TS Eliot (1888―1965) é conhecido como um dos mais importantes escritores do século 20. Seus poemas e romances são obras de uma mente brilhante e profundamente centrada no seu tempo. Homem de profunda formação Cristã, nunca foi seu forte escrever sobre política e religião, segundo constam nos anais da crítica especializadas. Entretanto, quando resolvera escrever o fez com tal rigor investigativo que o produto da sua brilhante mente foi a fabulosa obra A Ideia de uma Sociedade Cristã, que contêm a sua visão acerca da religião cristã e a formação da sociedade cristã. Dessarte, o seu ensaio A ideia de uma Sociedade Cristã não é uma obra sobre teologia, mas reflexões acerca da importância da criação de uma sociedade cristã, bem como uma preposição para encontrar os meios sobre os quais seria possível a realização de uma sociedade Cristã. 

Segundo o T.S. Eliot, diferente da ideia de comunidade de cristãos, a proposta de uma sociedade cristã apoia-se sobre a ideia de irradiar o espírito e a filosofia cristã de maneira global de tal maneira que mais que uma comunidade, esta se apresenta como um espaço territorial e espiritual. Logo há nas ideias de T.S. Eliot, uma distinção entre sociedade cristã e comunidade de cristãos: a primeira constitui uma sociedade que tem a consciência cristã que se enraíza na sociedade de maneira homogênea, fazendo parte de todos os seus aspectos, enquanto a segunda, parte apenas do próprio indivíduo que compromissado com a sua fé mergulha no individualismo das comunidade. Ele questiona “em que sentido podemos falar de um Estado Cristão. Se é que podemos, peço que me permitam usar as seguintes funções operacionais do Estado Cristão: a comunidade cristã e a comunidade de cristãos como elementos da sociedade Cristã”.

Para TS Eliot , a ideia de uma sociedade cristã para o indivíduo é uma questão fundamental de pensamento e não de sentimento. Assim ele alerta que devemos tratar o cristianismo com mais respeito intelectual. De outro modo, ele sugere que as bases para a sociedade cristã sejam moldadas racionalmente sobre os aspectos políticos. Não que ele anseie por um retorno aos tempos dos reis escolhidos pelos deuses, mas que os princípios cristãos de amor, trabalho e Deus estejam sempre nas pautas das discussões mais importantes. Caso contrário, comenta TS Eliot: “A outra opção é aceitar o mundo moderno como é e simplesmente tentar adaptar os ideais cristãos a ele esta última esta última de sol visse em uma mera doutrina da consciência que é uma capitulação da fé que o cristianismo em si possa ter qualquer papel na modelagem das formas sociais e ela não requer uma atitude cristã para perceber que o moderno sistema social tem muita esse de inerentemente mau”.

Educação cristã

A educação cristã, para TS Eliot, é o começo da formação da sociedade. Ela não é o único fator, mas TS Eliot dá uma atenção especial a ela. A educação cumpre o objetivo de dar ao indivíduo os meios para sua formação humana baseada na moralidade e fé cristã. Isto não significa, esclarece TS Eliot, que os estudos e saberes científicos ou de qualquer área não Cristã, mas complementar a ela,  não deva fazer parte da educação cristã em si. Ele explica que a realização material e espiritual do indivíduo repousa sobre a Fé cristã. Porém, para formação de uma sociedade cristã é necessário ultrapassar a barreira da meditação, da prática do bem, e pensar a sociedade cristã do ponto de vista histórico e político. 

Para TS Eliot, o humanismo, cuja fonte é o próprio cristianismo, por si só não oferece como forma de educação as condições necessárias para a formação da sociedade cristã. Ele argumenta ainda que a igreja não é mais indicada no papel da formação  da mentalidade cristã. Ela perdeu a capacidade de influência na vida da sociedade devido a sua história que neste  sentido a condena. Além disso, há um fator que tem um significado negativo  para o objetivo: a igreja como um organismo de poder pode ter atitude  totalitária ao se colocar à  frente da educação. Isso já aconteceu antes sob o peso da injustiça, despotismo e corrupção.

Em meio ao caos global

Quando Elliot escreveu sobre A Ideia de uma Sociedade Cristã, eram tempos difíceis. Fruto das suas conferências, ele a escreveu no trágico momento da humanidade, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial. Tanto mais que havia emergência por respostas que explicassem porque a humanidade atingira aquele estado de coisas. Além do mais, TS Eliot restringe as suas ideias à sociedade britânica, portanto a ideia de uma sociedade Cristã tinha como palco um dos mais tristes episódios da história humana. Neste sentido, explica-se, em parte, e até mesmo justifica-se, a busca por uma sociedade Cristã que traria respostas para o sofrimento e a paz para as nações, sobretudo para a Inglaterra.

