Em sua obra Democracia e Liderança Irving Babbitt crítica à visão socialista dominante na sociedade ocidental do século XX que ele considerava amoral, cientificista e utilitarista. Da perspectiva da cosmovisão conservadora, o livro  é uma crítica a democracia moderna e aos os problemas de liderança política na sociedade ocidental. Para Babbitt, a formação de líderes pautados na ética e na moral é fundamental para a democracia. Na concepção de Babbitt o líder deve ser virtuoso e capaz de conduzir a nação com sabedoria e prudência. Para isso, Babbitt enfatiza que o líder deve possuir valores sólidos que o ajudem a tomar decisões racionais e morais. O seu pensamento político é também uma crítica ao individualismo e ao relativismo, tão em voga em sua época. Do mesmo modo, Babbitt refuta a perspectiva utilitarista e alerta para os perigos da educação voltada apenas para formar técnicos.

     Irving Babbitt (1865-1933) foi um crítico literário e professor universitário americano, conhecido por seu trabalho na área de humanidades e educação clássica. Ele foi um dos fundadores do movimento humanista americano no início do século XX. Babbitt defendia uma educação clássica que valorizasse a literatura e a cultura ocidentais e que enfatizasse o ensino de valores tradicionais como a moderação, a prudência e a autodisciplina. Ele foi um crítico implacável do progressivismo na educação, argumentando que as ideias progressistas levavam à decadência moral e cultural. O pensamento político de Babbitt teve um forte impacto em seu tempo e foi comentado por muitos pensadores importantes, incluindo T.S. Eliot e C.S. Lewis. No entanto, suas ideias foram amplamente contestadas pelos críticos literários e educadores mais progressistas, que argumentaram que sua ênfase na tradição e na autoridade limitava a criatividade e a liberdade individual.

     Em “Os Tipos de Pensamento Político”, capítulo em que Babbitt analisa o absolutismo monárquico e o sistema parlamentar de governo e a relação com a vontade popular, ele observa que as regras da moralidade comum podem estar presentes nas relações entre homens, mas desempenham papel apenas secundário nas relações entre Estados; o que prevalece nessas últimas é a lei da esperteza e a lei da força. O homem é um animal moral, mas ao seu turno o Estado não é. Quando o homem ingressa no Estado com este se confunde assumindo deste o caráter amoral. Por outro lado, a democracia exerce uma forte influência sobre os homens de governo, não no sentido literal do significado da democracia, mas como subterfúgios para as suas ações e privilégios. 

     A democracia sem freios pode em certo sentido ser pior que o absolutismo, que na linguagem política atual podemos chamar de totalitarismo. Nascem desse pensamento as inclinações de Babbitt para o argumento do governo aristocrático. Ele assegura que no cômputo final, o único freio contra os males da democracia ilimitada será encontrado no reconhecimento de alguma forma de princípio aristocrático. Platão via na democracia a oportunidade para o despotismo. O homem político deve sempre estar à altura do seu cargo político. Para isso ele precisa ser virtuoso e prudente, pois a ideia de governar para a maioria pode parecer um contrassenso. Como governar para a maioria sem ser injusto com a outra parte é um dos maiores desafios da democracia representativa.

     Um líder que defende a democracia em sua plenitude, entenda-se aqui satisfazer as necessidades de todos indistintamente, deverá ter um espírito de solidariedade universal capaz de enxergar a necessidade de todos do ponto de vista social e moral. Esse líder é um humanista no sentido estrito da palavra. Babbitt acredita que um líder deve chegar nas profundezas daqueles que ele governa e representá-los como o líder moralmente capaz. Para ser genuinamente religioso ou humanista, é necessário que exista, seja na forma de graça divina, seja de livre opção moral, um poder no coração do indivíduo que o eleve acima da natureza física, observa Babbitt. Longe deve estar dos olhos do líder humanista o autoritarismo, o despotismo e toda a sorte de vícios que distorcem e maculam a democracia.

     O problema que permeia a democracia e a liderança infelizmente não arrefeceu com a evolução da sociedade. O problema de identidade da democracia era evidente nos tempos de Platão, foi no tempo de Babbitt e continua sendo nos tempos atuais. A democracia em nossos dias se confunde com o autoritarismo. Basta observar governos na América Latina, no continente africano e em alguns países asiáticos para se constatar o farto uso da palavra democracia que longe está do seu significado mais nobre, que é dar ao povo o poder de governar. Para Babbitt, “no longo prazo, a democracia será julgada, tal qual outras formas de governo, pela qualidade de seus líderes, a qual, por sua vez, dependerá da qualidade de suas visões”. Porém, a realidade mostra que cada vez mais a demagogia faz parte da vida desses líderes. Disso decorre que do surgimento de líderes que tenham recuperado de algum modo as verdades da vida interior e repudiado os erros do naturalismo pode depender a própria sobrevivência da civilização ocidental, argumenta Babbit. Há uma crise na democracia. Ela é séria. Todo o sistema aproxima-se do seu declínio.

    Por fim, a reflexão que se pode fazer a partir de Democracia e Liderança é que é necessário buscar o equilíbrio entre o poder e a liberdade na democracia, pois conforme argumenta Babbitt, a democracia moderna tem dado ênfase excessiva à liberdade individual, em detrimento do poder e da autoridade. Por sua vez, a autoridade carece de uma legitimidade moral. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre a liberdade individual e a autoridade moral de maneira garantir a estabilidade e a prosperidade da sociedade.

 

Os líderes podem variar em qualidade, desde o homem que é tão leal aos padrões sólidos que inspira a conduta correta nos outros pela estrita correção de seu exemplo até o homem em nada superior à lei da astúcia e à lei da força, e assim é, no sentido que procurei definir, imperialista. (Babbit)

Deve-se, por tanto, para o bem da própria democracia, procurar substituir a doutrina dos direitos do homem pela do homem direito. (Babbit)

As mudanças significativas, particularmente em nossa própria têmpera nacional, devem-se, afinal, ao fato de o cristianismo protestante, de modo específico ao da forma puritana, vir cedendo espaço para o humanitarismo. (Babbit)

A enorme quantidade de leis que temos aprovado é uma das muitas provas de que caminhamos cada vez mais para a ilegalidade. (Babbit)

Uma democracia, o observador realista é forçado a concluir, é provavelmente idealista nos sentimentos a seu próprio respeito, mas imperialista em sua prática. (Babbit)

A marca registrada do materialismo, que é a de encarar a propriedade não como meio para determinado fim mas como um fim em si mesma, está mais e mais visível. (Babbit)

Pode-se sintetizar aquilo que parece ser nossa inclinação total no presente dizendo que caminhamos através de uma orgia de legalismo humanitarista na direção de um imperialismo decadente. (Babbit)