Em seu opúsculo “Comunismo, o Ópio do Povo”, o Monsenhor Fulton J. Sheen faz uma contundente crítica ao comunismo contrapondo-se à expressão “a religião é o ópio do povo”, proferida por Karl Marx, cuja origem se encontra na monumental obra “Crítica da Filosofia do Direito” de Hegel. Na concepção do Monsenhor Sheen a narrativa por trás de tal expressão tem o propósito de enganar. Para o autor, o comunismo “tem acusado a religião de ser o ópio do povo, para encobrir o fato de ser o próprio comunismo o ópio do povo (p.42)”.

É sabido que o marxismo é inimigo mortal da religião, sobretudo a cristã, uma vez que o Monsenhor Sheen está defendendo especificamente a religião católica. Deste pensamento pode se concluir que o comunismo, devido ao seu caráter messiânico, assim como o marxismo que lhe dá sustentação ideológica, é um sistema religioso que prega o ateísmo com uma exceção: a crença absoluta no Partido, daí o ser um dos propósitos do comunismo a implantação de sociedades ateias. 

Sendo o comunismo uma “religião” que prega o fim das religiões, automaticamente elimina por consequência qualquer ideia de liberdade religiosa, uma vez que o comunismo se torna a religião mundial. Nesta perspectiva, a presente obra do Monsenhor Sheen apresenta a sua crítica ao comunismo e sai em defesa da religião, especificamente a católica. 

Face a este raciocínio, claro está que o comunismo é a antítese das liberdades individuais, uma vez que representa a manifestação da utopia igualitária coletivista, caracterizando-o como um sistema que escraviza e oprime. Neste sentido, Monsenhor Fulton Sheen destaca que: “Negar o espírito é negar a liberdade, negar a liberdade é arruinar a atividade criadora do homem — e tal é a essência do Comunismo (p.40)”.

Na crítica da presente obra, as falácias acerca das promessas do comunismo são expostas, segundo a percepção do eminente padre: “Singular espécie de paraíso esse, que é inaugurado pelo morticínio, pelo exílio e pelo confisco; estranha espécie de paraíso esse, que espera estabelecer a fraternidade pregando a luta de classes, e estabelecer a paz praticando a violência (pp45-46)”. 

Com efeito, a narrativa de que o comunismo é o caminho para o paraíso na terra paira sobre a mente dos “esclarecidos”, numa nota clara de dissonância cognitiva, que nega a realidade, criando “resistências” para anular quaisquer argumentos que sejam capazes de demovê-los dessa visão utópica. “Na concepção dos esclarecidos” se o comunismo não deu certo até o presente momento, a culpa não é da doutrina comunista, mas daqueles que a compreenderam, mas se desviaram dos seus princípios básicos.

A leitura do livro “Comunismo, o Ópio do Povo” nos remete à reflexão sobre diversos pontos da abordagem do Monsenhor Sheen contidas na magna obra “O Ópio dos Intelectuais” de Raymond Aron, um crítico ferrenho do marxismo, ao advertir sobre a tendência de muitos intelectuais de apoiar movimentos políticos totalitários, em particular o comunismo. Aron argumenta que os intelectuais muitas vezes se deixam seduzir por ideologias utópicas ignorando a realidade política e social.