A Abolição do Homem é considerada a mais importante obra do escritor irlandês C.S Lewis. Nela Lewis se insurgi contra a sociedade que busca reconhecimento através da ciência e da razão e que ver nessas noções o único destino da sociedade. Ele se opõe a uma sociedade unicamente utilitarista e racionalista, onde o conhecimento científico é mais importante que a ética e a moral. Desta maneira Lewis, A Abolição do Homem é uma crítica sobre a natureza tecnicista da Educação Moderna, onde ele retrata a ineficácia do sistema na formação da pessoa moral e ética; em que os alunos são autômatos com o propósito único de atender a uma sociedade do consumo.

   Lewis critica o sistema educacional da sua época na medida em que este é usado para transformar alunos em técnicos especializados e com pouco ou nenhum senso crítico da realidade objetiva. Com efeito, Lewis defende uma educação mais voltada para a moralidade e para a formação do ser humano ético, consciente em sua plenitude. Entretanto, embora Lewis não se coloque como opositor do conhecimento científico, reconhece inclusive a sua importância, ele se posicionou com veemência contra os excessos da educação moderna calcada apenas nos objetivos racionais e utilitaristas.

   Para Lewis, o sistema de educação ideal deve colocar o aluno em contato com a realidade objetiva, dando-lhe a oportunidade de aprimorar o senso crítico sobre si próprio e sobre a sociedade. O jovem deve ter plena consciência da realidade vivenciada e das experiências extraídas do mundo. A educação, observa Lewis, serve como instrumento para criação de indivíduos moral e eticamente inseridos na sociedade como guardiões dos seus valores. 

   É neste sentido que Lewis constrói a narrativa do Livro Verde no qual ele vai refletir sobre a educação como elemento desumanizador no sentido moral e ético. Nessa história, Lewis mostra em diversas passagens que as escolas, longe de formarem seres humanos morais, fazem nascer autômatos cujo único objetivo transcende qualquer ideia de grandiosidade de espírito é valores. A educação deve ter na concepção de Lewis um papel fundamental: que é formar homens e mulheres com a argila da moralidade, mas não uma moral vulgar, mas aquela que nos lança num voo para a solidificação do espírito. 

    Não é para menos que Abolição do Homem comece com uma crítica a qualquer sistema de educação que não busque a emancipação do homem através da ética e da moralidade. Esse tipo de coisa, típico da sociedade moderna, cobrará um preço muito alto, uma vez que uma sociedade sem ética, sem moral não verá nascer grandes espíritos. Nos dizeres de Lewis sobre a educação, “para cada aluno meu que precisa ser protegido contra um leve excesso de sensibilidade, há três que precisam ser despertos do sono da fria vulgaridade. A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos. A defesa certa contra sentimentalismos falaciosos é incutir sentimentos corretos. Quando ajudamos a sensibilidade dos nossos jovens a morrer de inanição, o que fazemos é só torná-los presas mais fáceis do propagandista. Pois a natureza faminta será vingada e um coração duro não é proteção infalível contra a insensatez.”

   Na filosofia chinesa o Tao significa caminho, doutrina, princípio. Em suas reflexões Lewis ressalta “nenhuma emoção é, em si mesma, um juízo; nesse sentido, todas as emoções e sentimentos são alógicas, mas elas podem ser racionais ou irracionais quando se conformam ou deixam de se conformar à razão. O coração nunca toma o lugar da mente; mas ele pode, e deve, obedecê-la”. A Abolição do Homem busca a orientação do indivíduo por um caminho, ou Tao, que representa a sua emancipação como homens e mulheres espirituais num contexto político-filosófico na defesa das verdades universais.

   O caminho que trilhamos, na concepção de Lewis, é a antítese do Tao, o oposto da direção que faz os homens e mulheres pensantes. O homem no seu sentido histórico avança a passos largos nos caminhos da ciência, mas claramente, regride ético e moralmente, afinal o que de grandioso foi realmente criado nos últimos dois séculos no âmbito da moralidade? Nada. Regredimos.

   Em síntese, A Abolição do Homem mostra que hoje, ainda mais que ontem, as reflexões de Lewis têm um significado profético. O homem pleno, formado desde a infância nos valores morais e éticos não se mostra presente nos dias atuais. Estamos tomado por mais técnicas utilitaristas e vivemos sob o domínio da ciência. Somos constantemente ameaçados pelas nossas criações. O criador teme a criatura e dela se torna escravo. Somos seres de carne e ciência, razão e objetivos, mas sem moralidade. A Abolição do Homem nos leva a repensar a visão que temos da realidade e aceitar que cada vez mais nos libertamos da nossa humanidade pela escravidão dos nossos desejos.

 

Reflexões

Ao chegar à idade do pensamento reflexivo, o aluno que foi assim treinado em “afeições ordenadas” ou “sentimentos justos” terá facilidade em descobrir os primeiros princípios da Ética; mas, para o homem corrupto, tais princípios jamais serão visíveis e ele não poderá ter progresso algum nessa ciência. Platão disse o mesmo antes dele.

Os chineses também falam de uma coisa grandiosa (a maior de todas) chamada Tao. Trata-se da realidade que vai além de todas as situações, o abismo que havia antes do próprio Criador. Trata-se da Natureza, do Caminho, da Estrada, da Via. Trata-se do Caminho pelo qual o universo caminha, do qual emergem as coisas de forma eterna, silenciosa e tranquila para o espaço e o tempo. Trata-se também da Via que todo homem deve trilhar, imitando o progresso cósmico e supercósmico, conformando todas as atividades àquele grande exemplar.

Sentimento-Magnanimidade-Peito — esses são os oficiais da relação amorosa entre o homem cerebral e o visceral, pois pelo intelecto ele é simples espírito e por seu apetite, mero animal.

Criamos os homens sem peito e esperamos deles a virtude e a iniciativa. Zombamos da honra e ficamos chocados ao encontrar traidores em nosso meio. Nós os castramos e exigimos dos castrados que sejam frutíferos.

 

C.S. Lewis