Atualmente, o antissionismo e o antissemitismo se encontram em evidência com a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. O antissionismo se manifesta como a reação política que se opõe ao sionismo, uma corrente judaica que propugna pela instauração e preservação do Estado de Israel, fundamentado na percepção de que a comunidade judaica carece de uma identidade nacional, seja por motivos políticos, religiosos ou territoriais. O antissionismo suscita divisões entre os eruditos israelitas, assim como acalorados debates entre intelectuais, acadêmicos e políticos, criando ressonância tanto na esfera política de esquerda quanto de direita ao redor do globo. Manifestamente, sua antítese é representada pelo antissionismo. Diversos intelectuais judaicos, ou de ascendência judaica, manifestaram desde então sua posição antissionista, destacando-se pensadores controversos como Shlomo Sand, cuja obra “A Invenção do Povo Judeu” realiza uma crítica contundente ao sionismo.

No âmago das comunidades intelectuais judaicas, nunca houve consenso acerca da imperatividade da criação do Estado de Israel. Entre suas distintas correntes, subsistem grupos que respaldam tal concepção e outros que a repudiam. Para alguns pensadores, a fundação do Estado de Israel remonta a uma ideia milenar, firmada quando Deus pactuou com Abraão, prometendo-lhe uma multiplicação de sua descendência. Destarte, a reivindicação do povo judeu por um território próprio e a busca por uma identidade nacional revelam-se plenamente justificadas, porém com profundas implicações políticas e religiosas que vem se desdobrando em conflitos de visões com graves consequências para todas as nações, sobretudo para os israelitas. Em contraposição, correntes opositoras consideram essa ideia uma questão meramente política, desvinculada da ortodoxia judaica. Em síntese, a questão judaica sempre ocupou um lugar proeminente nos grandes temas da humanidade, incitando conflitos de naturezas diversas e fomentando, em diferentes graus, o preconceito contra os judeus.

Por outro lado, a criação do Estado palestino, conforme estabelecido pela resolução da ONU em 1947/1948 que culminou na fundação do Estado de Israel, é veementemente contestada pelos palestinos e pela maioria da comunidade árabe pelo entendimento de que isso daria legitimidade ao Estado de Israel. Neste contexto, a faixa de Gaza, territorialmente contígua a Israel, com seus dois milhões de habitantes atualmente governados pelo Hamas, representa o ponto de conflito entre israelita e palestinos desde então.

Não há protagonistas incontaminados nessa contenda, conforme atesta a história. Contudo, a mesma história revela quais das partes têm maior justificação nessa trama sangrenta. A narrativa do povo judeu entrelaça-se, em alguns aspectos, com a história do povo árabe, originando-se ambos em Abraão, figura central para os seguidores das três religiões monoteístas — judaísmo, islamismo e cristianismo.

O conflito milenar entre esses dois povos tem origens na serva egípcia Agar, que concebeu um filho, Ismael, com Abraão antes do estabelecimento da aliança com Deus. Após o nascimento de Isaque, filho de Abraão e Sara, diversos desentendimentos entre Sara e Agar culminaram na expulsão desta e de Ismael da comunidade de Abraão. Após vagarem pelo deserto, revelam as Escrituras Sagradas que Deus interveio em favor de ambos, tornando Ismael e Agar líderes poderosos, dando origem ao povo árabe. Desde então, judeus e árabes mantêm uma relação antagônica, resultando em conflitos ao longo dos séculos, muitas vezes letais para ambas as partes.

Dessa forma, compreende-se a periculosidade de construir argumentos superficiais na tentativa de elucidar o conflito entre judeus e palestinos. Todos os argumentos e justificativas perdem sua força diante do terrorismo praticado por grupos como o Hamas, Hezbollah e Estado Islâmico, sob a alegação de reparação histórica. Analisando objetivamente a questão judaica e palestina, pelo menos com base na história desse conflito, é difícil prever um desfecho pacífico por meio do diálogo. Como a ex -primeira-ministra de Israel Golda Meir comentou: “Se os palestinos abaixarem as armas, a paz se estabelece. Se os israelitas abaixarem as armas, Israel deixa de existir.”