Na década de 40 a 60, anos que fazem parte da era dos extremos, na análise do renomado historiador britânico Eric Hobsbawm, milhões de seres humanos foram vítimas do totalitarismo. Se fossem colocados em livros, os relatos das vítimas do comunismo, do fascismo e do nazismo dariam um livro sobre a tragédia humana composto por milhares de grossos volumes. Muitas vítimas registraram em livros seus indizíveis sofrimentos diante da desumanidade, como Primo Levi, autor de um dos mais tristes relatos das vítimas do Holocausto.

Nessas circunstâncias, se encaixa a história de Ting-Xing Ye, a número 4, assim chamada pelo costume chinês de enumerar os filhos, cuja vida de horror retrata bem a história de milhões de chineses que, como ela, foram vítimas do totalitarismo que, sob a ideologia comunista, causou o maior genocídio da história humana. Em seu livro “Meu nome é número 4”, a própria protagonista narra como é viver e morrer sob regimes políticos onde a vida nada vale.

Ting-Xing Ye tinha 16 anos quando foi arrancada de sua família pela Guarda Vermelha de Mao Tsé Tung durante a famigerada Revolução Cultural Chinesa. Seu único erro foi nascer em uma família de capitalistas, ou seja, estava sendo punida por suas origens, pois eram considerados inimigos do povo e lacaios de Chiang Kai-Shek, de acordo com os critérios da polícia política de Mao. O que as páginas do livro demonstram é repugnante e revoltante: seres humanos torturados e assassinados, cujo único crime era não colaborar e não se submeter ao regime de Mao.

Os monstros do passado tendem a retornar, pois a história é cíclica e, por vezes, tende a se repetir, frequentemente revivendo seus episódios mais funestos. Atualmente, bastou a justa reação de Israel ao ataque covarde do Hamas à população civil israelense, vitimando 1.400 pessoas e sequestrando outras 200, para que os judeus em algumas partes do mundo voltassem a ter seus estabelecimentos marcados, semelhante ao que foi feito na Alemanha nazista, onde os judeus eram identificados para perseguição e morte. Isso não é mera coincidência.