As duas guerras mundiais marcaram profundamente a humanidade. Os homens de espíritos desse período clamavam pela paz. Sendo assim, TS Eliot via na sociedade cristã a forma da humanidade viver em paz. Ora, TS Eliot viveu também a guerra fria, quando o mundo apreensivo aguardava a qualquer momento a eclosão da terceira guerra mundial, agora com armas  nucleares que poderiam destruir a humanidade por completo. Deste modo, sendo um cristão e poeta, tomado pela mais profunda sensibilidade sobre os fatos do seu tempo, vislumbra um futuro terrível para as  próximas gerações. Um cenário apocalíptico. 

Uma sociedade cristã na Inglaterra parecia a TS Eliot a alternativa mais viável, pois num mundo destroçado por duas grandes guerras nunca antes imaginada pela mente dos historiadores e romancistas, a religião, mais especificamente, o cristianismo poderia ser, mais uma vez, a salvação para a humanidade.

A sociedade Cristã na atualidade, se fosse possível

Atualmente, segundo o Wikipédia, existem mais de 2,3 bilhões de cristãos no mundo. Com efeito, este é um fato fora de série, considerando que tudo começou há 2.000 anos num local que não estava entre as cidades mais importantes sob o domínio de Roma e com um grupo tão pequeno que os historiadores têm dificuldades em juntar provas dos fatos a respeito do cristianismo primitivo. Em outras palavras, a onda cristã tinha tudo para não passar de um um movimento a morrer na sua incipiência. Entretanto, sob a luz do Messias, o que se viu foi uma expansão nunca vista de uma religião que cresceu e transformou o mundo. Entretanto, o cristianismo passou por várias reformas ao longo deste tempo e que resultou em divisões e dissensões. Embora a reforma protestante tenha causado sérias mudanças no seio da Igreja Católica e por séculos tenha sido a guardiã dos cristão, ela sofreu um abalo visceral em seus alicerces quando o insurgente Martinho Lutero (1483―1546) declarou guerra a Igreja e afixou, em 1517, suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Nascia a Reforma Protestante e com ela o maior trauma que a Igreja já suportou desde a sua fundação. Entretanto, foi no Iluminismo que a Igreja Católica e o absolutismo sofreram um ataque direto às suas bases e consequentemente a todos os cristãos existentes.

Com o advento do iluminismo  a relação do homem, Estado, Igreja e Deus não era mais a mesma. O absolutismo enfraquecera e os reis começaram a conhecer a guilhotina; a ciência e a razão são a nova religião dos novos tempos, e a tudo ousa explicar, teorizar, conceituar; enquanto o homem, antes que vivam as superstições da sua época, agora ocupava o centro de tudo. Para os pensadores iluministas, de fato e de direito, o homem passou a ser a medida de todas as coisas. Portanto, não havia porque se submeter aos caprichos da Igreja e Deus não ficou desacreditado perante os iluministas, mas não era mais um deus pessoal e sim uma deidade universal que criará magnificamente o universo e agora descansava eternamente. 

Entretanto, era necessário questioná-Lo e combater a religião que agora era vista pelos iluministas no campo da superstição. Para que as novas relações entre o homem e o Estado fossem escritas tendo como base o racionalismo da época era necessário a separação entre Igreja e Estado. Nascia assim o secularismo e o poder cruzado era coisa do passado. Essa grande onda transformadora não arrefeceu desde então. Avançou inexoravelmente pelos séculos com sangue e conquista. Então é necessário perguntar se na atualidade, faz algum sentido a ideia de se construir uma sociedade Cristã imaginada por TS Eliot? Antes de tentar responder a esta questão é preciso refletir sobre a condição atual das religiões no mundo, principalmente as religiões de matriz cristã. 

Primeiro é preciso ter consciência de que as coisas pioraram muito desde a época em que TS Eliot escreveu A Ideia de uma Sociedade Cristã. Hoje, há um elemento que o autor não previra em sua obra. Trata-se do movimento global para a criação de uma religião mundial, objeto da Nova Ordem Mundial. Mas, essa religião de matriz materialista e científica longe está de ser uma religião dotada de um Deus abraâmico ou de qualquer outro deus mitológico. Contrariamente, ela é uma nova religião que reconhece apenas um deus: o Estado Único.

