Não é fácil descrever aquele que talvez tenha sido o mais importante historiador sobre a cultura da idade média e a religião cristã. Estamos falando do insigne historiador galês Christopher Dawson. A vasta obra de Dawson, a maior parte voltada para a história, é uma das mais precisas obras sobre a idade média. Dawson é um daqueles historiadores que tem uma capacidade especial de escrever sobre a história da idade média, a cultura e o cristianismo com uma notável erudição e ao mesmo tempo simples,  claro e cativante. Dawson foi um dos mais notáveis estudiosos da cultura europeia desde a sua origem nos primeiros anos iniciais do cristianismo, passando pela idade das trevas até a era do totalitarismo. Para Dawson a história europeia e a trajetória do cristianismo são indissociáveis quando se pretende compreender a origem do Ocidente. Este pensamento fica evidenciada em um dos seus mais importantes trabalhos sobre o surgimento do mundo ocidental. Em Criação do Ocidente, publicado entre 1947 a 1950 e inspirada em suas famosas palestras Gifford Lecture, Dawson mostra como a religião cristã foi fundamental na criação do Ocidente. Aqui Dawson desenhou o mapa da evolução cultural e religiosa da civilização medieval. Para Dawson sabemos demais sobre a religião do Ocidente e que o fato torna o trabalho de estudar a cultura e a religião do Ocidente uma tarefa árdua. 

        Diferente das demais religiões, o cristianismo tem riquíssimas fontes históricas em que o desafio não é estudar com poucas informações, mas fazê-lo em meio a uma quantidade imensa de informações esperando organização para ser uma fonte segura de estudo. Torna-se tão complexo o estudo do cristianismo quando se considera o fato que historiadores estudam a história com visão muito diferente da visão dos estudiosos do cristianismo, pois as visões que se tem da era cristã primitiva e da história medieval é de uma era de escuridão e ignorância em que a fé era o único instrumento disponível para manter contato com que se encontrava acima da compreensão humana. Entretanto, Dawson mostra que o homem não era escravo de si e que a liberdade estava no elemento espiritual. Esta liberdade espiritual, explica Dawson, exerceria sobre o homem uma imensa influência transformadora e criativa sobre a cultura social dos homens, durante sua trajetória histórica, assim como exerce influência igualmente transformadora sobre a vida pessoal de cada um”. Daí, conclui Dawson, que o estudo da cultura leva a crer que há uma relação íntima entre fé religiosa e realização social. O oriente se formou sobre a cultura medieval, escreve Dawson, e sobre as luzes fulgurantes da religião cristã. Ao contrário do que se aprende nas escolas, a idade média foi uma era iluminada pelas revoluções sociais e intelectuais. A Europa foi formada graças à determinação de inteiras comunidades cristãs e uma força criadora, que somente a fé é capaz de conceber, capaz de resistir ao barbarismo.

         A muito se atribui ao iluminismo o momento em que o homem perdeu o manto da superstição, deixando de lado a fé, e alcançando um lugar de observador e crítico da natureza, iluminando-se com o conhecimento de tudo que estava ao alcance da curiosidade e imaginação. Entretanto, historiadores modernos escreveram sobre investigações que mostravam que era medieval não se chama a idade das trevas por acaso. Aprendemos com eles e com os livros didáticos que no período que durou toda a idade média, o homem viveu na mais profunda ignorância. Aprendemos que não houve produção intelectual séria e que a ciência não teve nenhum impulso que colocasse a humanidade em direção ao progresso. Na Europa, isso era ainda mais profundo, posto que a civilização ocidental vivia quase que sob o domínio da Igreja Católica. Ora, nada mais distante da verdade na visão de Dawson, pois ele mostra que a idade média foi sim uma era de iluminação. A escolástica criou as condições para que a ciência e a razão florescessem, sem essas condições o iluminismo não teria existido. Dawson mostra que neste período dezenas de universidades se espalharam pela Europa. Que muitas bibliotecas guardam grandes clássicos sobre política, filosofia e história, bem como importantes trabalhos de Aristóteles foram transcritos para o latim. Para Dawson graças às universidades medievais é que a cultura ocidental florescerá. Para Dawson, não se pode chamar a idade média da era da ignorância um período que foi responsável pela fundação das mais importantes universidades do mundo como as universidades de Bolonha, Paris, Oxford. O que para alguns foi a idade média a era da escuridão, Dawson demonstra que a disciplina intelectual escolástica foi responsável pelo florescimento da razão, com destaque para os estudos de São Tomás de Aquino e a grande contribuição que o pensamento aristotélico trouxe para aquela era, bem como nasce neste período o interesse pelas investigações científicas que se expandiu muito com as universidades medievais que formariam homens empenhados em compreender os mistérios do mundo físico, mas sem esquecer de cuidar das coisas da fé, de maneira que Dawson acreditava que, “a história da Europa é a história de uma série de renascimentos de florescimento, espirituais e intelectuais, que emergiram de forma independente, geralmente sob fortes influências religiosas e que foram transmitidos por processos de livre comunicação. Durante o início do período medieval, foram as ordens monásticas o órgão central desse processo”. Por tudo isso, o autor afirma que o desenvolvimento social e filosófico da idade moderna colheu dos escolásticos as sementes que inspirariam as grandes criações do intelecto a qual deve a civilização ocidental todas as suas conquistas.