois, é justamente durante esse período que a polícia política comunista da Tchecoslováquia obteve seus maiores êxitos no exterior. Eram tempos em que o bloco socialista irradiava autoestima e uma potência incrível, com um sentimento de possibilidades infinitas que pôde ser confirmado a partir dos vários feitos tchecoslovacos e soviéticos”.

A polícia política da Tchecoslováquia, a StB, pretendia aproveitar o viés comunista de João Goulart (1919–1976) para acelerar o processo de reestruturação da sociedade brasileira para o paraíso comunista, ainda que às vezes ele tivesse postura politicamente duvidosa para os interesses soviéticos. Para alcançar o objetivo, bastavam seus agentes burlarem o frágil mecanismo de Segurança Nacional do Brasil. Segundo os autores de 1964 O Elo Perdido, a Polícia Secreta do Brasil era de uma incompetência absurda, mesmo para os padrões de segurança de países subdesenvolvidos da época. De fato, ao chegarem no Brasil, antes do início do período do governo militar, os agentes não tiveram problemas para atuar, pois, diante da insignificante segurança provida pelas forças de inteligência e segurança nacional, eles não se sentiam ameaçados. O resultado é que um grande volume de informações dos arquivos secretos brasileiros foi arrancado, com relativa facilidade, do Brasil pela StB e entregue para Praga e Moscou.

Sendo assim, do ponto de vista logístico, a implantação da base comunista no Brasil não seria difícil, visto que os agentes não tinham dificuldade alguma em se infiltrar nas altas cúpulas do poder estatal brasileiro. Do mesmo modo, os agentes podiam frequentar as repartições públicas sem serem incomodados, assim como podiam andar nas ruas tranquilamente, pois, eles eram bem pouco importunados pela ineficiente polícia política brasileira. Quando, às vezes, um agente brasileiro entrava no encalço de um agente tcheco, geralmente, a propina ponha fim na frágil vigilância.

Os autores informam que após a Revolução de Veludo em 1989, evento que provocou a renúncia do então presidente comunista Gustáv Husák (1913–1991), sob o comando de oposicionistas como o Václav Havel (1936–2011), a Tchecoslováquia passou por diversas reformas cujo objetivo principal se apoiava sob três divisas, conforme explicam os autores: descomunização, restituição e privatização. Para eles, este fato e a queda do sistema totalitário em 1989 contribuíram para que eles tivessem acessos aos arquivos secretos que antes estavam sob o domínio da StB e que agora se tornaram de domínio público. Kraenski e Petrilák investigaram o material disponível, sobretudo, os do período entre 1952 e 1971.

A confiança na veracidade dos dados fica expressa na asserção dos autores: “Nenhum serviço de inteligência gosta de ser enganado e todos eles tentam adquirir informações verdadeiras para poder, pelo menos, mentir com sucesso e manipular o adversário“. Kraenski e Petrilák examinaram vários documentos, entre eles as pastas secretas com nomes de brasileiros a serviços do governo comunista da Tchecoslováquia. Tudo reunido, revelava um esquema poderoso para colocar o país definitivamente na direção do comunismo.

Por outro lado, Moscou andava desconfiado com o rumo que a política no Brasil tomava. O comunismo que predominava no Brasil era da linha maoísta. Isto era um problema, pois, Mao Tse Tung (1893–1976) rompeu com o comunismo de Stálin. Entretanto, o esforço para trazer o Brasil para o lado comunista dos soviéticos era válido devido aos objetivos estratégicos de Moscou e Praga. Os partidos de esquerda que viviam na clandestinidade careciam de legitimidade. Tanto é verdade que a StB evitava trazer para o seu lado pessoas ligadas ao PCB. Apesar da importante participação do jovem Brizola (1922–2004) no processo de aquisição de armas, havia sempre um ponto de dúvidas sobre as intenções ambíguas dos comunistas brasileiros, afirmam os autores. Além de muitos nomes famosos da política, que além de políticos incluíam empresários e intelectuais, nos arquivos também constavam muitas empresas brasileiras importantes.

Os autores evidenciam como a StB chegou ao então presidente João Goulart e teve em suas mãos informações sigilosas. Eles contam que o agente Alexeyev (da StB) conheceu Jânio Quadros antes de João Goulart e que este contato fora fundamental para a aproximação ao Jango. Segundo os autores Jango já era conhecido e atuava a tempo nos serviços de inteligência tchecoslovaco. Até então, o Brasil mantinha fortes relações econômicas com os EUA e o presidente Goulart pretendia abrir comércio com o oriente e reduzir, no que lhe concerne, às atividades comerciais com os americanos. Isso agradava Moscou e à Praga. Entretanto, em 1964 os militares derrubam o João Goulart e assumem a direção do país. Os militares no poder criaram sérios obstáculos para os planos da StB. Os autores esclarecem que “o golpe militar de 31 de março de 1964 interrompeu bruscamente o desenvolvimento das promissoras, segundo o serviço de inteligência da Tchecoslováquia, relações com os políticos”.

Contas Kraenski e Petrilák que em 1952 Praga enviou para o Rio de Janeiro o misterioso oficial da StB, o camarada Honza, que iniciou o processo de espionagem em terras brasileiras e fez um trabalho que encheu de orgulho o comando da StB. Além disso, havia também registros de fatos curiosos como o relatório feito pelo Honza em que relatava o estilo de vida dos brasileiro que era contrastante com o do povo da Tchecoslováquia. Para Honza os brasileiros eram selvagens vivendo numa terra generosa. Após Honza muitos outros chegaram ao Brasil. O maior objetivo desses agentes era recrutar e preparar os “colaboradores ideológicos”. Estes eram comunistas encontrados em todas as instituições públicas com capacidade para se tornar espião a serviço dos soviéticos.

Os colaboradores ideológicos deram um pouco de trabalho devido à falta de disciplina e obediência, mas mesmo assim, ainda que 1964 tenha sido um período difícil para o trabalho da StB, os agentes lograram êxito na maioria das vezes. Isso porque eles eram extremamente competentes no recrutamento de espião nas terras estrangeiras. O resultado é que eles enviaram para a Tchecoslováquia muitos relatórios sobre todas as atividades políticas internas no Brasil e as relações diplomáticas que mantinha com outros países, inclusive os Estados Unidos.

O comunismo está inserido na sociedade brasileira praticamente desde a Revolução Russa (1917). Engana-se quem pensa que ele está morto. O comunismo resiste ao tempo porque sofre metamorfoses que lhe dão nova face sem modificar a sua essência. O livro 1964 O Elo Perdido é uma revelação e uma denúncia. Ele revela as estratégias para firmar a hegemonia comunista em qualquer parte do mundo e denuncia os revolucionários de ontem e que hoje estão no poder. Fica, assim, demonstrada as estratégias e a capacidade do comunismo de se perpetuar nas estâncias do poder. O Brasil precisa estar alerta, pois, é uma questão de vida para a democracia brasileira.

O livro 1964 O Elo Perdido” ajuda a compreender a escalada do comunismo no Brasil. Mais que isso exige que o Brasil esteja alerta, pois, nos últimos 35 anos o comunismo se enraizou em todas as instituições brasileiras, públicas e privadas. Muitos que clamaram por uma democracia no fim do governo militar chegaram ao poder e desde então trabalharam para que toda a sociedade brasileira tivesse uma só visão política: a da esquerda.

É recomendado que a leitura desse livro seja acompanhada de outro livro revelação, Desinformação.