Em seu livro Uma Religião Sem Deus, o Sul-Africano Jean-Marc Berthoud denuncia a estratégia dos grandes órgãos mundiais como ONU, OCDE, aliados aos tecnocratas e bilionários visionários com as suas poderosas  fundações para acabarem com as religiões, sobretudo aquelas de matriz cristã e, em seu lugar, erigir uma nova religião sob os pilares do novo iluminismo (alta tecnologia, ideologia de gênero etc, Estado único, Religião Mundial, fim das tradições e instituições como família). Segundo o autor, este plano visa tão-somente trazer para a sociedade humana profundas transformações eliminando a religião, as instituições seculares, os costumes e tradições e questiona: “o que significa fazer dos direitos humanos os substitutos da lei de Deus, como fonte, fundamento, norma e propósito de vida dos homens em sociedade?”. 

Do mesmo modo, as escritoras Eugenia Roccelia e Lucetta Scaraffia denunciam em seu livro Contra o Cristianismo como a ONU e a União Europeia estão unidas construindo uma nova ideologia no lugar das religiões cristãs. O mais grave é que a corrosão do cristianismo está ocorrendo dentro da própria igreja, principalmente na Igreja Católica,  conforme expõe Monsenhor Marcel Lefebvre em seu livro Do liberalismo à Apostasia. Sendo assim o cristianismo é um imenso desafio para a implantação da religião mundial que apesar de tudo, ainda é  uma considerável barreira, pois reside na crença e fé dos seus fiéis o maior obstáculo para a germinação de um Estado Único e sua Nova Ordem Mundial. Desta maneira podemos pensar que os desafios para implantar uma sociedade cristã no modelo proposto por TS Eliot são  gigantescos, pois os opositores extremamente poderosos e articulados politicamente com tentáculos em todo o mundo ocidental, avança a passos largos em direção ao objetivo. De onde podemos concluir que hoje a ideia de TS Eliot estaria no imaginário apenas, seria uma utopia.

Uma das armas que há muito tempo os defensores da Nova Ordem Mundial estão  usando com eficiência para a realização do seu projeto é o controle da educação. É  a partir da educação básica até a formação acadêmica, sob a tutela do e Estado, que o processo de ideologização das jovens mentes se inicia. As mentes das crianças são tábulas rasas que sistematicamente serão  preenchidas com informações que estarão sempre de acordo às prerrogativas estatais. Assim, essas crianças se tornarão adultos que pensarão que as suas ideias lhes pertencem e que elas estão transformando o mundo. Ledo engano. São apenas marionetes nas mãos de poderosos burocratas e tecnocratas que, por sua vez, estão a serviço de uma sociedade oculta chamada a Nova Ordem Mundial. 

No seu livro Quem Controla a Escola Governa o Mundo o mestre em Teologia Gary DeMar expõe como as poderosas instituições mundiais buscam o poder através do controle dos sistemas educacionais. De maneira mais contundente e munida de um imenso acervo comprobatório é a denúncia que o jornalista Pascal Bernardin faz contra instituições como a OCDE, Unesco entre outros  organismos governamentais mundiais em seu livro Maquiavel Pedagogo. Diz o comentado autor: “Essa revolução pedagógica visa a impor uma ética voltada para a criação de uma nova sociedade e a estabelecer uma sociedade intercultural. À nova ética não é outra coisa senão uma sofisticada reapresentação da utopia comunista. O estudo dos documentos em que tal ética está definida não deixa margem a qualquer dúvida: sob o manto da ética, e sustentada por uma retórica e por uma dialética frequentemente notáveis, encontra-se a ideologia comunista, da qual apenas a aparência e os modos de ação foram modificados. A partir de uma mudança de valores, de uma modificação das atitudes e dos comportamentos, bem como de uma manipulação da cultura, pretende-se levar a cabo a revolução psicológica e, ulteriormente, a revolução social. Essa nova ética faz hoje parte dos programas escolares da França, e é rigorosamente ensinada em todos os níveis educacionais”. Fazendo um adendo à denúncia do autor, hoje, esta é a realidade no mundo ocidental. 

No Brasil, que nunca teve um sistema educacional satisfatório, destruiu completamente a educação escolar ao adotar o método do educador Paulo Freire. Os exames do Pisa são a prova desta triste realidade. O Brasil nunca esteve tão ruim em proficiência em português e matemática, disciplinas básicas e obrigatórias em qualquer sistema educacional, sem as quais é inútil qualquer método de educação. Isso é o produto resultante de ideologias inseridas nas tábulas rasas no lugar de conhecimento puro e disciplinar. TS Eliot explica  que “em uma sociedade Cristã a educação deve ser religiosa não no sentido de que ela exercer a pressão ou tentar a instruir a todos em Teologia mas no sentido de que seus objetivos serão dirigidos a uma Filosofia de vida cristã” e, continuando, finaliza: “uma educação cristã treinaria as pessoas principalmente para que fossem capazes de pensar em categorias cristãs embora ela não possa forçar a criança e não implore a necessidade de uma profissão que cresça insincera”.